Ideólogos e papagaios

Filipe Diniz

Se os grandes media prestassem algum serviço público decente não deixariam de passar nas vésperas da cimeira da Nato o «Dr. Strangelove» de Kubric, obra-prima que descreve os mecanismos demenciais do militarismo anticomunista e a ameaça de destruição global que representa.

Mas o que acontece é o inverso: é a promoção de um ambiente de intimidação e histeria securitária que procura identificar acções de massas com violência e desacatos; é a publicação diária de prosas e comentários fazendo a apologia e a justificação da coisa.

Nesta tarefa há duas categorias: a dos ideólogos e a dos papagaios. O «Público» de sábado passado trazia excelentes exemplos: Teresa de Sousa (TS, na categoria papagaio) e Pacheco Pereira (PP, na categoria ideólogo).

TS papagueia um «relatório de peritos» chefiados por Madeleine Allbright: a Nato prepara a guerra no «ciberespaço», o novo «inimigo invisível». Inimigos invisíveis são uma especialidade da Nato. À conta deles tem cometido agressões militares, crimes de guerra e violências de toda a ordem, desde a ex-Jugoslávia ao Afeganistão. Como não existe «ameaça comunista», não faltam à Nato peritos para inventar «novas ameaças».

PP («As democracias devem estar armadas») escreve um concentrado reaccionário sobre as acções de massas de protesto e sobre a Nato: acções de massas são expressões de «antiamericanismo»; sem a Nato «o mundo fica muito mais perigoso e inseguro».

«Antiamericanismo» não quer dizer politicamente nada. O termo certo é «anti-imperialismo». É em seu nome que muitos e muitos milhares de norte-americanos combatem também a Nato, cuja potência hegemónica são os EUA. Sabem que o imperialismo, inimigo dos povos, é igualmente inimigo do povo dos EUA. Sabem que são os seus filhos - oriundos na maioria das camadas sociais mais pobres e excluídas – quem morre aos milhares nas actuais aventuras imperialistas.

A Nato, entre cujos fundadores está o Portugal de Salazar, nunca foi defensiva e nada tem a ver com a democracia. É uma ameaça permanente contra a segurança e a paz.

Na cimeira estarão Cavaco e Sócrates.

Na rua, contra a Nato e pela Paz, estará o povo português.

 



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