Comentário

Médio Oriente

João Ferreira

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Adensam-se as ameaças à paz no Médio Oriente. Sobe de tom o rufar dos tambores de guerra do imperialismo.

As tensões e lutas (de classe) internas – de que as revoltas que desde há quase dois anos vêm percorrendo o mundo árabe são expressão clara – entrecruzam-se com a disputa pela hegemonia imperial numa região charneira de três continentes. Uma região cujo domínio garante a influência e controlo de imensos recursos naturais, das suas fontes e fluxos. Recursos progressivamente escassos mas ainda indispensáveis nas sociedades industrializadas actuais.

A disputa imperialista manifesta-se de múltiplas formas. O intervencionismo externo tem várias faces: das manobras internas para garantir que novos protagonistas sirvam os mesmos velhos senhores à agressão e à guerra declaradas.

É neste contexto – tendo como incontornável pano de fundo o «novo plano para o Médio Oriente» norte-americano – que deve ser compreendida a posição que a União Europeia vem assumindo face à região; a sua tradicional concepção restritiva e instrumental de «direitos humanos» e de «democracia», a sua habitual política de dois pesos e duas medidas, a sua crescente agressividade e mesmo a postura belicista que abertamente vem sendo assumida por certos sectores. A última intervenção de Durão Barroso no Parlamento Europeu foi elucidativa a este respeito. Como o foram também as posições assumidas durante o debate sobre a situação na Síria por deputados de vários grupos políticos, da direita e liberais à social-democracia. Como o são também as intervenções sobre o Irão da Alta Representante da UE para a Política Externa.

Na semana passada, o Grupo da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL) e o AKEL, de Chipre, promoveram neste país um debate sobre «As mudanças na região do Médio Oriente e a possibilidade de uma nova guerra». A participação de vários representantes de partidos comunistas e progressistas da região (Síria, Irão, Israel, Líbano, Egipto e Palestina) permitiu um olhar muito vivo sobre a situação actual na região, sobre as lutas e tensões que a percorrem e sobre os perigos e ameaças à paz que sobre ela pesam.

Na Síria, depois dos vetos da Rússia e da China no Conselho de Segurança da ONU, que impediram a pretendida «legitimação» internacional de uma intervenção semelhante à ocorrida na Líbia, a agressão militar externa prossegue, assente numa crescente articulação entre os EUA/NATO, as potências da UE, com destaque para a França e o Reino Unido, e os aliados do imperialismo na região – Turquia, Arábia Saudita e Qatar.

No encontro de Chipre, o representante do PC da Síria descreveu a forma como um movimento popular de protesto contra as políticas económicas e sociais do governo sírio – alinhadas com o neoliberalismo e com as orientações do Banco Mundial – e reclamando profundas mudanças democráticas, de cariz patriótico, foi aproveitado por forças que nada tinham a ver com este movimento, grupos extremistas religiosos, incluindo elementos estrangeiros que foram posteriormente entrando no país, levando a uma militarização dos protestos e à guerra actualmente em curso. Uma guerra aberta desenvolvida por aqueles que não se cansam de exigir a resolução da ONU. Uma guerra contra escolas, universidades, fábricas, caminhos-de-ferro, centrais energéticas. Uma guerra que visa «reduzir a Síria a cinzas» e que urge travar. É este o apelo inequívoco das forças patrióticas sírias: «Tirem as mãos da Síria! Fim à intervenção estrangeira no país!».

Em Israel, acossado internamente pelo agudizar da crise económica e perante uma acentuada degradação da situação social, Netanyahu – o chefe do governo de extrema-direita – foi, com a bênção do amigo americano, à Assembleia-Geral da ONU elevar o tom das ameaças ao Irão. Entretanto, ao contrário do espectáculo que aí deu, passou relativamente despercebida nas televisões a sua recusa, de há duas semanas, em participar numa conferência da ONU, em Helsínquia, sobre «um Médio Oriente livre de armas nucleares». Esta recusa não indignou aqueles que na UE justificam a escalada agressiva contra o Irão com o perigo deste país vir a desenvolver a arma nuclear, pretendendo pôr fim a um programa nuclear cujos fins militares nenhum país ou agência internacional logrou comprovar ainda. São os mesmos que vão defendendo e celebrando sucessivos acordos com Israel, «parceiro privilegiado» da UE, o Estado que, ao arrepio do direito internacional e das resoluções da ONU, vem aprofundando a ocupação e a opressão na Palestina e o único país da região que comprovadamente detém um imenso arsenal nuclear.



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