Antifascistas sempre
Centenas de pessoas afirmaram, sábado, os ideais antifascistas e os valores de Abril numa sessão pública promovida pela União dos Resistentes Antifascistas Portugueses em Santa Comba Dão.
«A URAP está a trabalhar na concretização de um Museu da Resistência»
À hora marcada para o arranque da iniciativa de repúdio à construção do Museu Salazar na terra natal do ditador, já o Auditório Municipal estava cheio. Cá fora, muitos antifascistas santa-combadenses e democratas que se deslocaram dos distritos de Aveiro, Coimbra, Setúbal ou Lisboa, entre os quais vários dirigentes e militantes do PCP, aguardavam serenos mas convictos da importância de participarem na acção.
Eram seguramente o triplo dos que couberam no exíguo espaço que em tempos foi a sede dos bombeiros voluntários locais. Empunhando cravos vermelhos, cantavam a «Grândola Vila Morena», gritavam «25 de Abril sempre», e nunca deixaram de o fazer durante toda a sessão, respondendo afirmativamente a cada palavra, a cada expressão que, nas intervenções transmitidas cá para fora pelo sistema de som montado pela organização, afirmavam a razão de ali estarem juntos num combate persistente, abnegado e generoso contra o fascismo.
Em torno, populares observavam os acontecimentos de forma ordeira. Entre a multidão, porém, um punhado de fascistas procurava acicatar os ânimos populares. Alguns certamente mais jovens que a revolução de Abril, mas tolhidos pelo desconhecimento do que foram os 48 anos da ditadura, tocados pela desinformação e deturpação da história de que o capitalismo sempre se serviu para explorar e reprimir o os trabalhadores na nossa terra e na terra alheia de outros povos iguais.
Os provocadores várias vezes tentaram romper o cordão policial entretanto disposto a meio do largo principal. Várias vezes ainda vociferaram frases feitas de ignorância, procurando, desesperadamente, redobrar o escasso número de convictos saudosistas salazarentos. Nunca passaram de um grupelho exaltado entre centenas de habitantes movidos, sobretudo, pela curiosidade. A chegada da bandeira da URAP nas mãos de um dos seus dirigentes e histórico militante anfifascista, Américo Leal, provocou algum alarde, prontamente abafado pelos activistas mobilizados pela URAP que afirmavam uma e outra vez: «Fascismo, nunca mais!».
Esclarecer e mobilizar
No interior do auditório, coube a Alberto Andrade, do núcleo de Viseu da URAP, abrir a sessão às intervenções do painel. Depois de dar a conhecer o conteúdo da petição à Assembleia da República cujo objectivo é impedir a concretização do projecto da Câmara Municipal, Alberto Andrade rebateu alguns dos argumentos apresentados pela edilidade e pelos demais defensores da grotesca exaltação de Salazar, com especial enfoque para o facto de tal projecto não se revestir de qualquer interesse «científico», uma vez que, explicou, «todo o acervo documental de Salazar está na Torre do Tombo disponível para consulta».
Nas mesma linha, António Vilarigues, também do Núcleo viseense da URAP, filho de um destacado militante comunista detido no Tarrafal, Sérgio Vilarigues, e ele próprio testemunho vivo da realidade clandestina e da repressão que o fascismo impôs em Portugal durante quase meio século, sublinhou na sua intervenção que «a história da ditadura é uma história de perseguições, de prisões, de torturas, de condenações, de assassinatos» em nome de um regime assente «na exploração, nas privações, na miséria e na opressão do povo português e dos povos das colónias», territórios onde «gerações de jovens foram sacrificadas em treze anos de guerras», disse.
Por tudo isto e porque «a razão de ser da memória histórica está na extracção das lições do passado», António Vilarigues defendeu que «o nosso país não precisa de “museus Salazar”. Carece, sim, de verdadeiros museus da resistência».
URAP na primeira linha
A encerrar a já longa sessão pública ocorrida em Santa Comba Dão, Aurélio Santos, Coordenador do Conselho Directivo da URAP, começou por deixar palavras de confiança «nos sentimentos democráticos da população de Santa Comba», até porque, continuou, «não é pelo facto de Salazar aqui ter nascido que será justo colar esta terra à imagem do salazarismo».
Quanto ao projecto em curso, Aurélio Santos deixou nítido que «a insistente campanha de branqueamento do que foi o fascismo, em Portugal e no mundo, apaga a resistência dos povos e dos que não cederam, não capitularam, e se uniram para vencer a feroz e sangrenta versão de retrocesso social que o fascismo representa. O de Salazar, como os de Hitler e Mussolini».
«O fascismo não é um fenómeno histórico de uma determinada conjuntura», alertou, «tem carácter universal, com raízes sociais e económicas que aparecem como resposta desesperada numa sociedade em crise, com uma economia em queda, e uma classe que pretende impor pela força a manutenção do seu domínio».
A URAP, revelou também Aurélio Santos, «está a trabalhar na concretização de um museu da resistência», projecto que se justifica, quanto mais não fosse porque «na nossa sociedade ainda hoje se manifestam as marcas do salazarismo».
PCP no combate ao branqueamento do fascismo
«O ventre que pariu este monstro
ainda é fértil»
Em comunicado enviado às redacções na segunda-feira, a Direcção da Organização Regional de Viseu do PCP rejeitou a existência de uma «manifestação significativa de desagrado em Santa Comba», sublinhando que a população daquele concelho «tem convicções democráticas e progressistas» e não pode ser confundida com «um grupelho de duas ou três dezenas de fascistas, vindos de todo o País e pertencentes à “Juventude Nacionalista”, à “Frente Nacional”, ao PNR e a outras organizações racistas e nazi-fascistas, que se movimentou entre as pessoas instigando alguns apoiantes locais do museu», numa clara «provocação e contramanifestação ilegal, que tentou impedir a realização da sessão pública da URAP».
Antes da apreciação da organização comunista à jornada de sábado, Manuel Rodrigues, membro do Comité Central e da DORV do PCP, que tomou a palavra na iniciativa, destacou que o fascismo «não representou para Santa Comba, nem para o País, nenhum período áureo de desenvolvimento, por isso, «o que o povo de Santa Comba Dão e o País precisam não é de um museu a Salazar, que, tal como o seu patrono, nada de bom traria», precisam, pelo contrário, «é de uma outra política que retome os caminhos de Abril», continuou.
Lamentando a falta de comparência do Partido Socialista na sessão promovida pela URAP, Manuel Rodrigues instou aquele partido a reflectir «sobre as graves consequências que uma governação à direita, sistematicamente conduzida contra os trabalhadores e as populações, perigosamente, vem provocando nos principais pilares do regime democrático», acrescentando que é necessário que o «PS se demarque da criação deste museu».
Determinados na luta
O PCP, único partido que resistiu a quarenta e oito anos de repressão fascista e que por isso pagou um alto preço, insere o projecto da autarquia «numa campanha de branqueamento» que «visa apresentar esse regime como um normal acontecimento da nossa história», chegando mesmo «a afirmar que Salazar não foi fascista e que a PIDE não matava ninguém» disse ainda Manuel Rodrigues.
«Infelizmente, o fascismo não foi um fantasma», acrescentou o dirigente, foi, isso sim, «a ditadura dos grandes monopólios e latifúndios que reprimiu o povo e explorou até ao tutano os trabalhadores».
Os motores da campanha em curso, precisou Manuel Rodrigues, «no seu esforço de rescrever a história tudo fazem para ocultar, falsificar ou aviltar o determinante papel do PCP na resistência antifascista. E, daí, passam ao ataque à revolução de Abril e aos seus ideais e, de novo, ao papel do PCP na instauração da democracia, chegando ao cúmulo de equiparar fascismo e comunismo», acção que faz «do anticomunismo uma arma, diga-se, ao serviço da natureza opressora e exploradora do grande capital».
Reiterando o convite a «outras forças políticas, movimentos sociais, e todos aqueles que se revêem nos ideais progressistas para que se juntem a nós neste combate contra esse monstro ideológico que se alimenta das entranhas apodrecidas das crises sociais do capitalismo», os comunistas deixam bem vincado que ninguém contará com o PCP «para se calar ou quedar perante os perigos que representam para a democracia as políticas que contra ela são conduzidas» e, nesse sentido «estarão, como sempre estiveram, com a luta de todos os antifascistas, em Santa Comba, como em qualquer outro pedaço do nosso território ou nos laços de solidariedade internacional».
A finalizar, o membro da direcção do PCP lembrou as palavras de Berthold Brecht, «que em premonitório sinal de alerta àqueles que uns anos mais tarde festejavam o fim do regime nazi do III Reich dizia: “cuidado, cuidado que o ventre que pariu este monstro ainda é fértil!”», para concluir, afirmando a determinação e coragem dos comunistas, que «é bom que saibam, também, todos aqueles que desejariam a repetição desse tenebroso período da nossa história, que se alguma vez ousarem atentar contra o regime democrático encontrarão pela frente a força organizada de muitos democratas e o incondicional empenhamento deste Partido».
Atentado à Constituição
Contra a criação do Museu Salazar circula já uma petição onde se exige que a «Assembleia da República condene politicamente o processo» e impeça a sua concretização.
No documento, que pode ser assinado em www.contraofascismo.net , os subscritores sustentam que o projecto, para além de «materializar o saudosismo fascista», representa um atentado à Constituição.
Para além do inscrito no preâmbulo, o texto fundamental da República deixa claro, no artigo 46.º, que «não são consentidas organizações que perfilhem a ideologia fascista», definindo-as na Lei 64/78 como as que «mostrem pretender difundir ou difundir efectivamente os valores, os princípios, os expoentes, as instituições e os métodos característicos dos regimes fascistas, nomeadamente, o corporativismo ou a exaltação das personalidades mais representativas daqueles regimes».
Eram seguramente o triplo dos que couberam no exíguo espaço que em tempos foi a sede dos bombeiros voluntários locais. Empunhando cravos vermelhos, cantavam a «Grândola Vila Morena», gritavam «25 de Abril sempre», e nunca deixaram de o fazer durante toda a sessão, respondendo afirmativamente a cada palavra, a cada expressão que, nas intervenções transmitidas cá para fora pelo sistema de som montado pela organização, afirmavam a razão de ali estarem juntos num combate persistente, abnegado e generoso contra o fascismo.
Em torno, populares observavam os acontecimentos de forma ordeira. Entre a multidão, porém, um punhado de fascistas procurava acicatar os ânimos populares. Alguns certamente mais jovens que a revolução de Abril, mas tolhidos pelo desconhecimento do que foram os 48 anos da ditadura, tocados pela desinformação e deturpação da história de que o capitalismo sempre se serviu para explorar e reprimir o os trabalhadores na nossa terra e na terra alheia de outros povos iguais.
Os provocadores várias vezes tentaram romper o cordão policial entretanto disposto a meio do largo principal. Várias vezes ainda vociferaram frases feitas de ignorância, procurando, desesperadamente, redobrar o escasso número de convictos saudosistas salazarentos. Nunca passaram de um grupelho exaltado entre centenas de habitantes movidos, sobretudo, pela curiosidade. A chegada da bandeira da URAP nas mãos de um dos seus dirigentes e histórico militante anfifascista, Américo Leal, provocou algum alarde, prontamente abafado pelos activistas mobilizados pela URAP que afirmavam uma e outra vez: «Fascismo, nunca mais!».
Esclarecer e mobilizar
No interior do auditório, coube a Alberto Andrade, do núcleo de Viseu da URAP, abrir a sessão às intervenções do painel. Depois de dar a conhecer o conteúdo da petição à Assembleia da República cujo objectivo é impedir a concretização do projecto da Câmara Municipal, Alberto Andrade rebateu alguns dos argumentos apresentados pela edilidade e pelos demais defensores da grotesca exaltação de Salazar, com especial enfoque para o facto de tal projecto não se revestir de qualquer interesse «científico», uma vez que, explicou, «todo o acervo documental de Salazar está na Torre do Tombo disponível para consulta».
Nas mesma linha, António Vilarigues, também do Núcleo viseense da URAP, filho de um destacado militante comunista detido no Tarrafal, Sérgio Vilarigues, e ele próprio testemunho vivo da realidade clandestina e da repressão que o fascismo impôs em Portugal durante quase meio século, sublinhou na sua intervenção que «a história da ditadura é uma história de perseguições, de prisões, de torturas, de condenações, de assassinatos» em nome de um regime assente «na exploração, nas privações, na miséria e na opressão do povo português e dos povos das colónias», territórios onde «gerações de jovens foram sacrificadas em treze anos de guerras», disse.
Por tudo isto e porque «a razão de ser da memória histórica está na extracção das lições do passado», António Vilarigues defendeu que «o nosso país não precisa de “museus Salazar”. Carece, sim, de verdadeiros museus da resistência».
URAP na primeira linha
A encerrar a já longa sessão pública ocorrida em Santa Comba Dão, Aurélio Santos, Coordenador do Conselho Directivo da URAP, começou por deixar palavras de confiança «nos sentimentos democráticos da população de Santa Comba», até porque, continuou, «não é pelo facto de Salazar aqui ter nascido que será justo colar esta terra à imagem do salazarismo».
Quanto ao projecto em curso, Aurélio Santos deixou nítido que «a insistente campanha de branqueamento do que foi o fascismo, em Portugal e no mundo, apaga a resistência dos povos e dos que não cederam, não capitularam, e se uniram para vencer a feroz e sangrenta versão de retrocesso social que o fascismo representa. O de Salazar, como os de Hitler e Mussolini».
«O fascismo não é um fenómeno histórico de uma determinada conjuntura», alertou, «tem carácter universal, com raízes sociais e económicas que aparecem como resposta desesperada numa sociedade em crise, com uma economia em queda, e uma classe que pretende impor pela força a manutenção do seu domínio».
A URAP, revelou também Aurélio Santos, «está a trabalhar na concretização de um museu da resistência», projecto que se justifica, quanto mais não fosse porque «na nossa sociedade ainda hoje se manifestam as marcas do salazarismo».
PCP no combate ao branqueamento do fascismo
«O ventre que pariu este monstro
ainda é fértil»
Em comunicado enviado às redacções na segunda-feira, a Direcção da Organização Regional de Viseu do PCP rejeitou a existência de uma «manifestação significativa de desagrado em Santa Comba», sublinhando que a população daquele concelho «tem convicções democráticas e progressistas» e não pode ser confundida com «um grupelho de duas ou três dezenas de fascistas, vindos de todo o País e pertencentes à “Juventude Nacionalista”, à “Frente Nacional”, ao PNR e a outras organizações racistas e nazi-fascistas, que se movimentou entre as pessoas instigando alguns apoiantes locais do museu», numa clara «provocação e contramanifestação ilegal, que tentou impedir a realização da sessão pública da URAP».
Antes da apreciação da organização comunista à jornada de sábado, Manuel Rodrigues, membro do Comité Central e da DORV do PCP, que tomou a palavra na iniciativa, destacou que o fascismo «não representou para Santa Comba, nem para o País, nenhum período áureo de desenvolvimento, por isso, «o que o povo de Santa Comba Dão e o País precisam não é de um museu a Salazar, que, tal como o seu patrono, nada de bom traria», precisam, pelo contrário, «é de uma outra política que retome os caminhos de Abril», continuou.
Lamentando a falta de comparência do Partido Socialista na sessão promovida pela URAP, Manuel Rodrigues instou aquele partido a reflectir «sobre as graves consequências que uma governação à direita, sistematicamente conduzida contra os trabalhadores e as populações, perigosamente, vem provocando nos principais pilares do regime democrático», acrescentando que é necessário que o «PS se demarque da criação deste museu».
Determinados na luta
O PCP, único partido que resistiu a quarenta e oito anos de repressão fascista e que por isso pagou um alto preço, insere o projecto da autarquia «numa campanha de branqueamento» que «visa apresentar esse regime como um normal acontecimento da nossa história», chegando mesmo «a afirmar que Salazar não foi fascista e que a PIDE não matava ninguém» disse ainda Manuel Rodrigues.
«Infelizmente, o fascismo não foi um fantasma», acrescentou o dirigente, foi, isso sim, «a ditadura dos grandes monopólios e latifúndios que reprimiu o povo e explorou até ao tutano os trabalhadores».
Os motores da campanha em curso, precisou Manuel Rodrigues, «no seu esforço de rescrever a história tudo fazem para ocultar, falsificar ou aviltar o determinante papel do PCP na resistência antifascista. E, daí, passam ao ataque à revolução de Abril e aos seus ideais e, de novo, ao papel do PCP na instauração da democracia, chegando ao cúmulo de equiparar fascismo e comunismo», acção que faz «do anticomunismo uma arma, diga-se, ao serviço da natureza opressora e exploradora do grande capital».
Reiterando o convite a «outras forças políticas, movimentos sociais, e todos aqueles que se revêem nos ideais progressistas para que se juntem a nós neste combate contra esse monstro ideológico que se alimenta das entranhas apodrecidas das crises sociais do capitalismo», os comunistas deixam bem vincado que ninguém contará com o PCP «para se calar ou quedar perante os perigos que representam para a democracia as políticas que contra ela são conduzidas» e, nesse sentido «estarão, como sempre estiveram, com a luta de todos os antifascistas, em Santa Comba, como em qualquer outro pedaço do nosso território ou nos laços de solidariedade internacional».
A finalizar, o membro da direcção do PCP lembrou as palavras de Berthold Brecht, «que em premonitório sinal de alerta àqueles que uns anos mais tarde festejavam o fim do regime nazi do III Reich dizia: “cuidado, cuidado que o ventre que pariu este monstro ainda é fértil!”», para concluir, afirmando a determinação e coragem dos comunistas, que «é bom que saibam, também, todos aqueles que desejariam a repetição desse tenebroso período da nossa história, que se alguma vez ousarem atentar contra o regime democrático encontrarão pela frente a força organizada de muitos democratas e o incondicional empenhamento deste Partido».
Atentado à Constituição
Contra a criação do Museu Salazar circula já uma petição onde se exige que a «Assembleia da República condene politicamente o processo» e impeça a sua concretização.
No documento, que pode ser assinado em www.contraofascismo.net , os subscritores sustentam que o projecto, para além de «materializar o saudosismo fascista», representa um atentado à Constituição.
Para além do inscrito no preâmbulo, o texto fundamental da República deixa claro, no artigo 46.º, que «não são consentidas organizações que perfilhem a ideologia fascista», definindo-as na Lei 64/78 como as que «mostrem pretender difundir ou difundir efectivamente os valores, os princípios, os expoentes, as instituições e os métodos característicos dos regimes fascistas, nomeadamente, o corporativismo ou a exaltação das personalidades mais representativas daqueles regimes».