Palestina
A mais cínica das declarações após as eleições palestinas foi, sem dúvida, a do Presidente dos EUA
Das muitas considerações que se podem fazer sobre os resultados das eleições na Palestina ocupada, uma é central: o resultado das eleições não pode ser utilizado para abandonar ou pôr em causa os inalienáveis direitos nacionais do povo palestino, expressos em inúmeras – mas sempre ignoradas – resoluções da ONU, nem a justeza da sua resistência contra a ocupação sionista e as atrocidades dos ocupantes.
A mais cínica das declarações após as eleições palestinas foi, sem dúvida, a do Presidente dos EUA. Falando em conferência de imprensa, Bush afirmou que «obviamente as pessoas não estavam contentes com o status quo. […] As pessoas querem serviços. Querem poder criar as suas crianças num ambiente onde haja um ensino decente e cuidados de saúde». E Bush aponta o dedo ao que chama a «velha guarda» palestina (página Internet da Casa Branca, 26.1.06). Suprema desfaçatez. A Palestina é hoje palco de enormes sofrimentos. Mas esses sofrimentos são o resultado directo da ocupação israelita, fomentada, armada e financiada pelo imperialismo norte-americano. A economia da Palestina está paralisada. As suas infra-estruturas foram destruídas pelo exército ocupante. As suas fronteiras são controladas por Israel, que impede e sabota as trocas comerciais duma entidade que nunca chegou a ser um país soberano. Os seus habitantes enfrentam a humilhação diária dos postos de controlo israelitas a caminho do trabalho, da escola, dos centros de saúde. Prossegue a confiscação de terras e a destruição de culturas para dar lugar ao novo monstro sionista: o Muro do Apartheid que não divide Israel dos territórios palestinos, mas sim os territórios palestinos uns dos outros, antecipando assim ulteriores expansões sionistas. Continuam a morrer palestinos às mãos do exército israelita: na própria noite após as eleições foi assassinada uma criança (teletexto RAI, 26.1.06). Ao desespero desta situação, há que acrescentar o desespero resultante da inexistência de qualquer processo político negociado, por responsabilidade única de Israel e dos EUA. Cada concessão palestina, feita de boa fé e na procura duma solução pacificada e negociada, num quadro internacional profundamente negativo, foi sempre recebida com novas exigências, com a violência israelita, com o desrespeito permanente de todas as resoluções da ONU, de todos os acordos internacionais, incluindo os que o próprio Estado sionista assinou. As circunstâncias da morte do Presidente Arafat continuam por esclarecer.
É neste contexto que o Hamas ganha as eleições de 25 de Janeiro. Não foi uma vitória esmagadora do ponto de vista dos votos expressos: aos 45% do Hamas correspondem 49,5% do conjunto das forças do movimento nacional palestino ligadas à OLP (42% da Fatah, e 7,5% das duas listas das organizações marxistas: FDLP, FPLP e PPP). Mas o facto de metade do Conselho Legislativo ser eleito com base em candidaturas individuais, associado a divisões no seio das forças laicas quanto a estratégia e actividade da autoridade nacional palestiniana, resultaram num Conselho Legislativo dominado pelo movimento religioso integrista, o que não pode deixar de ser motivo de preocupação para as forças progressistas. Em particular, tendo em conta as origens históricas do Hamas e o apoio que recebeu de Israel na fase inicial da sua existência, numa estratégia de enfraquecimento do movimento nacional palestino e da OLP. O Hamas apresenta-se hoje como defensor intransigente do direito do povo palestino à resistência contra a ocupação israelita – e a sua vitória eleitoral resulta também dessa imagem. O futuro dirá se os actos corresponderão ou não às promessas.
Independentemente das opiniões sobre as causas dos acontecimentos, todos quantos defendem o direito do povo palestino a uma Pátria livre e soberana, com Jerusalém Leste como capital, e o respeito pelos direitos desse heróico e martirizado povo (incluindo o direito de regresso dos milhões de refugiados) têm, nesta hora difícil e perigosa para a Palestina e o Médio Oriente, um dever de solidariedade acrescida para com as forças do movimento nacional palestino e da OLP.
A mais cínica das declarações após as eleições palestinas foi, sem dúvida, a do Presidente dos EUA. Falando em conferência de imprensa, Bush afirmou que «obviamente as pessoas não estavam contentes com o status quo. […] As pessoas querem serviços. Querem poder criar as suas crianças num ambiente onde haja um ensino decente e cuidados de saúde». E Bush aponta o dedo ao que chama a «velha guarda» palestina (página Internet da Casa Branca, 26.1.06). Suprema desfaçatez. A Palestina é hoje palco de enormes sofrimentos. Mas esses sofrimentos são o resultado directo da ocupação israelita, fomentada, armada e financiada pelo imperialismo norte-americano. A economia da Palestina está paralisada. As suas infra-estruturas foram destruídas pelo exército ocupante. As suas fronteiras são controladas por Israel, que impede e sabota as trocas comerciais duma entidade que nunca chegou a ser um país soberano. Os seus habitantes enfrentam a humilhação diária dos postos de controlo israelitas a caminho do trabalho, da escola, dos centros de saúde. Prossegue a confiscação de terras e a destruição de culturas para dar lugar ao novo monstro sionista: o Muro do Apartheid que não divide Israel dos territórios palestinos, mas sim os territórios palestinos uns dos outros, antecipando assim ulteriores expansões sionistas. Continuam a morrer palestinos às mãos do exército israelita: na própria noite após as eleições foi assassinada uma criança (teletexto RAI, 26.1.06). Ao desespero desta situação, há que acrescentar o desespero resultante da inexistência de qualquer processo político negociado, por responsabilidade única de Israel e dos EUA. Cada concessão palestina, feita de boa fé e na procura duma solução pacificada e negociada, num quadro internacional profundamente negativo, foi sempre recebida com novas exigências, com a violência israelita, com o desrespeito permanente de todas as resoluções da ONU, de todos os acordos internacionais, incluindo os que o próprio Estado sionista assinou. As circunstâncias da morte do Presidente Arafat continuam por esclarecer.
É neste contexto que o Hamas ganha as eleições de 25 de Janeiro. Não foi uma vitória esmagadora do ponto de vista dos votos expressos: aos 45% do Hamas correspondem 49,5% do conjunto das forças do movimento nacional palestino ligadas à OLP (42% da Fatah, e 7,5% das duas listas das organizações marxistas: FDLP, FPLP e PPP). Mas o facto de metade do Conselho Legislativo ser eleito com base em candidaturas individuais, associado a divisões no seio das forças laicas quanto a estratégia e actividade da autoridade nacional palestiniana, resultaram num Conselho Legislativo dominado pelo movimento religioso integrista, o que não pode deixar de ser motivo de preocupação para as forças progressistas. Em particular, tendo em conta as origens históricas do Hamas e o apoio que recebeu de Israel na fase inicial da sua existência, numa estratégia de enfraquecimento do movimento nacional palestino e da OLP. O Hamas apresenta-se hoje como defensor intransigente do direito do povo palestino à resistência contra a ocupação israelita – e a sua vitória eleitoral resulta também dessa imagem. O futuro dirá se os actos corresponderão ou não às promessas.
Independentemente das opiniões sobre as causas dos acontecimentos, todos quantos defendem o direito do povo palestino a uma Pátria livre e soberana, com Jerusalém Leste como capital, e o respeito pelos direitos desse heróico e martirizado povo (incluindo o direito de regresso dos milhões de refugiados) têm, nesta hora difícil e perigosa para a Palestina e o Médio Oriente, um dever de solidariedade acrescida para com as forças do movimento nacional palestino e da OLP.