- Nº 2012 (2012/06/21)
Governo aprofunda rumo que viola a Constituição

Mercantilizar a educação

Assembleia da República

Desresponsabilização do Estado das suas funções sociais, aprofundando o processo de mercantilização e privatização, assim vai o rumo do Governo em matéria de Educação. O mais recente testemunho desta orientação é o diploma que transpõe a directiva Bolkenstein e altera o Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo, que esteve dia 6 em debate no Parlamento.

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Na apresentação da proposta de lei, que baixou para debate na especialidade depois de aprovada na generalidade pela maioria PSD/CDS-PP, o secretário de Estado do Ensino e Administração Escolar, João Casanova de Almeida, justificou-a invocando a obrigatoriedade de cumprir a transposição europeia mas negou que seja um «abrir de portas ao ensino privado». De acordo com a proposta de estatuto, que introduz o deferimento tácito dos pedidos de autorização de abertura de escolas particulares, estes pedidos passam a considerar-se automaticamente aceites caso não haja resposta do Governo no prazo de dois meses.

Para a deputada comunista Rita Rato, porém, o que a transposição daquela directiva europeia significa é a transformação de um direito com consagração constitucional «num lucrativo negócio para os grupos económicos e financeiros».

«Ao transformar a educação num negócio, este Governo pretende criar condições para que às elites económicas correspondam as elites intelectuais, reproduzindo deste modo a actual estrutura de classes sociais», sublinhou a deputada do PCP, que não esqueceu estar ainda subjacente a esta linha de acção o propósito de reservar o conhecimento apenas às elites (pondo à margem desse conhecimento amplas camadas da população), deixando «aos filhos das camadas trabalhadoras uma formação que os habilite apenas à aquisição de competências profissionais, ao serviço das necessidades flutuantes do mercado capitalista».

Ora é esta política baseada nessa opção ideológica de «criar um sistema de ensino privado para as elites, reservando para os filhos dos trabalhadores uma escola pública desqualificada, degradada, sem recursos» princípio subjacente à directiva Bolkstein , que o PCP rejeita com firmeza, exigindo, pelo contrário, como reafirmou Rita Rato, que o Estado assuma na plenitude as suas responsabilidades constitucionais para com a Escola Pública, com vista a garantir um ensino de qualidade para todos.