Portugal mas não só

Vasco Cardoso

Depois de visitar Espanha e Grécia, Merkel estará em Portugal na próxima segunda-feira. Não somos dos que, para aligeirar responsabilidades domésticas, atiram para cima da chanceler todos os males do mundo e as muitas amarguras que atingem o nosso povo. Mas também não somos indiferentes à marca cada vez mais colonial destas visitas e ao que elas representam para trabalhadores e povos de países alvos de processos de agressão e intervenção externa comandados pelo grande capital alemão, e não só.

Portugal tem uma relação com a Alemanha profundamente desfavorável aos seus interesses: um crónico e crescente défice comercial traduzido em mais de 2500 milhões de euros anuais; partilha uma moeda – o euro – que é uma espécie de «marco» disfarçado e que está moldada aos interesses desta grande potência da UE; transfere todos os anos, e de forma crescente, milhões de euros extorquidos à riqueza nacional pagos em forma de juros aos bancos alemães; apoia com centenas de milhões de euros de recursos públicos – nacionais e comunitários – algumas das multinacionais alemãs instaladas em Portugal, como é o caso da Autoeuropa; tem transferido para o grande capital alemão algumas das suas empresas e sectores estratégicos como é o caso dos transportes; integra uma UE que se baseia na crescente desigualdade entre esta grande potência e países cada vez mais periféricos e dependentes como Portugal.

Por tudo isto, não serão relações de amizade e de cooperação que estarão na origem desta visita, mas sim de crescente dependência e submissão. A arrogância do discurso dominante, que procura apresentar Portugal como um país devedor e a Alemanha como o abono de família dos estados em crise, assim como o racismo inerente às teses que procuram apresentar os povos do Sul como gastadores e construtores da sua crescente desgraça, constitui um insulto baseado na mentira e mistificação que visa legitimar assaltos como o do OE que está em discussão.

Não são os trabalhadores e o povo português que precisam do grande capital alemão, mas é este que, de braço dado com os grupos monopolistas de base nacional, precisam da exploração e da miséria que alastra por Portugal e pela Europa.



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