- Nº 1787 (2008/02/28)
PCP lança desafio ao Governo sobre o
encerramento de serviços de saúde

Pare, escute e pense

Assembleia da República
O PCP voltou a exigir a suspensão do processo de encerramento de serviços de saúde, como urgências e maternidades. Trata-se de «parar para pensar», defendeu, faz amanhã oito dias, o líder parlamentar comunista no debate de um projecto de resolução da sua bancada visando aquele objectivo.

Tal como já sucedera em outros debates onde esta matéria esteve em destaque, também este não contou com a presença da ministra Ana Jorge, ausência que Bernardino Soares não deixou passar sem um forte reparo.
«Talvez seja necessário organizar uma visita ao posto médico da Assembleia da República e convidar a senhora ministra», ironizou, admitindo ser esta a fórmula para que os deputados possam finalmente ter a oportunidade de confrontar a titular da pasta da Saúde com a sua política. O deputado comunista aludia ao facto de, nos dias em que o tema ocupa a agenda parlamentar, Ana Jorge andar em visita a centros de saúde pelo país.
Justificando a apresentação do projecto da sua bancada, Bernardino Soares referiu ser esta uma «resposta não à remodelação governamental mas sim à grave situação criada pela política de encerramentos do Governo PS».
«O país está a assistir a um gravíssimo ataque ao direito à saúde das populações, ao desmantelar da rede de proximidade do Serviço Nacional de Saúde», observou, manifestando o seu repúdio por medidas que, sob a capa de uma alegada «reforma», mais não são do que uma violenta ofensiva contra o SNS.
E sobre as justificações dadas para o fecho das urgências hospitalares – a falta de recursos e de condições - , Bernardino Soares, depois de ter perguntado quem é afinal «o responsável por isso», deu ele próprio a resposta sublinhando que são «os governos e as respectivas políticas de saúde».

Populações sem alternativa

O presidente da formação comunista, referindo-se às alegadas alternativas que o Governo disse pretender garantir, considerou que elas são inexistentes, uma vez que «não há alternativa real e suficiente em matéria de emergência médica».
Questão trazida à colação foi ainda a dos protocolos celebrados com autarquias, tendo Bernardino Soares criticado o facto de se «trocarem serviços necessários por outros que também o são».
O deputado do PCP acusou ainda o Governo de beneficiar objectivamente os privados, dando como exemplo o encerramento de maternidades baseado em critérios que não têm a mesma rigidez quando se trata da abertura de novas unidades da iniciativa privada.
«Vamos ver se é tão forte como foi com os serviços públicos», referiu Bernardino Soares, antes de desafiar a maioria PS a aprovar o projecto de resolução do PCP.
Todas as bancadas da oposição convergiram, no essencial, na ideia de que esta política de encerramento está a resultar em prejuízo das populações e a ser feita de «forma errática».
O PS, que anunciou ser sua intenção inviabilizar amanhã, sexta-feira, 29, o projecto de resolução do PCP (igual destino traçou para um outro do BE sobre a mesma matéria, em debate na mesma ocasião), fez a defesa do Governo invocando com total desfaçatez estatísticas que, alegadamente, comprovariam «uma oferta de cuidados cada vez mais qualificados».

Razões da revolta popular

O projecto de resolução do PCP, em debate na passada semana e submetido a votação na sessão plenária de amanhã, sublinha que a política de concentração e encerramento de serviços de saúde está a ser sentida pelas populações como «um factor de insegurança e de afastamento do acesso aos cuidados de saúde».
Para os comunistas, além de visar restringir a despesa em saúde, «mesmo que à custa de um sério condicionamento da prestação dos cuidados», esta política está a determinar «um sério retrocesso na capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde».
Enfatizado no texto é, por outro lado, o facto de estas orientações estarem a provocar um conjunto de ocorrências, das quais só uma pequena parte tem vindo a público, que põem a nu a «insuficiência crescente da resposta dos serviços de saúde», com evidentes e consideráveis prejuízos para as populações.
Salientada é também a ideia de que esta política de encerramento sistemático dos mais variados serviços de saúde configura uma orientação que «desvaloriza a importância de uma estrutura de proximidade dos serviços, cujo abandono não tem alternativa real no terreno».