Declaração de Jerónimo de Sousa
sobre a greve geral

Poderosa jornada de luta

Numa declaração proferida na tarde de anteontem e enviada aos órgãos de comunicação social, Jerónimo de Sousa valorizou a «dimensão histórica» da greve geral e apelou à continuação e desenvolvimento da luta. Transcrevemos em seguida essa declaração.

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A greve geral de hoje, 14 de Novembro de 2012, convocada pela CGTP-IN, contra a exploração e o empobrecimento, por um Portugal com futuro, constitui uma grande greve geral, uma das maiores até hoje realizadas, uma poderosa afirmação dos trabalhadores e do povo português de rejeição do pacto de agressão das troikas, de clara afirmação que é necessário acabar com este Governo e esta política, antes que esta política e este Governo acabem com o País.

A greve geral teve um profundo impacto em todo o País, nas diferentes regiões e sectores de actividade, na indústria e nos serviços, no sector privado e no sector público.

Na indústria, com paralisações totais de muitas empresas como o Arsenal do Alfeite, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, Lisnave Mitrena, a Browning e elevadíssimas adesões com paragem quase total do parque industrial da Autoeuropa, e em muitas outros empresas em que se salientam a Fisipe, a Visteon, a Bosch, a Exide/ex-Tudor, a Robert Bosch, a Centralcer, a Kraft, a Acral, a Têxtilminho, a Tessimax, a Paulo Oliveira, a Trekar, a Saint Gobain, a Sotancro, a Cerâmica da Abrigada, a Valorsul, a Portucel/Setúbal, a Europac, a Fraas.

Nas pescas, com elevadas adesões e várias lotas e portos de pesca completamente paralisados.

Nos transportes, com a paralisação total ou praticamente total do Metropolitano de Lisboa, do Metro Sul do Tejo, da CP, dos STCP, dos TCBraga, TCGuimarães, dos SMTUCoimbra, dos TC do Barreiro, uma adesão como há muito não se verificava na Carris, elevadíssimas adesões na Transtejo, Soflusa, Atlantic Ferries, nos TST, na Rodoviária do Tejo, Barraqueiro e, em geral, nos transportes privados de passageiros em todo o País. Regista-se também a dimensão sem paralelo até hoje da paralisação da empresa dos transportes da Madeira (Empresa dos Horários do Funchal). Verificou-se a paralisação da generalidade dos portos nacionais. Nos transportes aéreos concretizou-se o cancelamento de mais de 70% dos voos que se realizariam no aeroporto de Lisboa, uma paralisação muito elevada nos aeroportos de Faro e do Porto, o cancelamento de todos os voos no aeroporto da Madeira (exceptuando os dois de serviços mínimos) e, nos Açores, as ligações aéreas foram confinadas apenas ao funcionamento dos serviços mínimos dada a paralisação da SATA.

Nos Correios, com uma elevada adesão dos trabalhadores dos CTT e também em outras empresas como a DHL.

Adesões crescentes

Na Administração Pública verificou-se uma larga e mais forte adesão. Na Saúde, com expressões na generalidade dos hospitais e centros de saúde; na Educação em geral e no Ensino Superior, com um aumento significativo das adesões dos trabalhadores auxiliares da acção educativa e dos professores e do impacto no funcionamento, com muitas centenas de escolas encerradas e outras a funcionar muito parcialmente; na Segurança Social; na Justiça; nas Finanças e em outros serviços.

Na administração local, com uma paralisação total ou próxima, numa grande parte dos municípios, da recolha dos resíduos sólidos e muito forte adesão nos serviços municipalizados e na generalidade das actividades autárquicas.

Nos serviços, são de salientar o crescimento e dimensão das adesões verificadas na grande distribuição comercial, como no Continente Montijo, no Cascais Shopping, no Jumbo de Faro e em grau diferenciado em muitos outros estabelecimentos; no sector financeiro com mais de cem balcões encerrados; e na área de equipamentos e estruturas sociais designadamente das IPSS e misericórdias.

Uma greve com forte expressão no sector das artes e do espectáculo, com significativas adesões de que são exemplo o CCB, o Teatro Nacional D. Maria, Maria Matos, entre muitos outros.

A greve geral atinge em várias regiões a maior expressão de sempre, como se verificou na Região Autónoma da Madeira. Destaca-se a adesão à greve de centenas de milhares de trabalhadores com vínculos precários e o facto de muitos trabalhadores terem feito greve pela primeira vez.

Esta jornada de luta envolve um grande trabalho de organização e a participação de milhares e milhares de trabalhadores em piquetes de greve nas suas empresas e locais de trabalho e junto delas. Na dimensão desta jornada de luta emerge a participação de muitos milhares de pessoas nas manifestações e concentrações, cerca de 40, que se realizam por todo o País.

Com mais de um milhão e trezentos mil trabalhadores desempregados, um índice de precariedade muito elevado, os orçamentos familiares esmagados, carências cada vez maiores, ameaças, condicionamentos e acções repressivas, os trabalhadores aderiram massivamente à greve geral, numa enorme demonstração de coragem e determinação.

Os propósitos de intimidação e repressão do Governo, designadamente procurando instrumentalizar as forças de segurança, com incidentes graves, nomeadamente a acção violenta da GNR sobre o piquete de greve na Estação da Pampilhosa, não conseguiram os seus objectivos. Ressalta, contrastando com os propósitos do Governo, a atitude de respeito pelos direitos constitucionais evidenciada pela generalidade dos profissionais das forças de segurança, eles próprios vítimas desta política de desastre.

Unidade na acção

O PCP saúda os trabalhadores portugueses pela sua participação nesta jornada de luta, na defesa dos seus interesses e direitos, dos anseios do povo português, do futuro de Portugal.

O PCP saúda a CGTP-IN, a grande central sindical dos trabalhadores portugueses, os dirigentes e activistas e o impressionante conjunto de organizações sindicais e outras estruturas representativas dos trabalhadores que, unidos na acção, deram expressão a esta memorável jornada de luta dos trabalhadores e do povo português.

O PCP salienta que tal como os trabalhadores portugueses com a greve geral defendem os seus interesses e direitos, também os trabalhadores de outros países da Europa – que o PCP saúda –, no quadro das suas condições específicas, resistem e lutam na defesa dos seus interesses e direitos, contra a ofensiva anti-social conduzida pelo grande capital, os seus representantes políticos e as suas estruturas.

A greve geral e a corajosa resposta dada pelos trabalhadores portugueses ganham ainda mais actualidade quando hoje foram revelados pelo INE os dados referentes ao terceiro trimestre que confirmam o aprofundamento da recessão e são dramaticamente expressivos quanto ao crescimento do desemprego. O aumento num trimestre do número de desempregados em mais 44 mil elevando a taxa de desemprego em sentido restrito para 15,8% e em sentido lato para 23,7%, o que corresponde a mais de 1 milhão e 360 mil desempregados, é uma expressão significativa da degradação da situação social e do caminho de afundamento do País.

Ao mesmo tempo que Portugal é atingido pela profunda ofensiva de agravamento da exploração, empobrecimento e desastre nacional, salienta-se o incessante desenvolvimento da luta de massas dos últimos meses e das últimas semanas com o movimento reivindicativo em curso nas empresas e locais de trabalho, as amplas acções do mês de Setembro, designadamente da grandiosa manifestação do Terreiro do Paço em 29 de Setembro, a Marcha contra o desemprego, as acções dos PME, dos agricultores, dos profissionais das forças de segurança, dos militares, das populações. São os trabalhadores, é todo um povo que se inquieta, indigna e luta.

Sinal claro

A greve geral de hoje, com a dimensão histórica que alcança e a determinação que traduz comporta um sinal claro. Constitui um forte abanão no Governo e na sua política, um Governo e uma política nocivos e desacreditados. Constitui uma forte exigência da derrota do Orçamento do Estado para 2013, um orçamento de desastre que não deve ser aprovado, promulgado ou aplicado. Constitui uma demonstração indesmentível da vontade dos trabalhadores e do povo português da rejeição do pacto de agressão. Constitui uma afirmação da necessidade de ruptura com a política de direita, da concretização de um novo rumo vinculado aos valores de Abril que concretize o projecto que a Constituição da República Portuguesa consagra.

A dimensão da greve geral exige que dela sejam retiradas todas as ilações políticas. A greve geral de hoje constitui uma grande jornada de protesto, uma poderosa demonstração de força e confiança, uma grande jornada de construção de um Portugal com futuro.

O PCP apela à continuação do desenvolvimento da luta de massas, desde já à participação na acção marcada para dia 27 de Novembro de manhã, junto à Assembleia da República, dia da discussão e votação do Orçamento do Estado para 2013, à sua intensificação, ao fortalecimento de uma vasta frente social e à convergência necessária para alicerçar a construção da política alternativa e da alternativa política patriótica e de esquerda.

A greve geral revelou essa necessidade e essa possibilidade!



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