Revolta no têxtil
Milhares de operários têxtil voltaram às ruas de Daca, capital do Bangladesh, no sábado, 31, em protesto contra o novo salário mínimo aprovado pelo governo que os mantém na miséria.
A ganância das multinacionais reduz o povo bengali à miséria
Após meses de obstinadas greves que paralisaram muitas centenas de fábricas têxteis, e se fizeram acompanhar de verdadeiras batalhas campais com a polícia, o governo do Bangladesh elevou, na semana passada, o valor do salário mínimo de 1662 takas (19,1 euros) para três mil takas (34,5 euros).
Este aumento de 80 por cento é no entanto recusado pelos sindicatos, que ameaçam com uma nova greve geral, reclamando um mínimo de cinco mil takas (55,9 euros) para fazer face ao aumento dos preços da alimentação.
Na sexta-feira, 30, após o anúncio dos novos valores, milhares de operários, principalmente mulheres, manifestaram a sua indignação, bloqueando estradas e atacando instalações fabris. Nos violentos confrontos com os corpos de intervenção, que se prolongaram durante o fim-de-semana, resultaram pelo menos 100 feridos.
Os operários têxteis do Bangladesh são os mais mal pagos do mundo, alimentando fabulosos lucros de um conjunto de cadeias multinacionais de vestuário. Grupos como Wal-Mart, Tesco, H&M, Zara, Carrefour, Gap, Marks & Spencer, Levi Strauss, entre outros, fazem fabricar os seus produtos neste país onde existe uma indústria especializada que emprega mais de 3,5 milhões de pessoas em cerca de quatro mil unidades fabris.
Várias associações internacionais têm denunciado as práticas espoliadoras das multinacionais que, para além de mão-de-obra barata, ainda beneficiam de grandes isenções fiscais concedidas pelo governo. Como refere a ONG Action Aid, só «o volume de negócios da H&M é superior ao orçamento do Estado do Bangladesh».
No entanto, o país depende quase totalmente da actividade deste sector, responsável por 80 por cento das receitas em divisas, ou seja, cerca de 9,1 mil milhões de euros. Mesmo em tempo de crise mundial, os grupos internacionais continuam a bater recordes de produção neste país. Em Junho, apesar das greves, as exportações do sector alcançaram 1,72 mil milhões de dólares (1,30 mil milhões de euros), o mais alto valor de sempre.