Vozes afinadas da exploração

Vasco Cardoso

Em grande sintonia e afinação no tom, ouvimos um coro de elogios ao roubo no subsídio de Natal. Alinharam não só os suspeitos do costume mas também outros que costumam ser publicamente mais comedidos nestas coisas de roubos e assaltos a direitos.

Uma actuação que contou com compasso cúmplice do Presidente da República, que disputa a cada dia o papel de maestro da política de direita com o próprio Governo e cuja actuação se articula em cada declaração pública com o programa de submissão e agressão subscrito por PS, PSD e CDS.

Sem surpresa, ouvimos o governador do Banco de Portugal – Carlos Costa – a entoar a tese de que é preciso cortar no défice e conter a dívida à custa dos salários e da exploração de quem trabalha.

Lá fora, pelo voz do luso presidente da Comissão Europeia, o Sr. Barroso, ouvimos o hino da alegria de quem vê coragem e determinação neste Governo e se sente acompanhado, bem acompanhado, no seu longo trajecto de vassalagem aos grupos económicos e às grandes potências.

Pelo patronato cantou o presidente da Associação Empresarial de Portugal – uma espécie de chefe dos patrões – em júbilo pelo que este roubo representa de «ataque ao consumismo» do povo na época de Natal, esse «verdadeiro disparate», como o próprio afirmou, que é comprar uns agasalhos de Inverno, pagar as propinas dos filhos, os óculos ou prótese dentária de um dos membros da família.

E do céu chegou a voz do Cardeal Patriarca de Lisboa para quem este roubo «não choca», antes se aceita pela própria «justiça social» que a dita medida comporta. E, dizemos nós, pela reconciliação que a pobreza proporciona entre o povo de Deus e os negócios da Igreja.

Deste coro afinado ouvimos música celestial para os ouvidos do capital ou, como se diz agora, para os mercados. Uma música para esconder o roubo de 800 milhões de euros dos rendimentos dos trabalhadores e dos reformados para os bolsos dos grupos económicos e financeiros. Uma música para acompanhar o banquete das privatizações, dos benefícios fiscais, dos lucros e privilégios que afundam o País. Aos trabalhadores e ao povo não resta outra alternativa que não seja a de desafinar e estragar a festa!



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