Tomar nas mãos o destino das próprias vidas
Interjovem/CGTP-IN, Associação de Bolseiros de Investigação Científica, Juventude Operária Católica e o Movimento 12 de Março uniram-se no combate à precariedade, sábado, num pic-nic que levou a Lisboa milhares de jovens trabalhadores de todo o País.
«É possível e viável outro modelo de desenvolvimento»
«Reafirmamos, com convicção, que é possível e viável outro modelo de desenvolvimento mais justo, que vise a dignidade da pessoa e não o lucro, que combata as desigualdades, que ponha fim ao desemprego, aos baixos salários, à destruição de direitos laborais, da contratação colectiva e aos entraves à emancipação dos jovens, como por exemplo as dificuldades para aquisição de habitação», lê-se na carta aberta aprovada pelos participantes e as organizações promotoras desta iniciativa.
No documento, apresentado pelo coordenador da Interjovem, Valter Lóios, e aprovado pelos participantes no fim da iniciativa, a Interjovem, a Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), a Juventude Operária Católica (JOC) e o Movimento 12 de Março (M12M) comprometem-se a «continuar esta luta nas empresas, ruas e todos os outros locais, mesmo aqueles em que, à partida, nos pareça ser impossível», garantindo que os jovens trabalhadores estão apostados em tomar nas próprias mãos o seu presente e o futuro de todos.
«Tomemos nas nossas mãos os destinos das nossas vidas» foi o lema do pic-nic contra a precariedade, que terminou com um fim de tarde cheio de música e de luta, com actuações dos Chullage (RAP/hip-hop), dos Nó (música popular portuguesa) e dos Peste & Sida (punk rock).
A resposta necessária
Chegados ao alto do Parque Eduardo VII, os participantes dividiram-se em tantos painéis de discussão como as organizações promotoras, escolhendo em que painel de debate participariam.
O painel de discussão da Interjoverm/CGTP-IN, que contou com largas dezenas de participantes, subordinou-se ao tema «A resposta necessária» e foi moderado pela dirigente da organização juvenil da central sindical de classe e do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços de Portugal, Ana Pires.
Jovens de todas as proveniências e ramos de actividade revelaram a sua experiência laboral e sindical, salientaram as dificuldades vividas pelos jovens com vínculos precários nos locais de trabalho, a constante insegurança quanto ao futuro, as baixas remunerações e os horários de trabalho desregulados. Mas apesar de todas as dificuldades foram vários os exemplos a demonstrar que é possível lutar nos locais de trabalho, vencendo dificuldades, ameaças de represálias e preconceitos. A importância da sindicalização e a necessidade de dar combate a um futuro que os actuais governantes pretendem que seja de exploração laboral e de perdas acentuadas de direitos, de condições de vida e de trabalho, foi o mote da generalidade das intervenções. Trabalhadoras e trabalhadores de grandes superfícies comerciais, de empresas dos sectores público e privado, de call-centers, jovens professores com contratos precários e trabalhadores sujeitos a horários e a condições de trabalho profundamente injustos concluíram que os locais de trabalho são o espaço privilegiado da luta de classes e que é lá, principalmente, que a luta sindical e a necessidade de consciencialização são prioritárias.
Grande foi a necessidade sentida em todas as intervenções para que a luta contra a precariedade, as medidas do Governo e da troika estrangeira se reforce e amplie. Esse foi o compromisso central assumido pelos participantes.
Geração «à rasca» com o movimento sindical
No painel do M12M, os participantes fizeram um balanço do protesto da «geração à rasca», de dia 12 de Março, e debateram como prosseguir a luta contra a precariedade. «Temos contactos com a Interjovem/CGTP-IN desde antes da manifestação de 12 de Março, disse ao Avante! o porta-voz do M12M, João Labrincha, para quem «o apoio e a solidariedade, desde a primeira hora», prestados ao movimento pela central sindical de classe «foi um dos motivos para o grande sucesso que teve aquela manifestação».
«Consideramos que os sindicatos têm uma importância fulcral para a juventude, e também combatemos toda a propaganda contra a sua importância, por acharmos que são eles quem sempre defendeu e que continuam a defender os direitos dos trabalhadores», explicou, salientando que o M12M sempre agiu «em prol do reforço do movimento sindical, apoiando as suas lutas, porque elas também são as nossas».
«É muito importante esta relação entre estas organizações, porque elas espelham a vontade dos jovens trabalhadores traçarem linhas de acção e objectivos comuns contra a precariedade e por condições dignas de trabalho, para que as lutas se tornem mais eficazes», considerou João Labrincha.
Da mesa-debate «saiu a conclusão da necessidade de dar mais força a esta luta» e de informar «melhor a juventude e a população sobre os problemas da precariedade laboral». «Também concluímos pela necessidade de cada um de nós se responsabilizar mais por informar todos os que pudermos, através de todos os meios ao nosso alcance, nomeadamente as redes digitais, para contrariar a comunicação social dominante, que não apresenta alternativas à política de destruição de direitos», sublinhou.
A dignidade dos jovens
Na mesa-debate da Juventude Operária Católica, o tema foi «A dignidade dos jovens». Aqui, «os jovens dividiram-se em três grupos e partilharam experiências em que a sua dignidade, enquanto trabalhadores, foi posta em causa», explicou a Secretária Nacional da JOC, Inês Moreira. Aqui também participaram estudantes universitários «que, como os jovens trabalhadores, revelaram grande descontentamento por os seus direitos não estarem a ser respeitados«. No fim da discussão em cada painel de debate, os grupos uniram-se e concluíram pela «necessidade de identificarmos sinais de esperança que dêem perspectivas de dignidade aos jovens», afirmou a dirigente da JOC.
Aos participantes no pic-nic foi distribuído um decálogo com «dez propostas para o futuro», onde, entre apelos à integridade e à acção solidária, se apela a cada jovem para que dê «a conhecer a realidade da vida dos trabalhadores, numa atitude de denúncia de tudo o que vai contra a dignidade humana».
Bolseiros querem estatuto digno
Os bolseiros da investigação cientifica debateram a sua situação actual num painel subordinado às «Alterações ao estatuto do bolseiro». «Vivemos condições muito precárias, quanto aos direitos que não temos e pretendemos conquistar, melhorando a nossa acção e as nossas propostas», referiu o porta-voz da ABIC, André Janeco.
«Grande parte dos nosso problemas prende-se com o estatuto do bolseiro de investigação científica, com o qual não somos considerados como trabalhadores, embora cheguemos a passar dezenas de anos a trabalhar neste campo». As dificuldades no acesso à Segurança Social, ao subsídio de desemprego, à protecção na doença, «que é mínima», e na aposentação foram graves problemas enunciados pelos participantes, acrescentou André Janeco, salientando que «a alteração deste estatuto para outro que nos dignifique, garantindo-nos contratos efectivos de trabalho e um futuro seguro e com direitos, é o nosso objectivo central».