O dever de resistir!
A CDU registou um resultado negativo com perda de massa eleitoral e a eleição de menos um deputado. Trata-se de um resultado alcançado num quadro político, social e eleitoral marcado pelo exponencial agravamento das injustiças sociais, do desemprego e da pobreza, num contexto propício à cristalização de sentimentos de desalento, desânimo e descrença, com a interiorização, mesmo junto de muitos apoiantes da CDU, de um fatalismo e resignação face às propagandeadas inevitabilidades defendidas pelas outras candidaturas.
Rumo de declínio económico e de injustiça social
À difusão das inevitabilidades, somou-se o factor da desvalorização das eleições e da importância do seu desfecho. Os sucessivos acontecimentos provocados pelas candidaturas do PND, PTP, PAN, com a intenção de inviabilizar ou adiar as eleições, através dos apelos à desistência das candidaturas das oposições e ao abandono da campanha, não só alimentaram a desorientação e a alienação, como também configuraram toda uma operação de descrédito e desvalorização destas eleições.
A par daqueles factores de dispersão e diversão, para lá dos condicionamentos e pressões do poder regional e da promoção mediática dedicada a determinadas candidaturas, no quadro de uma campanha eleitoral onde a CDU teve de enfrentar uma atitude pré-determinada de silenciamento, desvalorização e discriminação por parte da comunicação social, nomeadamente de difusão nacional, confirmou-se a grande permeabilidade de sectores do eleitorado a discursos de cariz populista e demagógico.
Embora os votos relacionados com aquelas dinâmicas tenham correspondido para muitos eleitores, ainda que erradamente, a sinceras motivações para a expressão do protesto, objectivamente, enquanto produto da protecção mediática, mas sem projecto consequente e sem soluções adequadas para a gravidade dos problemas do desenvolvimento regional, constituíram obstáculos à construção coerente de uma alternativa capaz de assegurar a ruptura com o actual rumo de injustiças.
A força do povo
Tratando-se de um resultado desfavorável que nos retira meios e possibilidades de intervenção política, aos eleitores que confiaram na CDU, muitos dos quais pela primeira vez, que valorizaram a nossa capacidade de protesto e de intervenção, muitos dos que nos reconhecem como indispensáveis para a luta contra as injustiças sociais e para a necessária construção de uma nova política, todos quantos integram a luta organizada nas localidades, nas empresas e locais de trabalho, sem a confiança e o voto dos quais não teria sido possível resistir nesta que foi, sem qualquer dúvida, a mais dura batalha eleitoral dos últimos anos, a todos a CDU assegura que continuará a ser a força do povo para fazer valer direitos, combater injustiças e construir um outro rumo e uma outra política.
Resultado negativo para a Região
A vitória do PSD, traduzida na mais baixa votação de sempre, é em si mesmo um factor negativo quanto ao futuro da Região e à evolução da situação económica e social na medida em que garante, desde logo, pela via da maioria absoluta no Parlamento, o prolongamento do regime jardinista, assegura a estabilidade política de direita, mas que significará mais instabilidade para a vida dos trabalhadores e do povo, como também o prosseguimento do rumo de declínio económico e de injustiça social.
A vitória do PSD não pode ser dissociada dos aproveitamentos de meios públicos colocados ao seu serviço, do quadro recorrente de condicionamentos e até de coação eleitoral, factores esses integrantes da natureza do regime jardinista. Contudo, teve um peso determinante a desastrada estratégia de várias candidaturas pelos contributos que deram para a instrumentalização da dívida, desviando todas as atenções de gravíssimos problemas concretos e das suas directas responsabilidades quanto à situação económica e social da Região. Jardim e o PSD exploraram a seu favor, a partir de uma ardilosa postura de vitimização, a campanha alimentada pela generalidade das candidaturas e animada pela comunicação social, avivando disputas e animosidades «contra Lisboa», simulando até à exaustão o discurso do defensor da Região.
O PS alcançou o seu pior resultado de sempre e confirma todo um itinerário político de progressivo descrédito, consequência de um prolongado período de instabilidade e de disputa interna pelo poder, expressão em si das dificuldades sentidas para afirmar um espaço próprio de acção. Deixou de ser o segundo partido mais votado determinando assim a erosão da sua base eleitoral e a sua transferência para outras forças políticas, nomeadamente para o CDS.
O CDS obtém resultados eleitorais que oscilam em função das conjunturas políticas e na dependência das variações do PS e do PSD. Alcançou o seu melhor resultado, passando a ser a segunda força regional, tendo beneficiado de um conjunto de apoios que ajudaram a disfarçar todas as suas responsabilidades e comprometimento com o ataque a rendimentos e ofensiva contra direitos que na República está a concretizar.
Estas eleições ficaram ainda marcadas pela emergência de forças partidárias no espectro político regional (PTP e o PAN), a que se somaram partidos recentemente lançados na Região (PND e MPT), cujos desempenhos eleitorais influenciaram decisivamente a arrumação das forças políticas resultante deste acto eleitoral. Em particular o PTP e o PND, animados por uma continuada promoção mediática, cultivando uma estratégia artificial de confronto com o poder, através da ostentação de um verbalismo e radicalismo aparentemente esquerdizante, catalisaram expressões significativas do voto de protesto, o que também implicou prejuízo directo para a CDU.
A influência político-partidária conquistada pelos partidos emergentes assenta, em grande parte, numa estratégia que não pondo em causa o sistema e a sua base económica concorre para desviar o descontentamento de opções mais coerentes e decisivas para combater a natureza da política e o regime jardinista.
Uma última nota para referir o facto de o BE ter perdido a sua representação parlamentar. Tratando-se do seu pior resultado eleitoral, o retrocesso eleitoral ressente-se, certamente, da perda de organização, quadros e base social de apoio que caracterizou a antiga UDP, a qual chegou a ter três deputados no Parlamento da Madeira.
Reforçar a organização
Se o resultado alcançado pela CDU fica aquém das necessidades que a situação do País e da Região exige, se não traduz em expressão eleitoral a influência política e social da CDU na Região, o seu reconhecido percurso de intervenção em defesa dos direitos populares, daqui para a frente é nosso acrescido dever reforçar a organização junto dos trabalhadores e do povo e intensificar a presença nas muitas lutas que hão-de ajudar a construir uma vida melhor, mais solidária e mais justa.
Cá estamos e estaremos para resistir. Estamos e estaremos aí, nas frentes de luta e de futuro assumido, com coragem e firmeza, o que nos cabe de revolucionários que sabem ultrapassar dificuldades e estão, de corpo inteiro, aptos a impulsionar medidas e acções de resistência, de consciencialização ideológica e de superação da situação que os inimigos do 25 de Abril querem impor à nossa vida e à democracia.