A lógica da austeridade
A evolução negativa dos salários e o aumento dos lucros das empresas em Espanha apresentam uma reveladora simetria: enquanto os primeiros caíram 3,9 por cento, os segundos subiram 2,4 por cento.
Rendimentos das empresas traduzem aumento da exploração
Segundo dados publicados dia 25 pelo Instituto Nacional de Estatística espanhol (Publico.es, 29.08), o ritmo da queda do conjunto das retribuições dos trabalhadores por conta de outrem acelerou-se no segundo trimestre deste ano, atingindo a taxa negativa de 3,9 por cento, em comparação com o mesmo período do ano passado, acentuando uma tendência que se verifica pelo menos desde 2010.
Já nos dois trimestres precedentes (ver gráfico), os salários registaram evoluções negativas de 2,5 por cento e de 1,3 por cento. Segundo o Instituto espanhol, estes resultados devem-se em grande parte ao aumento do desemprego, já que o número de assalariados retrocedeu 5,1 por cento em relação a 2011. Mas também se observa uma desaceleração da remuneração média por trabalhador, que cresceu apenas 1,3 por cento, ou seja, duas décimas menos que no trimestre anterior.
Em contrapartida, o excedente bruto de exploração, grosso modo, os lucros das empresas, manteve um crescimento apreciável de 3,4 por cento, caindo apenas duas décimas em relação ao trimestre anterior.
Salários perdem peso no PIB
Os valores apurados mostram bem que, apesar da crise e da diminuição do emprego, as empresas continuam a expandir os seus rendimentos (juros de capital, dividendos e rendas das empresas, ou seja, lucros não distribuídos), cujo peso relativo no Produto Interno Bruto (PIB) tem vindo a aumentar consistentemente, ao mesmo tempo que o peso dos salários revela uma tendência inversa.
Assim, no segundo trimestre deste ano (ver gráfico), os salários representaram 46,7 por cento do PIB espanhol, enquanto os rendimentos das empresas subiram para 45,7 por cento. Por outras palavras, a diferença entre estes rendimentos que até aqui eram em média de seis ponto percentuais a favor dos salários, esbateu-se fortemente para apenas um ponto.
As estatísticas revelam ainda uma diminuição do peso dos impostos no PIB de cerca de dez por cento para apenas 7,6 por cento, o que traduz a queda da receita fiscal provocada pela recessão económica, à qual, surpreendentemente ou não, os rendimentos das empresas permanecem imunes.