Conspiração para o «Sim»
Uma correspondência confidencial publicada pelo jornal irlandês Daily Mail revela que o governo de Dublin procura enganar os eleitores para assegurar a vitória do «Sim» no único referendo sobre o tratado que terá lugar na União Europeia.
A filtragem de mensagens desagradáveis é um dos métodos utilizados
Na edição de dia 14, o Daily Mail acusa o governo irlandês de ter em marcha uma campanha de desinformação da opinião pública sobre o tratado europeu.
O jornal baseia-se no conteúdo de um correio electrónico enviado pela diplomata britânica Elizabeth Green ao governo de Londres, após uma reunião que manteve com Dan Mulhall, alto responsável do Ministério irlandês dos Negócios Estrangeiros, no qual dá conta dos esforços empreendidos pelo executivo de Dublin, para assegurar a vitória do «Sim» e enfraquecer a campanha pelo «Não».
Os opositores ao novo tratado europeu sublinham que está em causa a capacidade de o país decidir no futuro sobre as políticas fiscal e social e alertam, em particular, para o carácter militarista do texto, que abre caminho para a constituição de um exército europeu, estrutura que viola a neutralidade irlandesa que é um dos princípios fundadores do Estado.
Sabendo que a França é um dos países que mais tem insistido na ideia da criação de forças armadas europeias, o governo irlandês antecipou deliberadamente a realização do referendo para o próximo mês de Junho, temendo eventuais declarações «contraproducentes» da presidência europeia francesa que tem início no segundo semestre deste ano.
Elizabeth Green refere que o governo irlandês via como mais apropriada a escolha de uma data para a consulta no mês de Outubro. Contudo, «o risco de acontecimentos contraproducentes durante a presidência francesa, sobretudo em matéria de política de defesa, é demasiado elevado. Nicolas Sarkozy é totalmente imprevisível», escreve a diplomata.
Em simultâneo, as recentes negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) têm vindo a suscitar protestos por parte dos agricultores irlandeses, designadamente contra as posições tomadas pelo comissário europeu para o Comércio Internacional, Peter Mandelson. Ainda na semana passada o sector realizou uma jornada de luta em defesa de apoios à agricultura.
Assinalando estas preocupações, Green relata que o governo irlandês receia que «um acordo na OMC assente em concessões poderia conduzir as poderosas organizações agrícolas a recusarem o seu apoio» ao tratado.
Evitar «más notícias»
para o eleitorado
Todavia, o governo está confiante devido ao facto de que o tratado não pode ser lido ou entendido pela maioria dos eleitores, circunstância que é reforçada pelos apertados prazos da campanha. A este respeito, Green anota que Dublin está consciente de que «a maior parte das pessoas não terá tempo de estudar o texto e seguirá as recomendações dos políticos». Quanto à estratégia desta campanha, a diplomada explica que o «objectivo» do governo «é concentrar-se sobre as vantagens globais da União Europeia, evitando falar sobre o tratado em si».
Elizabeth Green dá ainda conta de manobras de diversão contra os defensores do «Não», designadamente em relação à data definitiva da consulta.
«Os irlandeses [leia-se o governo] escolheram o dia 29 de Maio, mas irão atrasar o anúncio desta data de modo a deixar o campo do Não na incerteza». «O Taoiseach [primeiro-ministro] e Dermot Ahern [ministro dos Negócios Estrangeiros] consideram que haveria uma pequena vantagem em deixar o campo do Não na dúvida.»
Entretanto, o referendo foi marcado para 12 de Junho, mas nada garante que a data não será de novo alterada para desestabilizar a campanha do Não.
Por último, a diplomata informa que a própria Comissão Europeia (CE) tem vindo a colaborar activamente com os responsáveis irlandeses. Na sua recente visita a Dublin, a vice-presidente da CE, Margot Wallstrom, assegurou Dermot Aern de que «a Comissão pretende atenuar ou adiar a divulgação de mensagens que poderiam ser contraprodutivas».
O jornal baseia-se no conteúdo de um correio electrónico enviado pela diplomata britânica Elizabeth Green ao governo de Londres, após uma reunião que manteve com Dan Mulhall, alto responsável do Ministério irlandês dos Negócios Estrangeiros, no qual dá conta dos esforços empreendidos pelo executivo de Dublin, para assegurar a vitória do «Sim» e enfraquecer a campanha pelo «Não».
Os opositores ao novo tratado europeu sublinham que está em causa a capacidade de o país decidir no futuro sobre as políticas fiscal e social e alertam, em particular, para o carácter militarista do texto, que abre caminho para a constituição de um exército europeu, estrutura que viola a neutralidade irlandesa que é um dos princípios fundadores do Estado.
Sabendo que a França é um dos países que mais tem insistido na ideia da criação de forças armadas europeias, o governo irlandês antecipou deliberadamente a realização do referendo para o próximo mês de Junho, temendo eventuais declarações «contraproducentes» da presidência europeia francesa que tem início no segundo semestre deste ano.
Elizabeth Green refere que o governo irlandês via como mais apropriada a escolha de uma data para a consulta no mês de Outubro. Contudo, «o risco de acontecimentos contraproducentes durante a presidência francesa, sobretudo em matéria de política de defesa, é demasiado elevado. Nicolas Sarkozy é totalmente imprevisível», escreve a diplomata.
Em simultâneo, as recentes negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) têm vindo a suscitar protestos por parte dos agricultores irlandeses, designadamente contra as posições tomadas pelo comissário europeu para o Comércio Internacional, Peter Mandelson. Ainda na semana passada o sector realizou uma jornada de luta em defesa de apoios à agricultura.
Assinalando estas preocupações, Green relata que o governo irlandês receia que «um acordo na OMC assente em concessões poderia conduzir as poderosas organizações agrícolas a recusarem o seu apoio» ao tratado.
Evitar «más notícias»
para o eleitorado
Todavia, o governo está confiante devido ao facto de que o tratado não pode ser lido ou entendido pela maioria dos eleitores, circunstância que é reforçada pelos apertados prazos da campanha. A este respeito, Green anota que Dublin está consciente de que «a maior parte das pessoas não terá tempo de estudar o texto e seguirá as recomendações dos políticos». Quanto à estratégia desta campanha, a diplomada explica que o «objectivo» do governo «é concentrar-se sobre as vantagens globais da União Europeia, evitando falar sobre o tratado em si».
Elizabeth Green dá ainda conta de manobras de diversão contra os defensores do «Não», designadamente em relação à data definitiva da consulta.
«Os irlandeses [leia-se o governo] escolheram o dia 29 de Maio, mas irão atrasar o anúncio desta data de modo a deixar o campo do Não na incerteza». «O Taoiseach [primeiro-ministro] e Dermot Ahern [ministro dos Negócios Estrangeiros] consideram que haveria uma pequena vantagem em deixar o campo do Não na dúvida.»
Entretanto, o referendo foi marcado para 12 de Junho, mas nada garante que a data não será de novo alterada para desestabilizar a campanha do Não.
Por último, a diplomata informa que a própria Comissão Europeia (CE) tem vindo a colaborar activamente com os responsáveis irlandeses. Na sua recente visita a Dublin, a vice-presidente da CE, Margot Wallstrom, assegurou Dermot Aern de que «a Comissão pretende atenuar ou adiar a divulgação de mensagens que poderiam ser contraprodutivas».