PCP apresenta moção de censura

Pôr fim ao desastre!

A moção de censura apresentada pelo PCP vai hoje a debate na Assembleia da República, ao mesmo tempo que por todo o País os comunistas estarão nas ruas a explicar as razões desta iniciativa. Como afirmou Jerónimo de Sousa ao anunciar a apresentação da moção de censura, com ela pretende-se «pôr fim ao desastre a que nos conduziu a aplicação do pacto de agressão» e afirmar que «é com outra política – patriótica e de esquerda – e com um governo que a realize, que o futuro dos portugueses e de Portugal se concretizará».

O anúncio foi feito a meio da tarde de segunda-feira, na ilha Terceira (páginas 8 e 9). Transcrevemos em seguida a declaração de Jerónimo de Sousa. 

A moção de censura do PCP é «absolutamente incontornável»

Image 11650

A situação do País e da vida da maioria dos portugueses não pára de se agravar. O desemprego aumenta; os salários, as pensões e reformas continuam a ser roubados; a precariedade e o ataque aos direitos alargam-se; as prestações sociais são cortadas; milhares de empresas – em particular pequenas empresas – fecham; os sectores produtivos continuam a ser penalizados; os serviços públicos encerram ou degradam-se fortemente; nega-se o direito à saúde e à educação; a população paga mais impostos, taxas e contribuições, preços mais altos na água, na electricidade, no gás ou nos combustíveis e deixa de ter acesso a bens essenciais como os medicamentos.

Enquanto isso, os grupos económicos, a banca, os mais ricos, continuam a aumentar ou a manter lucros altíssimos, a não pagar e a fugir aos impostos devidos, usufruindo de escandalosos benefícios fiscais, a receber vultuosas rendas do Estado ou a beneficiar das privatizações.

A grave situação que o País vive em resultado de 36 anos de política de direita, é agora aprofundada pela aplicação do pacto de agressão assinado por PS, PSD e CDS.

Há cerca de três meses o PCP apresentou na Assembleia da República uma moção de censura ao Governo que se provou ser inteiramente justa. O estado a que a aplicação do pacto de agressão e da política do Governo conduziram o País, passado um ano do seu início, era de uma gravidade extrema. A moção de censura que então apresentámos não só demonstrou que a política do Governo apenas servia os interesses dos mais ricos, do grande capital e das grandes potências da União Europeia, mas também que ela falharia até nos objectivos que serviam de pretexto à sua aplicação – a contenção da dívida e do défice das contas públicas.

A vida provou que tínhamos razão. O que caracteriza estes meses, desde Junho passado, é uma profunda e acentuada degradação da situação do País e a aceleração da aplicação pelo Governo das medidas do pacto de agressão.

Image 11600

A luta intensificou-se

Mas, ao mesmo tempo, é inquestionável que neste período aumentou decisivamente a luta contra o pacto de agressão e a política do Governo. Uma política que, tendo tido já entre muitas outras expressões de luta e protesto a resposta de uma greve geral, enfrentou durante o Verão numerosas acções de luta, em particular nas empresas contra o aproveitamento pelo capital das alterações ao Código de Trabalho, mas também das populações, na defesa do seu direito à saúde, à educação, à justiça, aos transportes públicos ou contra a extinção das freguesias.

Uma contestação que incluiu nas últimas semanas manifestações com forte e alargada participação popular e que teve um ponto muito alto no passado sábado em Lisboa na gigantesca manifestação convocada pela CGTP-IN, em que centenas de milhares de portugueses afirmaram a sua exigência de outra política para o País.

É preciso que a força cada vez maior das lutas dos trabalhadores e do povo contra esta política encontre eco e tradução institucional na Assembleia da República. O PCP vai por isso apresentar hoje [segunda-feira] uma moção de censura ao Governo PSD/CDS. Se há três meses a apresentação de uma moção de censura pelo PCP se revelou totalmente oportuna e justificada, neste momento ela é absolutamente incontornável.

Porque a vida dos portugueses já não aguenta mais exploração, mais miséria, mais desemprego. Porque o nosso País não pode continuar a deixar destruir a sua economia e afundar a produção nacional. Porque o nosso País não pode continuar a adiar a renegociação da dívida, indispensável para libertar recursos para o investimento e o desenvolvimento. Porque não podemos permitir que prossiga o criminoso processo de privatizações e de entrega aos grupos económicos e ao grande capital dos recursos e das riquezas do País, ao mesmo tempo que se retiram recursos aos trabalhadores e ao povo. Porque não podemos aceitar o ataque aos mais básicos direitos dos trabalhadores e a negação de direitos elementares como o acesso à saúde e à educação.

Retomar os valores de Abril

Apresentamos esta moção de censura para pôr fim à destruição económica e social; para pôr fim ao desastre a que nos conduziu a aplicação do pacto de agressão e a política do Governo. Para que se intensifique a luta com vista à derrota desta política e do Governo que a executa.

Mas também a apresentamos porque, cada vez mais, está claro que é necessária e possível outra política, uma política alternativa; uma política de progresso social e desenvolvimento económico; de defesa da produção nacional; de garantia dos direitos laborais e sociais; que assegure o controlo pelo Estado das empresas e sectores estratégicos da economia nacional; de igualdade e justiça na distribuição da riqueza; de utilização do património e dos recursos do País ao serviço do povo; de soberania e cooperação com outros povos.

Esta será uma moção de censura a olhar para o futuro que os portugueses exigem e a que têm direito. Um futuro que não comporta nem um Governo que já é passado, nem um pacto de agressão que destrói o País. Um futuro que retome os valores de Abril e o projecto de progresso que a Constituição consagra.

Uma moção de censura que afirma que é com outra política – patriótica e de esquerda – e com um governo que a realize, que o futuro dos portugueses e de Portugal se concretizará.

 



Mais artigos de: Em Foco

Do Terreiro do Paço para a greve geral

A CGTP-IN realizou no sábado, 29 de Setembro, a maior jornada de luta dos últimos anos, mobilizando centenas de milhares de pessoas para a manifestação nacional, no Terreiro do Paço. A proposta de uma greve geral suscitou fortes aplausos. Gritando «a luta continua», os manifestantes mostraram que vão empenhar-se em intensificar, ampliar e elevar a luta contra o pacto de agressão e pela ruptura com a política de direita.

«Nada ficará igual»

A manifestação nacional da CGTP-IN «é importante, particularmente por este sentimento colectivo tão forte que aqui está, de gente que não está resignada, que não está conformada. Esta manifestação não...

A luta continua

A par da luta diária, em cada empresa e serviço, enfrentando a ofensiva do Governo e do patronato, frequentemente alcançando expressão pública em estradas, ruas e praças de praticamente todo o País, o movimento sindical unitário inicia...

Vêm de perto, de longe…

Vêm de perto, de longee não têm nada de seu,excepto as mãos,a inteligência do mundoe uma voz que se elevado chão dos dias cinzentos,do amargor antigo da pobrezae da renúncia,a dizer Basta!,a dizer Fora! O sol que os recebe na praça dos...