Comunistas discutem ligação aos trabalhadores nas empresas

Balanço positivo

Com muita audácia, descobrindo novas formas de intervenção ou retomando práticas da luta contra a ditadura fascista, os comunistas dão importantes passos no reforço da ligação do Partido aos trabalhadores. Mas importa continuar.

As resoluções do Encontro Nacional do Partido sobre acção e organização nas empresas e locais de trabalho estão a ser cumpridas: a presença dos comunistas junto dos trabalhadores está a reforçar-se. Esta é uma das principais conclusões que se pode tirar da reunião, realizada no passado sábado, com militantes comunistas responsáveis – nas regiões, concelhos e células – pelo acompanhamento a empresas e sectores prioritários.

Um pouco por todo o País, os comunistas passaram a dispensar uma maior atenção à intervenção nas empresas. Com a criação de organismos específicos para o trabalho nas empresas e a consequente responsabilização de quadros, a presença do Partido junto da classe operária e dos trabalhadores tornou-se mais constante.

Exceptuando os grandes baluartes industriais tradicionais, a intervenção do Partido em muitas empresas é recente. Noutras foi retomada, após anos de interrupção. Num e noutro caso foi necessário começar de novo, ou quase.

Numa empresa, cujo exemplo foi trazido por um participante na reunião, a ligação efectuou-se de fora para dentro. Não havia qualquer trabalhador comunista. Após muitas distribuições de propaganda à porta, e das conversas daí decorrentes, foi possível fazer um recrutamento. Hoje são já quatro os comunistas a trabalhar nessa empresa. Uma outra foi de mais fácil entrada. Durante os anos que esteve sem uma efectiva ligação aos organismos locais do Partido, a célula foi reunindo e os camaradas foram discutindo a situação laboral do seu local de trabalho. Hoje a ligação existe e a célula é particularmente activa.

Todo este esforço, que em muitos casos significou autênticas reviravoltas nas organizações concelhias e locais do Partido, teria obrigatoriamente que produzir resultados. E produziu: aumentou-se o número de recrutamentos de trabalhadores e verificou-se um acréscimo da venda do Avante!­ dentro e à porta das empresas. E reforçou-se a consciência social e política dos trabalhadores, bem expresso nas elevadas adesões à greve geral verificadas em praticamente todos os sectores.


Não esperar facilidades


«Este é um trabalho prolongado no tempo, com muitas dificuldades», afirmou um dos presentes. Outro secundou esta afirmação: «Não se deve pensar que isto é fácil, sob pena de se desmoralizar à primeira contrariedade.» Até porque a situação laboral nas empresas não é a mais favorável: trabalhadores que entram e saem de autocarro das instalações, inviabilizando qualquer tipo de contacto; trabalho por turnos que dificulta o contacto entre todos os militantes e destes com os restantes trabalhadores; despedimentos e recurso a empresas de trabalho temporário; repressão e perseguição aos trabalhadores, são apenas algumas das «inovações» patronais.

Mas difícil não rima com impossível, como mostraram muitos dos presentes que partilharam algumas das suas experiências. No caso de uma empresa de Lisboa que trabalha por turnos, os militantes reúnem-se à hora de mudança do turno num restaurante junto às instalações. Outros preferem as conversas individuais em casa dos militantes. Não substitui a reunião, mas sempre vai dando para atribuir tarefas e responsabilidades.

«Pode ser necessário regressar aos métodos da luta contra o fascismo», referiu um outro participante. «Podemos estar perante uma situação em que teremos de voltar a deixar a propaganda na casa-de-banho ou nos cacifos», prosseguiu. Tendo sempre como objectivo a intervenção livre do Partido junto dos trabalhadores, é por vezes necessário começar «às escondidas». Sob pena de a presença do Partido nesse local de trabalho ser efémera. Mais do que o heroísmo individual de um ou outro trabalhador – que pode mesmo ser contraproducente ao servir de exemplo da eficiência da repressão patronal – o importante é estimular a combatividade dos trabalhadores, uni-los e organizá-los. Sobretudo num momento marcado por uma forte ofensiva aos trabalhadores e às suas organizações de classe. «A luta organizada é o caminho», concluiu-se.


Estar ao nível da ofensiva


Muitas vezes o trabalho dos comunistas no interior das empresas tem de ser protegido, feito às escondidas. Em diversos sectores a precariedade é regra e as arbitrariedades patronais são imensas. Se as mais gravosas medidas do pacote laboral forem aprovadas a situação será ainda pior.

Mas numa coisa todos os presentes na reunião estão de acordo: que, não sendo fácil, é possível um PCP mais forte nas empresas e locais de trabalho. E, se dúvidas houvesse, um dos oradores tratou de as desfazer dando a informação de que em 2002 entraram mais de mil e setecentos novos militantes para o Partido, 44 por cento dos quais com menos de 30 anos e que desde 1996 que não se verificava um tão elevado número de inscrições.

Este reforço da organização do Partido nas empresas e locais de trabalho é fundamental para responder à ofensiva do Governo e do patronato contra os direitos dos trabalhadores e das suas organizações, ofensiva esta que ficou mais clara após a fortíssima adesão de um milhão e setecentos mil trabalhadores à greve geral do passado dia 10 de Dezembro. Um militante de Braga contou que, após a greve geral, muitos patrões começaram a perseguir os principais activistas bem como os restantes trabalhadores grevistas. A mulher de um trabalhador grevista foi despedida ao não ver renovado o seu contrato de trabalho. O marido, com vínculo mais estável, conseguiu permanecer na empresa. Alguns dos que aderiram à greve viram ser-lhes activados processos disciplinares antigos, há muito arquivados.

No sector da cerâmica, no norte do País, o ataque é também feroz. Em algumas empresas, os trabalhadores foram forçados a assinar documentos em que consideravam injustificadas as faltas no dia da greve. Outros foram interrogados acerca dos motivos por que não foram trabalhar. Também aqui, caso não fosse possível atingir os activistas ou os grevistas, os patrões não hesitaram em perseguir familiares.

Mas os alvos privilegiados da ira patronal são os dirigentes e activistas sindicais. Na Cerâmica de Valadares, duas delegadas sindicais estão com um processo disciplinar com vista ao despedimento. O motivo invocado é a agressão a outros trabalhadores com vista a impedi-los de trabalhar. A motivação real é outra, bem diferente: afastar os dinamizadores da resistência dos trabalhadores ao seu poder, que pretendem total.

A ofensiva do patronato, aliado ao Governo, encontra barreira na força organizada dos trabalhadores. Força tanto maior quanto maior é o seu grau de consciência social e política. É para a elevação deste grau de consciência e organização que trabalham os comunistas no seio dos trabalhadores. E é esta a melhor maneira de aferir o trabalho realizado pelas células do Partido nas empresas. Outra das formas, mais visível, de «medir» a intervenção partidária nos locais de trabalho é ter em conta o número de exemplares do Avante! que se vendem, bem como os recrutamentos efectuados. E ambos estão a crescer.


No caminho certo


Cumprindo as decisões do XVI Congresso, da Conferência Nacional de Junho e do Encontro Nacional sobre acção e organização nas empresas e locais de trabalho, as organizações do Partido, aos mais variados níveis, levaram a cabo alterações na sua estrutura orgânica e formas de intervenção para dar prioridade ao objectivo de reforçar os laços entre o Partido e os trabalhadores.

E isto foi feito, um pouco por todo o País e os resultados já vão sendo visíveis. Eis algumas das medidas tomadas:

Definição das empresas prioritárias;
Responsabilização de camaradas pelo acompanhamento directo a estas empresas. Se possível, os quadros destacados para esta frente devem ser libertos de outras tarefas;
Criação de organismos de empresas, a nível regional, sectorial e concelhio;
Levantamentos, nas organizações de base local, dos militantes trabalhadores e dos locais em que trabalham.
Este trabalho, iniciado muitas vezes a partir do zero, requer muita imaginação e audácia, pois as formas de intervenção nas empresas alteraram-se bastante nos últimos anos. Para um mais profundo conhecimento da realidade das empresas, fundamental para qualquer intervenção partidária, não devem ser regateados esforços com o objectivo de estabelecer contactos com trabalhadores. Onde não for possível, a articulação e troca de informações com os dirigentes sindicais comunistas assume particular importância.

Os participantes na reunião concluíram também pela necessidade de articulação do trabalho nas empresas e locais de trabalho com a actividade mais geral do Partido, nomeadamente nas instituições. Um militante organizado no sector das pedreiras no norte do País referiu precisamente exemplos do seu sector em que se articulou a luta dos trabalhadores com a acção institucional. O objectivo é antecipar as reformas destes trabalhadores. «São poucos os que chegam em condições aos 65 anos. Ou morrem ou reformam-se antes por invalidez», concluiu.



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