Chávez sem rival

Pedro Campos
Estamos a cinco meses das próximas eleições presidenciais e Hugo Chávez não só continua à frente de todas as sondagens como não se vê no horizonte nenhum rival digno de consideração. Isto tem um lado muito bom e outro menos bom, como veremos.
Neste momento as forças antibolivarianas têm excesso de pré candidatos (talvez mais de vinte); o que se passa é que em todas as sondagens que já encomendaram saem com as papas na cabeça. Vejamos a mais recente, que foi contratada por um grupo de empresários a um tal Dick Morris, especialista em investigação política e o mesmo que concebeu a estratégia do mexicano Felipe Calderón, o novo «cachorro do império», que acaba de perpetrar a «chapelada» foxista contra López Obrador. Dick Morris, apoiou-se em Hinterlaces, uma firma de Caracas, para a sua análise do panorama político
venezuelano.
Segundo noticia um dos principais jornais da reacção, francamente ligado ao golpe de Estado de Abril de 2002, Hugo Chávez conta um apoio de 55%, enquanto o líder opositor melhor classificado não passa de 7%.
Depois da vitória original de 1998; de sobreviver a um golpe de Estado; de resistir a uma greve patronal de mais de dois meses que ameaçou pôr o país de rastos e custou várias dezenas de milhares de milhões de dólares à economia do país; depois de uma incessante e inclemente campanha dos média nacionais e internacionais, uma das conclusões principais dos resultados da sondagem é que Chávez está mais forte do que nunca. Os resultados forçaram a viagem de Dick Morris a Caracas para conferir os números, que no entanto em nada surpreendem na medida em que já foram confirmados por várias outras sondagens, igualmente financiadas por empresas enfeudadas à oposição antinacionalista.

Retrato do candidato ideal

O trabalho de campo foi feito durante as primeiras semanas de Junho, em mais de cinquenta cidades e vilas de todo o país, e chegou à conclusão de que nenhum dos candidatos antibolivarianos na corrida tem o apoio popular suficiente para dar qualquer luta a Chávez.
Neste momento, só um outsider com determinadas características poderia ter alguma hipótese. Depois de dezoito sessões de grupo (qualitativas) e de mais de 1200 entrevistas (quantitativas) já sabemos como deve ser o tal outsider. Deve reunir estas condições: pessoa humilde, entre 40 e 50 anos de idade, da classe baixa ou média, com um programa político claro e simples, uma mensagem de diálogo e que proponha soluções. Traço mais, traço menos, o «retrato» está feito, o que não existe é quem encaixe nele.
Tomemos o caso dos três candidatos mais badalados. Rosales, actual governador do estado Zulia – o mesmo que Washington gostaria de ver separar-se da Venezuela –, é o «melhor» classificado com 7% de apoio... mas com 39% de rejeição a nível nacional. Borges, de extrema-direita tal como o anterior, tem o perfil de o «mais opositor de todos», mas igualmente, como não é de estranhar, o «dos ricos» e «muito longe dos humildes». Pode surpreender alguém que tenha 47% de rejeição? Petkoff, que já foi comunista, e este «já» diz tudo, apesar dos malabarismos que tem feito desde que abandonou o Partido Comunista, continua a merecer a aversão da direita, para além de que ficou queimado por ter participado no último governo da IV República. Por uma e outra razão, o seu nível de rejeição atinge os 52%, o mais alto de todos.
Um quarto candidato aparece com um índice de rejeição de «apenas» 26%, curiosamente o mesmo de Hugo Chávez, só que tem esse nível de rejeição porque é desconhecido de 60% dos entrevistados!!! Feitas as contas, os investigadores chegam à conclusão de que a oposição tem um nível de rejeição de 83%, o que é catalogado por estes especialistas de «altíssimo».

Dizíamos antes que estes resultados tinham duas faces. O lado bom é que, pela via eleitoral, a oposição venezuelana não tem a mínima hipótese de triunfar nas eleições de Dezembro deste ano. Isto ninguém põe em dúvida. Hugo Chávez vai ganhar as eleições presidenciais. Só falta saber se atingirá a fasquia que se propôs: 10 milhões de votos. O lado menos bom é que tudo indica que os candidatos não vão correr o risco de se meterem a ridículo com uma votação insignificante e que vão atirar com a toalha pouco antes das eleições. Nesse caso, Hugo Chávez correrá sozinho e essa situação será usada uma vez mais pela oposição, numa tentativa de retirar legitimidade à decisão do povo venezuelano. Uma repetição do que pretenderam fazer em relação às legislativas mais recentes.
Se uma oposição que tinha, nessas legislativas, a opção de conquistar entre 10 ou 15 deputados, decidiu não participar para não dar parte de fraca, agora que é uma eleição de tudo ou nada, muito mais provável é que fique em casa a ver a marcha passar, enquanto conspira bem paga por Washington.


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