Bush em campanha

A escassos cinco meses das eleições presidenciais nos EUA, a administração Bush desdobra-se em iniciativas para se livrar do atoleiro em que se transformou a ocupação do Iraque. Enquanto nas Nações Unidas se prepara uma resolução que dê alguma credibilidade à «transferência de poder» para os iraquianos agendada para 30 de Junho, nos EUA limpa-se a casa.
A primeira cabeça a rolar foi a de George Tenet, director da Agência Central de Inteligência (CIA), que na semana passada invocou «razões pessoais para se demitir.
Afirmam as notícias vinda a público que, num vídeo de despedida dirigido aos funcionários da CIA, Tenet garante com lágrimas nos olhos que se demite «pelo bem-estar» da mulher e do filho, e que sai «triste mas de cabeça erguida, muito erguida».
Bush ajudou ao espectáculo, dizendo ter recebido «com pesar» a carta de demissão de Tenet e sublinhando o seu «fantástico trabalho».
Para os mais familiarizados com estes processos, como é o caso de Stanfield Turner, director da agência durante a presidência de Carter, a encenação não foi convincente. «Não creio que Tenet tivesse tomado a iniciativa de se demitir neste período pré-eleitoral se não lhe tivessem dito para o fazer», afirmou Turner à imprensa. Sem rodeios, Turner não hesitou em dar voz ao que muitos pensam: «Foi obrigado a fazê-lo. É uma cabeça de turco».
Poucas horas depois de se confirmar a renúncia do principal responsável da espionagem norte-americana, um funcionário da administração Bush anunciava estar na calha mais uma demissão, igualmente por «razões pessoais». Trata-se de James Pavitt, director adjunto do serviço de operações da CIA, que até à data coordenava as acções clandestina da agência. Segundo a Casa Branca, Pavitt já tinha anunciado a intenção de se demitir antes de saber da saída de Tenet. Coincidências.
Bush anunciou que Tenet se manterá em funções até ao próximo dia 11, data em que será substituído provisoriamente pelo actual subdirector, John McLaughlin. Ninguém espera que o presidente avance com uma proposta definitiva antes das eleições. Se o fizesse, o novo director da CIA teria de ser ratificado no Congresso, ou seja, implicava abrir o debate sobre o estado dos serviços de espionagem, o que não interessa aos republicanos.
Com a campanha eleitoral à porta, a administração Bush vai fazer o impossível para convencer o eleitorado de que não tem responsabilidades nas falhas na segurança interna e de que foi induzida em erro em relação às armas de destruição maciça no Iraque, renovando as promessas das melhores intenções da sua acção. A política imperialista segue depois de Novembro. – A.F.


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