G20 – uma mão cheia de nada?
A aparente ineficácia das cimeiras é mais uma expressão da violenta fuga em frente do sistema
A reunião dos «líderes» do G20 realizada a passada semana em Cannes é altamente elucidativa do actual momento que vivemos no plano internacional e do grau de aprofundamento da crise estrutural do capitalismo
Depois de várias reuniões insistindo no falso e estafado discurso da «retoma», o G20 acaba de reconhecer no seu comunicado final que «desde a nossa última reunião a retoma mundial foi enfraquecida, particularmente nos países desenvolvidos», referindo-se igualmente ao «inaceitável nível do desemprego», ao «aumento das tensões nos mercados financeiros», ao «abrandamento do crescimento nos mercados emergentes» e ainda à crise no mercado de matérias-primas e aos desequilíbrios mundiais. Nesse mesmo comunicado são ainda reconhecidas as crescentes expressões das crises alimentar e energética.
Ou seja, o G20 acaba por reconhecer com a linguagem própria de um conclave de natureza imperialista o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo nas suas diversas vertentes. Acaba por evidenciar as tensões crescentes quer entre os diversos pólos da tríade capitalista (EUA, UE e Japão) quer entre estas e os chamados países emergentes e, finalmente, acaba também por demonstrar, ainda que de forma indirecta, que as medidas que o próprio G20 defendeu e defende não só não resolveram qualquer problema como contribuíram para o seu aprofundamento.
Tal acontece não por qualquer rebate de consciência das potências que continuam a determinar os resultados destas cimeiras – especialmente os EUA, Grã Bretanha, Alemanha e França. Acontece porque é já impossível esconder a amplitude da crise económica e financeira nos principais centros capitalistas mundiais e porque é necessário dramatizar situações como a da União Europeia para desviar atenções de alguns dos principais problemas da economia mundial – principalmente a situação da economia norte-americana – e para tentar envolver países como a China e o Brasil no «pagamento» da crise do capitalismo, estratégia que, para já, foi recusada por estes.
Mas acontece também porque está em curso uma gigantesca operação ideológica e política que, partindo do reconhecimento e também dramatização mediática da situação, tenta «globalizar» a teoria das inevitabilidades, a resignação e o medo, prosseguindo assim a estratégia do imperialismo de regressão social e civilizacional em nome do suposto «combate à crise». Uma estratégia que cada vez mais passa pela férrea imposição aos povos – se necessário por via da força das armas – de um «novo paradigma» assente no aumento exponencial da exploração e opressão dos trabalhadores e dos povos, numa ainda maior concentração e centralização do capital, numa agenda recolonizadora, militarista e de ingerência e em maiores ataques à democracia e aos direitos dos povos, nomeadamente a soberania nacional.
Do ponto de vista das reais soluções para a profunda crise económica e social que afecta quase todo o mundo as conclusões do G20 são sem sombra de dúvida uma mão cheia de nada, e isso foi também visível nas cimeiras da UE. Mas tal facto não significa que a ofensiva imperialista tenha abrandado, bem pelo contrário. Os recentes acontecimentos demonstram cabalmente que, num quadro de muito rápido aprofundamento da crise e de agudização das contradições inter-imperialistas, os perigos são crescentes. A manobra política e ideológica operada na Grécia em torno da «unidade nacional» para impor à força ao povo grego novas medidas de «austeridade» e para conter o fortalecimento da luta social e de massas, bem como as ameaças de Israel, EUA e Grã-Bretanha relativamente à possibilidade de uma nova aventura militar contra o Irão, são dois exemplos bem elucidativos de que a aparente ineficácia das cimeiras é no fundo mais uma expressão da violenta fuga em frente.