Viver e morrer de pé!
Corria o ano de 1945. Na Europa, as tropas soviéticas entravam em Berlim e davam assim o golpe final nos exércitos nazifascistas, bem como dos seus ideais de domínio mundial. As resistências nacionais assumiam um papel destacado neste combate e, por todo o continente, os povos, com os comunistas na vanguarda, conquistavam importantes direitos sobre as reaccionárias forças do capital.
Em Portugal – que não entrou na guerra mas que mal conseguiu disfarçar o seu apoio às forças obscurantistas do nazismo e do fascismo, até a derrota destes estar iminente – os trabalhadores e o povo, privados dos mais básicos géneros alimentares (que seguiam para as tropas do eixo fascista), organizavam-se e lutavam. À frente destes grandes movimentos reivindicativos, encontrava-se o recém-reorganizado PCP, cuja organização e implantação junto das massas crescia a olhos vistos.
Perdido o apoio dos seus mais fortes aliados ideológicos, o fascismo de Salazar tudo fez para que os novos ventos libertadores vindos de Leste não cheguem ao extremo mais ocidental do continente. Em Portugal, grandes manifestações assinalavam o fim da Guerra e gritava-se «Liberdade, Liberdade», com bandeiras dos países vencedores e paus nus, sem bandeira, simbolizavam o estandarte vitorioso do estado dos trabalhadores – a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas que, sofrendo cerca de 30 milhões de baixas, mudou o rumo da guerra.
Face à nova ordem internacional saída da Guerra, o fascismo português é obrigado a simular reformas, até ser «repescado» para o campo anticomunista na chamada Guerra Fria, movida pelo capitalismo internacional contra os comunistas e as forças do progresso. Desde promessas de eleições livres nos sindicatos e amnistias para presos, o fascismo luso tudo fazia para aparentar a sua adesão aos novos tempos. Mas a máquina repressiva mantinha-se forte e aperfeiçoava-se.
Resistência e morte
Entre Janeiro e Maio de 1945, um grande movimento reivindicativo por pão, géneros e melhores jornas assolava todo o Alentejo e Ribatejo, acrescentando mais luta às grandes jornadas de 8 e 9 de Maio do ano anterior. Os trabalhadores do campo, mercê de um paciente e constante trabalho de agitação e organização levado a cabo pelo PCP, reagiam à brutal exploração de que eram alvo pelos agrários – apoiantes e sustentáculos do fascismo salazarista.
Com a aproximação da época das ceifas, e aumentando a procura de mão-de-obra, o Partido difunde um apelo aos trabalhadores do Alentejo incitando-os à luta contra a ofensiva de fome dos agrários e do fascismo, dando-lhes o alento das conquistas dos trabalhadores da região de Lisboa e vale do Tejo, que haviam conquistado ao patronato melhores remunerações e géneros. Respondendo ao apelo do Partido, milhares de trabalhadores concentram-se nas diversas vilas e aldeias e realizam-se marchas da fome. A revolta das gentes do Alentejo estava instalada.
Em Montemor-o-Novo, no dia 20 de Maio, dois mil camponeses concentram-se junto ao Grémio da Lavoura, empunhando um caderno reivindicativo. Entre eles, encontrava-se Germano Vidigal, operário da construção civil e membro da Comissão Local do Partido. Pioneiro do trabalho político na região, foi fundamental no trabalho de persistente esclarecimento e mobilização para as acções de luta. Desafiado de forma pujante pelos trabalhadores, o fascismo recorre a violentos métodos repressivos e manda avançar a GNR de Évora, que prende 1500 manifestantes, entre os quais Germano Vidigal. Mas a estratégia havia sido alterada e Germano Vidigal seria alvo da «repressão selectiva». E tinha reservada outra sorte para si…
Encarcerado no posto local da GNR, foi barbaramente torturado por dois agentes da PIDE. Interrogado, e sempre sob bárbaras torturas, Germano Vidigal soube estar à altura da sua condição de comunista e não falou. Acabaria por falecer no dia 28, vítima das brutais torturas.
Como outros comunistas – antes e depois dele – Germano Vidigal deu a vida pela sua condição de revolucionário verdadeiro, íntegro e coerente. Quem o conheceu, afirmava que nada tinha de excepcional, que saltasse à vista. Mas a forma corajosa como resistiu faz dele um exemplo para as presentes e futuras gerações de comunistas.
Nota: Todas as informações, fontes e datas foram retiradas da edição n.º 180 de «O Militante», de Maio de 1990.
Em Portugal – que não entrou na guerra mas que mal conseguiu disfarçar o seu apoio às forças obscurantistas do nazismo e do fascismo, até a derrota destes estar iminente – os trabalhadores e o povo, privados dos mais básicos géneros alimentares (que seguiam para as tropas do eixo fascista), organizavam-se e lutavam. À frente destes grandes movimentos reivindicativos, encontrava-se o recém-reorganizado PCP, cuja organização e implantação junto das massas crescia a olhos vistos.
Perdido o apoio dos seus mais fortes aliados ideológicos, o fascismo de Salazar tudo fez para que os novos ventos libertadores vindos de Leste não cheguem ao extremo mais ocidental do continente. Em Portugal, grandes manifestações assinalavam o fim da Guerra e gritava-se «Liberdade, Liberdade», com bandeiras dos países vencedores e paus nus, sem bandeira, simbolizavam o estandarte vitorioso do estado dos trabalhadores – a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas que, sofrendo cerca de 30 milhões de baixas, mudou o rumo da guerra.
Face à nova ordem internacional saída da Guerra, o fascismo português é obrigado a simular reformas, até ser «repescado» para o campo anticomunista na chamada Guerra Fria, movida pelo capitalismo internacional contra os comunistas e as forças do progresso. Desde promessas de eleições livres nos sindicatos e amnistias para presos, o fascismo luso tudo fazia para aparentar a sua adesão aos novos tempos. Mas a máquina repressiva mantinha-se forte e aperfeiçoava-se.
Resistência e morte
Entre Janeiro e Maio de 1945, um grande movimento reivindicativo por pão, géneros e melhores jornas assolava todo o Alentejo e Ribatejo, acrescentando mais luta às grandes jornadas de 8 e 9 de Maio do ano anterior. Os trabalhadores do campo, mercê de um paciente e constante trabalho de agitação e organização levado a cabo pelo PCP, reagiam à brutal exploração de que eram alvo pelos agrários – apoiantes e sustentáculos do fascismo salazarista.
Com a aproximação da época das ceifas, e aumentando a procura de mão-de-obra, o Partido difunde um apelo aos trabalhadores do Alentejo incitando-os à luta contra a ofensiva de fome dos agrários e do fascismo, dando-lhes o alento das conquistas dos trabalhadores da região de Lisboa e vale do Tejo, que haviam conquistado ao patronato melhores remunerações e géneros. Respondendo ao apelo do Partido, milhares de trabalhadores concentram-se nas diversas vilas e aldeias e realizam-se marchas da fome. A revolta das gentes do Alentejo estava instalada.
Em Montemor-o-Novo, no dia 20 de Maio, dois mil camponeses concentram-se junto ao Grémio da Lavoura, empunhando um caderno reivindicativo. Entre eles, encontrava-se Germano Vidigal, operário da construção civil e membro da Comissão Local do Partido. Pioneiro do trabalho político na região, foi fundamental no trabalho de persistente esclarecimento e mobilização para as acções de luta. Desafiado de forma pujante pelos trabalhadores, o fascismo recorre a violentos métodos repressivos e manda avançar a GNR de Évora, que prende 1500 manifestantes, entre os quais Germano Vidigal. Mas a estratégia havia sido alterada e Germano Vidigal seria alvo da «repressão selectiva». E tinha reservada outra sorte para si…
Encarcerado no posto local da GNR, foi barbaramente torturado por dois agentes da PIDE. Interrogado, e sempre sob bárbaras torturas, Germano Vidigal soube estar à altura da sua condição de comunista e não falou. Acabaria por falecer no dia 28, vítima das brutais torturas.
Como outros comunistas – antes e depois dele – Germano Vidigal deu a vida pela sua condição de revolucionário verdadeiro, íntegro e coerente. Quem o conheceu, afirmava que nada tinha de excepcional, que saltasse à vista. Mas a forma corajosa como resistiu faz dele um exemplo para as presentes e futuras gerações de comunistas.
Nota: Todas as informações, fontes e datas foram retiradas da edição n.º 180 de «O Militante», de Maio de 1990.