Federação Mundial da Juventude Democrática reunida em Assembleia-geral

Em defesa dos direitos dos jovens

A 16.ª Assembleia-geral da Federação Mundial da Juventude Democrática termina amanhã, em Havana. A propósito, falámos com Aurélio Santos, Luís Cardoso, João Frazão e Margarida Botelho sobre a participação portuguesa na organização ao longo dos tempos.

A Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD) está reunida em Assembleia-geral, na capital cubana, de 4 a 7 de Março. Actualmente, a JCP ocupa uma das vice-presidências da organização e é responsável pelo sector da Europa e América do Norte.

A Federação Mundial da Juventude Democrática sempre se caracterizou por ser uma organização de massas, ampla e unitária, com base democrática e anti-imperialista. Muitas são as associações que nela se enquadram. No total, 107 membros de África, Ásia, Europa e América compõem a FMJD, representando milhões de jovens de todo o mundo. Margarida Botelho, da Direcção da JCP, sublinha a importância da federação e a necessidade de a reforçar no actual quadro político, social e económico: «São necessárias organizações para assumir o carácter da FMJD e o aprofundar e que tenham uma ligação profunda à juventude dos seus países. Se defendemos esta opinião, também temos de assumir as nossas responsabilidades dentro das possibilidades.»

Se os problemas dos jovens se alteram consoante o país onde vivem, essas variações acentuam-se quando passamos para diferentes regiões do globo. «Os problemas mais comuns são a paz, a educação e o emprego. A grande discussão na federação é como se chega lá, qual o papel das organizações anti-imperialistas, que alianças se devem fazer e que lutas assumir», explica a dirigente da JCP.

Associada com às questões da paz e da guerra estão problemas como o imperialismo, a soberania e a auto-determinação dos povos. Mas outros temas se levantam, como a democracia, a liberdade de expressão, os direitos sexuais e reprodutivos, a saúde e a alimentação. «São temas que na Europa já não damos tanto valor, mas todas as organizações africanas e asiáticas colocam a questão da alimentação com muita força. A JMPLA (Angola) propôs recentemente que a fome e a sida fossem temas de campanhas da federação», conta Margarida Botelho.

 

Carácter consequente

 

De facto, o leque de problemas dos jovens é muito variado, mas, como salienta Margarida Botelho, no seio da FMJD consegue-se chegar a consensos que à partida não são óbvios, com a tomada de posições sobre a urgência da extinção da NATO, o desenvolvimento da União Europeia, o Tratado de Bolonha, a Cimeira de Lisboa e o urânio empobrecido.

«A federação é um espaço de aprendizagem, de troca de opiniões e de experiências, com uma intervenção essencialmente política. Sendo uma organização de massas, com um carácter imperialista e composta por organizações consequentes, faz face ao imperialismo diariamente. Procuramos que vá tendo um conteúdo mais concreto. No seu mandato como presidente da FMJD, a Juventude Comunista da Grécia deu um contributo positivo. Durante bombardeamentos à Jugoslávia em 1999, duas delegações de solidariedade visitaram Belgrado. Foi um gesto político importantíssimo. Também foram feitas duas visitas de solidariedade à Palestina», refere Margarida Botelho.

 

Consolidar a FMJD

 

Nos últimos anos, a federação viveu dois acontecimentos importantes: em 1999, realizou-se a 15.ª Assembleia-geral, no Chipre, e, em 2001, o festival da Argélia. «Desde a realização daquela assembleia foram dados passos importantes no alargamento da federação. Hoje, há organizações de quase todos os países nórdicos e estão a ser desenvolvidos contactos com países da Europa de Leste. O Festival da Argélia manteve o carácter anti-imperialista da iniciativa e potenciou a participação dos jovens africanos e a discussão sobre o papel do imperialismo no continente», adianta Margarida Botelho.

Nos últimos anos regista-se igualmente uma tentativa de boicotar as actividades da FMJD e os festivais. Em 1998, diversos governos promovem o Festival Mundial da Juventude na Costa da Caparica, classificado pela federação como um "contra-festivl". Na mesma altura, os secretários de Estado da Juventude ibero-americanos decidem alterar o Dia Mundial da Juventude de 28 de Março para 12 de Agosto, como acusa a dirigente da JCP.

Durante o Festival de 2001, a ofensiva intensificou-se, com inúmeras organizações governamentais a entregar apoios financeiros directos a associações portuguesas que desistissem de se deslocar à Argélia e optassem pelo que se realizou praticamente na mesma data no Panamá.

 

Lutar por Timor dentro da federação

 

João Frazão, um dos representantes da JCP na FMJD entre 1995 e 1998, defende que «o prestígio dos jovens comunistas portugueses dentro da federação se deve à sua ligação ao movimento juvenil, à sua intervenção, coerência e dinâmica e à capacidade de trabalho e criação de pontes de entendimento».

Entre 1989 e 1997, a federação não organizou festivais. Consequência da conjuntura política internacional, este intervalo correspondeu um período difícil da vida da FMJD. A JCP contribuiu decisivamente para o seu relançamento ao organizar em Portugal uma assembleia-geral, em 1995. «O quadro global era muito complicado, mas a assembleia teve um grande êxito. Se hoje a federação se mantém com as suas características, deve bastante ao papel da JCP. Essa assembleia marca o momento de juntar forças e constituir um núcleo que garantisse o futuro da federação», considera João Frazão.

Os encontros da FMJD são sempre marcados por uma grande discussão, inevitável dada a grande diversidade das organizações que compõem a federação. «O debate ideológico – que é profundo em muitos momentos – nunca deixa de estar em cima da mesa. Os resultados das acções da federação mostram que é possível realizar esta interacção», afirma João Frazão.

Luís Cardoso representou a JCP junto da FMJD na década de 80, tendo vivido durante dois anos em Budapeste, cidade sede da organização. Nessa época, as prioridades de acção da federação relacionam-se com a paz e o desarmamento, a luta de libertação dos povos e os direitos da juventude.

Luís Cardoso recorda como era difícil chegar a acordo sobre os problemas que se colocavam. «Só havia um tema fácil de chegar a consenso: a questão do desarmamento e da paz. Tudo o resto, era mais difícil. Por exemplo, a luta de libertação de Timor – sempre introduzida pela JCP – não reuniu consenso», declara.

 

Universalizar a democracia

 

Desde a sua fundação, a FMJD teve um carácter amplo e unitário. Aurélio Santos, membro do MUD Juvenil e actual dirigente do PCP, salienta o «papel histórico desempenhado pela federação na universalização de alguns grande ideais, como a solidariedade, a liberdade e a democracia, generalizando-os a todo o globo».

«A FMJD abriu-se aos jovens da América Latina, da Ásia e de África, povos que tinham sempre estado arredados dos centros de decisão mundial. O seu aparecimento deu ocasião a uma outra mentalidade entre a juventude e abriu outras perspectivas à luta desses povos. Não é por acaso que muitos dos dirigentes dos movimentos de libertação passaram pelas organizações filiadas na federação. Os festivais permitem uma abertura destes ideais às massas», afirma Aurélio Santos.

Os primeiros contactos directos entre o MUD Juvenil e a FMJD datam de 1950. Na segunda assembleia-geral da federação foi aprovado por unanimidade uma moção de solidariedade com a luta dos jovens portugueses, «rompendo o colete que o fascismo tinha estabelecido nas relações dos jovens com o estrangeiro», como diz Aurélio Santos.

Em 1953, uma delegação do MUD Juvenil, integrando jovens das colónias portuguesas, participa no congresso e no terceiro festival da Federação da Juventude. Nele integravam personalidades como Agostinho Neto, Marcelino dos Santos e Vasco Cabral. «No seguimento do debate sobre os povos coloniais, o congresso compreendeu que era necessário uma intervenção autónoma dos jovens das colónias portuguesas e a representação do MUD Juvenil separou-se então nas delegações de Portugal, Angola, Moçambique, Guiné e S. Tomé», recorda.

No regresso a Portugal, o actual dirigente comunista foi detido e julgado, sob a acusação de participar em actividades subversivas. Depois de um ano e meio de prisão, foi condenado a quatro meses de prisão por divulgação de notícias falsas e tendenciosas.



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