Está na hora

Anabela Fino
Como se esperava, a mensagem de Natal do primeiro-ministro, Durão Barroso, foi um despudorado exercício de demagogia e tartufice, uma reedição da estafada técnica da cenoura e do bastão. Os portugueses, disse, têm razões para estar confiantes porque a recuperação económica vem a caminho, embora devagar, o que é a prova de que a política do governo é a mais acertada e as medidas tomadas e a tomar são as melhores para todos; o futuro anuncia-se risonho, apesar de algumas nuvens, pelo que se infere das ministeriais palavras não haver motivos para desânimos nem desesperos, muito menos para protestos, que deixam ficar mal o país e são um travão à cavalgada gloriosa da maioria PSD/PP para o prometido oásis; e a participação de Portugal na cena internacional é cada vez mais reconhecida, para o que contribuem de forma decisiva os bravos da GNR no Iraque, por mais que as televisões insistam em nos mostrar que passam os dias a comunicar com as famílias, a proteger-se uns aos outros e a sonhar com consoadas de bacalhau.
Os portugueses só têm pois razões de alegria, como de resto o ministro da Solidariedade Social (??!!) demonstrou ao anunciar com manifesto prazer a espectacular subida de 30 (trinta) cêntimos por dia no salário mínimo nacional, fazendo o favor de explicar aos menos perspicazes que assim se combatia o desemprego.
Para os mais renitentes em aceitar esta maravilha de governo, veio depois o anúncio dos aumentos que logo em Janeiro nos vão assaltar a carteira, ou o que resta dela: pão, combustíveis, transportes, portagens, rendas de casa, etc., etc., etc.
Cada vez mais moderno, Portugal passa da tanga ao fio dental em plena época festiva, aguardando com ansiedade o alargamento da União Europeia a alguns países de Leste para melhorar as estatísticas e subir uns degraus na listagens europeias. Pouco importa que o bacalhau seja da Noruega, as batatas da Argentina, as passas de Marrocos, as laranjas de Espanha ou o champanhe francês. As couves, parece, ainda são nacionais, e em conversa fiada ninguém nos leva a palma. As promessas estão outra vez em alta e não é preciso ser preclaro para adivinhar que, com a aproximação dos actos eleitorais que se perfilam no horizonte, a sua cotação vai subir na bolsa política. Depois da experiência dos últimos anos, não devia ser preciso esperar tanto para concluir que está na hora deste governo se ir embora. Seja quando for, já vai tarde.


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