Nas jornadas de trabalho dos deputados do PCP no Parlamento Europeu, que concluímos no final da semana passada com visitas aos distritos da Guarda e Castelo Branco, recolhemos inúmeros exemplos das consequências das políticas de direita que, seguindo as orientações da União Europeia, levaram à destruição de partes fundamentais do nosso aparelho produtivo, à crescente privatização de sectores estratégicos, à liberalização do sector financeiro e de serviços públicos, além de ter servido de pretexto para maiores ataques aos direitos sociais e laborais. As consequências estão aí: desemprego, desigualdades sociais, pobreza, agravamento do défice e da dívida pública e privada de Portugal ao estrangeiro.
E novas ameaças surgem, como na área dos cuidados de saúde, com a nova proposta de directiva sobre a liberalização destes serviços, a acrescentar ao encerramento de serviços de saúde ou ao seu atrofiamento e maiores dificuldades de acesso. Ainda há dias, na visita ao hospital de Chaves, que serve uma larga região de Trás-os-Montes, região onde acabaram comboios, ouvi grandes preocupações de utentes (mulheres e homens de fracos recursos económicos), de médicos, enfermeiros e outros funcionários com os anunciados cortes do Governo nos transportes de doentes e outros apoios sociais.
Foi a aplicação da Política Agrícola Comum, da Política Comum de Pescas e da liberalização do comércio internacional que levou à destruição de uma parte significativa dos nossos sectores produtivos, a que acresceu, na última década, a perda da soberania nas políticas monetárias e cambiais, com a entrada de Portugal na União Económica e Monetária.
Por todo o País são muito visíveis as consequências desta política, com o encerramento de milhares de empresas, a destruição de milhares de explorações agrícolas, o abandono das terras e a ameaça que persiste sobre alguns sectores industriais, como o têxtil, novamente pressionado pelos acordos de livre comércio da União Europeia, seja no Norte com a têxtil algodoeira e os têxteis-lar, seja nas Beiras, designadamente no distrito de Castelo Branco.
Tudo isto contribuiu para sujeitar a indústria portuguesa e a agricultura aos interesses da Alemanha e da França, permitindo também a desregulamentação da estratégia das multinacionais europeias, americanas, japonesas ou outras, que abandonam o País ou centralizam a produção quando se acabam os apoios comunitários. Por exemplo, como ainda esta semana comprovámos na Guarda, a multinacional americana Delphi encerrou a fábrica, que ali começou com cerca de três mil trabalhadores, e agora terminou com apenas cerca de 300, sendo que somente alguns foram transferidos para Castelo Branco, aumentando ainda mais o desemprego na região.
A verdade é que foram os deputados comunistas no Parlamento Europeu (PE) quem sempre votou contra estas políticas, quem alertou para as suas consequências, quem denunciou os seus resultados e exigiu a sua revisão, mesmo quando os deputados de outros partidos insinuavam que queríamos impedir a modernização de Portugal, ou quando Cavaco Silva, então primeiro-ministro, afirmava que tínhamos de estar no «pelotão da frente». Foi o PCP que sempre denunciou e continua a denunciar estas medidas de crescente submissão de Portugal às orientações e directivas europeias, seja no PE, seja na Assembleia da República. Alguns sectores da economia portuguesa reconhecem-no e afirmam-no, como ainda agora aconteceu na Covilhã, com os industriais dos lanifícios.
É particularmente visível, neste momento, o enorme descontentamento popular com as consequências das medidas anti-sociais dos sucessivos PEC e do actual orçamento do Estado que recebeu apoio do PS e do PSD. Sentimo-lo em sítios tão diversos como na visita ao Museu do Côa, onde o Governo PS está a pôr tudo em causa, sem ouvir quem ali trabalha, não destinando verbas para o seu funcionamento e apostando na privatização da sua gestão através de mais uma Fundação.
Estamos nos últimos dias da campanha eleitoral. Como repetimos nos contactos com a população, é preciso transformar o descontentamento com a política de direita de Sócrates e Cavaco, do PS, PSD e CDS no voto de protesto, indignação, revolta e firme determinação na construção de uma alternativa que aumente a produção, e distribua com justiça a riqueza produzida, para aumentar o emprego com direitos e erradicar a pobreza. Esse é o voto em Francisco Lopes, já no próximo domingo, para reforçar e apoiar novas lutas, depois das eleições.