Potenciais negócios
Os bispos portugueses reuniram-se esta semana, no dia 10 de Julho. Prepararam já a opinião pública para um clima de zanga e indignação da igreja em relação ao Estado. Sinal certo e seguro de que os bispos, como os grandes empresários, querem mais. A conjuntura para a sua nova fase ofensiva não podia ser melhor. O país vive tempos de desilusão.
À escala da globalização vão-se definindo os contornos de gigantescos negócios. No âmbito doméstico surgem potenciais combinações de interesses extremamente ambiciosos. Se é certo que sempre houve negócios, pequenos e grandes, entre as forças dominantes, a globalização da economia assentou na promessa de que os negócios passariam a ser feitos em escalões tão elevados que a maior das transacções do capitalismo clássico nem sequer atingiria o limiar do menor dos negócios da era global. As forças capitalistas – políticas, económicas, religiosas – estão a dar cumprimento a essa promessa. Mas declaram-se, como sempre, insatisfeitas. É uma estratégia.
Sócrates preside por uns tempos à União Europeia, num momento em que a Europa parece descobrir, pela segunda vez, o Continente africano e a América do Sul, nomeadamente o Brasil, o mais católico dos países do mundo. Ganha novo relevo a viagem que Bento XVI realizou à pátria brasileira, logo seguida dias mais tarde pela deslocação de Lula da Silva à União Europeia. Nenhuma grande decisão foi tomada mas as negociações ficaram abertas, o que já constitui um resultado importante. O papa reclama no Brasil poderes alargados para uma igreja que ali já é forte. Lula da Silva disse não ceder a pressões mas acrescentou ser necessário haver em toda a América Latina uma «integração religiosa da Igreja Católica», frase imprecisa que Lula não explicitou. Depois, Lula partiu para a Europa, falou em grandes negócios com os europeus e captou notáveis apoios, como foi o caso da Alemanha. Sabe-se que a economia alemã detém um poder determinante entre os grupos multinacionais brasileiros. E que há consenso quanto à legitimidade da pressão política das igrejas e das suas instituições, nomeadamente nas que convivem na opulenta diocese de Colónia. As duas deslocações político-religiosas não foram ocasionais, como os factos virão a mostrar.
Negócios caseiros
Negócios europeus e negócios caseiros... Tem-se falado muito no imenso buraco financeiro que paralisa a autarquia de Lisboa e nos processos a adoptar para ultrapassar essa gigantesca dificuldade. É sugerido o recurso alternado a duas acções complementares: 1.ª – o pagamento das dívidas a curto prazo mediante a negociação de um empréstimo de 200 milhões de euros; 2.ª – o reequilíbrio das finanças municipais através da venda ou hipoteca de parte importante do património da autarquia. Punhamos de lado outras considerações e olhemos apenas os negócios potenciais que essa fórmula proporcionaria à banca e às empresas de capitais eclesiásticos. A igreja, a misericórdia e as fundações ligadas ao Patriarcado são proprietárias da maioria do património imobiliário da cidade.
A negociação do empréstimo seria fácil. Os bancos não teriam qualquer dificuldade em reunir os 200 milhões iniciais. Para negócios deste tipo, as empresas de capitais de risco dispõem, em dinheiro corrente, de 1,3 mil milhões de euros. Porém, feito o negócio, o empréstimo evaporar-se-ia instantaneamente. O montante das dívidas da CML ronda os 1290 milhões. Ao primeiro empréstimo suceder-se-iam outros e outros, num terrível mergulho no abismo.
A autarquia recorria, então, à segunda operação: a venda ou hipoteca de parte do património imobiliário. Uma operação que seria bem vista pelo mundo financeiro e pelos grupos imobiliários credores da Câmara. Porque o processo envolveria, sem sombra de dúvida, a autorização da urbanização ilimitada dos terrenos. Os planos directores passariam à história bem como se esvaziariam os poderes moderadores das autarquias da Área Metropolitana. No plano da acção social, apenas ficariam em presença as IPSS, ONGS, Misericórdias, Sociedade Civil e «independentes» especializados no Combate à Pobreza e pagos pelo Orçamento do Estado.
Custa a admitir mas terá de aceitar-se que haja autarcas que ainda não se aperceberam de que existe um cerco cada vez mais apertado ao Poder Local. A situação de crise financeira e de desmobilização que se vive na Câmara de Lisboa existe também, de forma menos evidente, noutras autarquias do país. Resulta de manobras concertadas das elites que, tal como no mercado, gerem mal para fazerem baixar o preço das acções que depois compram e revalorizam, acumulando lucros e proveitos. No caso das autarquias, o objectivo é arruiná-las, acorrentá-las ao carro do poder e, finalmente, proclamar a sua privatização.
À escala da globalização vão-se definindo os contornos de gigantescos negócios. No âmbito doméstico surgem potenciais combinações de interesses extremamente ambiciosos. Se é certo que sempre houve negócios, pequenos e grandes, entre as forças dominantes, a globalização da economia assentou na promessa de que os negócios passariam a ser feitos em escalões tão elevados que a maior das transacções do capitalismo clássico nem sequer atingiria o limiar do menor dos negócios da era global. As forças capitalistas – políticas, económicas, religiosas – estão a dar cumprimento a essa promessa. Mas declaram-se, como sempre, insatisfeitas. É uma estratégia.
Sócrates preside por uns tempos à União Europeia, num momento em que a Europa parece descobrir, pela segunda vez, o Continente africano e a América do Sul, nomeadamente o Brasil, o mais católico dos países do mundo. Ganha novo relevo a viagem que Bento XVI realizou à pátria brasileira, logo seguida dias mais tarde pela deslocação de Lula da Silva à União Europeia. Nenhuma grande decisão foi tomada mas as negociações ficaram abertas, o que já constitui um resultado importante. O papa reclama no Brasil poderes alargados para uma igreja que ali já é forte. Lula da Silva disse não ceder a pressões mas acrescentou ser necessário haver em toda a América Latina uma «integração religiosa da Igreja Católica», frase imprecisa que Lula não explicitou. Depois, Lula partiu para a Europa, falou em grandes negócios com os europeus e captou notáveis apoios, como foi o caso da Alemanha. Sabe-se que a economia alemã detém um poder determinante entre os grupos multinacionais brasileiros. E que há consenso quanto à legitimidade da pressão política das igrejas e das suas instituições, nomeadamente nas que convivem na opulenta diocese de Colónia. As duas deslocações político-religiosas não foram ocasionais, como os factos virão a mostrar.
Negócios caseiros
Negócios europeus e negócios caseiros... Tem-se falado muito no imenso buraco financeiro que paralisa a autarquia de Lisboa e nos processos a adoptar para ultrapassar essa gigantesca dificuldade. É sugerido o recurso alternado a duas acções complementares: 1.ª – o pagamento das dívidas a curto prazo mediante a negociação de um empréstimo de 200 milhões de euros; 2.ª – o reequilíbrio das finanças municipais através da venda ou hipoteca de parte importante do património da autarquia. Punhamos de lado outras considerações e olhemos apenas os negócios potenciais que essa fórmula proporcionaria à banca e às empresas de capitais eclesiásticos. A igreja, a misericórdia e as fundações ligadas ao Patriarcado são proprietárias da maioria do património imobiliário da cidade.
A negociação do empréstimo seria fácil. Os bancos não teriam qualquer dificuldade em reunir os 200 milhões iniciais. Para negócios deste tipo, as empresas de capitais de risco dispõem, em dinheiro corrente, de 1,3 mil milhões de euros. Porém, feito o negócio, o empréstimo evaporar-se-ia instantaneamente. O montante das dívidas da CML ronda os 1290 milhões. Ao primeiro empréstimo suceder-se-iam outros e outros, num terrível mergulho no abismo.
A autarquia recorria, então, à segunda operação: a venda ou hipoteca de parte do património imobiliário. Uma operação que seria bem vista pelo mundo financeiro e pelos grupos imobiliários credores da Câmara. Porque o processo envolveria, sem sombra de dúvida, a autorização da urbanização ilimitada dos terrenos. Os planos directores passariam à história bem como se esvaziariam os poderes moderadores das autarquias da Área Metropolitana. No plano da acção social, apenas ficariam em presença as IPSS, ONGS, Misericórdias, Sociedade Civil e «independentes» especializados no Combate à Pobreza e pagos pelo Orçamento do Estado.
Custa a admitir mas terá de aceitar-se que haja autarcas que ainda não se aperceberam de que existe um cerco cada vez mais apertado ao Poder Local. A situação de crise financeira e de desmobilização que se vive na Câmara de Lisboa existe também, de forma menos evidente, noutras autarquias do país. Resulta de manobras concertadas das elites que, tal como no mercado, gerem mal para fazerem baixar o preço das acções que depois compram e revalorizam, acumulando lucros e proveitos. No caso das autarquias, o objectivo é arruiná-las, acorrentá-las ao carro do poder e, finalmente, proclamar a sua privatização.