
- Nº 1867 (2009/09/10)
Chipre aspira à reunificação e recusa ser porta-aviões
Festa do Avante!
A República de Chipre é o único Estado-membro da União Europeia liderado por comunistas. O presidente, Demetris Christofias, apesar das suas funções de chefe de Estado e de governo, permanece na direcção do partido como membro do Comité Central do Akel. Esta particularidade (chamemos-lhe assim) de Chipre, quase sempre escamoteada, coexiste com uma situação que se arrasta há 35 anos: a divisão da ilha desde que a Turquia invadiu e ocupou um terço do território, a Norte, aí instalando um governo fantoche que não é reconhecido internacionalmente.
«Não é uma situação fácil», disse Vera Polycarpo, do Akel – que esteve no debate de sábado na Cidade Internacional acompanhada por Kupros Pefkos –, sublinhando que a ocupação da Turquia «está sempre presente» na vida do país.
As negociações para a reunificação iniciadas há um ano, conforme definido nas resoluções da ONU, visam criar uma federação entre as duas partes da ilha e as duas comunidades (cipriotas gregos e cipriotas turcos), com os mesmos direitos, num Estado uno, soberano e com personalidade internacional única. O processo é moroso, mas a esperança de uma evolução positiva na segunda ronda negocial agendada para hoje, 10 de Setembro, é grande.
«Apesar da pressão da direita e mesmo de alguns sectores dos partidos que fazem parte da coligação do governo, acreditamos que é possível um futuro comum para as duas comunidades», afirmou Vera Polycarpo, já que os povos de ambas são pacíficos e não têm dificuldades em entender-se. «Se não houver pressões externas e se a Turquia respeitar os compromissos assumidos» o processo de reunificação pode avançar, referiu a representante do Akel, lembrando os constantes obstáculos levantados pela Turquia, que não reconhece Chipre e que até à data ainda não implementou o acordo firmado com a União Europeia (UE) para abrir os portos e aeroportos a Chipre. O acordo tem de ser posto em prática até final de 2009, mas se tal não acontecer, as autoridades cipriotas terão de equacionar a sua posição quanto ao prosseguimento das negociações para a adesão da Turquia à UE.
Outro factor de perturbação é a presença de 40 000 soldados turcos estacionados no Norte da ilha, bem como os 120 000 colonos aí instalados nas últimas três décadas. Se a isto juntarmos as pressões externas – para não dizer chantagem – sobre Chipre, seja no sentido de levar o país a aderir à NATO e a aceitar a militarização da sua política externa, seja com os constrangimentos suscitados pelo Acordo de Nabuco – um projecto de importância geopolítica para a UE, envolvendo para já o Azerbeijão, Egipto, Turquia e Geórgia e que visa criar uma alternativa para o transporte de gás natural do Mar Cáspio para a Europa, deixando de fora a Rússia – temos um quadro da complexidade das questões com que se defronta o governo do AKEL, que aspira a fazer de Chipre uma «ponte entre dois continentes e não um porta-aviões da NATO», nas palavras de Vera Polycarpo.
O eurodeputado João Ferreira, acompanhado por Pedro Guerreiro, chamaria por seu turno a atenção para as questões do alargamento da União Europeia, sublinhando que essa deve ser «uma decisão soberana de cada povo». Lembrando que o alargamento «serve objectivos de domínio», o novo deputado do PCP no Parlamento Europeu frisou a necessidade de se ter em conta as consequências para o país candidato à adesão e para o conjunto da União Europeia, e destacou a luta que tanto o PCP como o AKEL travam, a nível comunitário, por uma Europa dos povos, de paz e de cooperação.