O que faz irritar José Sócrates?

Professores firmes

O primeiro-ministro atacou os sindicatos dos professores, no Dia Mundial da profissão docente, e voltou à carga várias vezes nos dias seguintes, mas não respondeu às fundas razões que justificam os protestos contra o Governo.

Os professores mantêm-se unidos e apoiam os sindicatos

No Coliseu dos Recreios de Lisboa, onde a Fenprof promoveu, sexta-feira, uma iniciativa de comemoração do Dia Mundial do Professor, os dois mil docentes ali reunidos responderam com uma enorme vaia, quando foram referidas as afirmações de Sócrates, horas antes, aos jornalistas que procuravam um comentário às declarações de Cavaco Silva sobre a Educação, na evocação 97 anos da República, e às críticas sindicais nessa área. Retorquiu o primeiro-ministro que o seu executivo «não ataca os professores, ataca os problemas da Educação» e avisou: «é preciso que não se confunda professores com sindicatos».
Os secretários-gerais da CGTP-IN e da Fenprof repudiaram a arrogância e a postura antidemocrática de José Sócrates. «Tem que se ensinar ao primeiro-ministro e aos membros do Governo que os sindicatos, em democracia, têm um papel tão digno como o de qualquer outra instituição» e «são indispensáveis à sociedade, mais do que os maus governantes», disse Manuel Carvalho da Silva. Pouco depois, Mário Nogueira admitiu que «seria muito mais simples, seria simplex, para este Governo, se pudesse governar sem sindicatos, sem críticas, sem oposição», lembrando que tal pensamento era também o de antecessores de Sócrates, «na altura designados por "presidentes do Conselho"», e sublinhando que «mais depressa aquele senhor deixará de ser governante, do que os sindicatos deixarão de existir».
No domingo, em Montemor-o-Velho, o primeiro-ministro deitou mão ao papão anticomunista, para responder aos protestos de trabalhadores e dirigentes sindicais dos professores e de outros sectores. Antes da chegada da comitiva oficial, a GNR tentou «delimitar» uma área para o protesto e recolheu mesmo uma faixa, mas não calou as vozes de indignação.
A Polícia voltou a ser usada, na segunda-feira, na Covilhã, quando dois agentes à paisana entraram nas instalações do Sindicato dos Professores da Região Centro, tentando averiguar (e aconselhar!) a eventual participação no protesto que a União dos Sindicatos de Castelo Branco promoveria anteontem, junto à escola Frei Heitor Pinto, por ocasião do regresso do primeiro-ministro ao estabelecimento que frequentou na adolescência.

Incomodados e defendidos

Numa semana tão repleta de episódios rocambolescos, outras notícias de professores e dos seus sindicatos correram o risco de terem ficado desfocadas na atenção de leitores, ouvintes e telespectadores. Mas elas destapam o véu sobre os motivos por que os governantes se sentem incomodados e por que os professores se mantêm unidos e firmes, apoiando os seus sindicatos.
Anteontem, a Fenprof acusou a ministra Lurdes Rodrigues de, contrariando promessas e compromissos anteriores, vir agora reconhecer que quer aplicar a «mobilidade especial» aos docentes. Num projecto enviado à federação, o Ministério da Educação «nem se deu ao trabalho de regulamentar o N.º 4, do artigo 64.ª do Estatuto da Carreira Docente, que prevê uma situação específica para os professores nesta matéria», e aplica a «mobilidade especial» a docentes com incapacidade declarada para o exercício de funções lectivas, caso tenham requerido colocação em serviços que não os aceitem ou se solicitaram aposentação e esta foi negada por uma junta médica.
Ontem à tarde a Fenprof iria apresentar na Provedoria de Justiça um dossier com as ilegalidades do ME na colocação de professores.
Na quarta-feira da semana passada, em conferência de imprensa conjunta com o Sindicato dos Inspectores de Educação, foram revelados factos que comprovam não ser exequível o processo de avaliação de desempenho criado nos gabinetes da Avenida 5 de Outubro, quer pela escassez de inspectores, quer pela desmesurada quantidade de informação exigida nas fichas de avaliação.
Dias antes, a delegação de Viseu do SPRC revelou, com casos concretos, como o ME «abate escolas, implementa actividades de enriquecimento curricular e o mais que se verá, mas não criou as mínimas condições para assegurar qualidade no 1.º Ciclo do Ensino Básico»:
- encerradas as escolas N.º 2, a de Ermida e a do Carvalhal, Tondela passou a ter 12 turmas da antiga escola primária, as quais, afinal, estão espalhadas por três espaços (quando o ME afirma a concentração num único), um dos quais é o Jardim de Infância, de onde uma turma foi deslocada para as instalações da Junta de Freguesia;
- em Sátão, sete turmas estão na escola, duas na Casa do Povo e uma na Junta de Freguesia;
- em Nelas, o ME quer instalar duas turmas no cine-teatro;
- em Tarouquela (Cinfães) as actividades de enriquecimento curricular, com 20 crianças, decorrem num contentor de 27 metros quadrados.


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