Península da Coreia

Palavras de guerra

Reforço do contingente militar e manobras conjuntas dos EUA e Coreia do Sul estão a acossar a República Popular Democrática da Coreia (RPDC), que perante o que alega serem provocações inaceitáveis à sua soberania, reitera o seu projecto nuclear e responde com promessas de retaliação.

Casa Branca acusou a RPDC de se ficar pela «retórica dura»

LUSA

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A habitual guerra de palavras na Península coreana está a ceder lugar a iniciativas cada vez mais contundentes, bem como a uma agressividade que não se observava desde que George W. Bush colocou a RPDC no lote de países do «eixo do mal». A escalada do conflito e a possibilidade deste degenerar numa guerra de contornos e consequências imprevisíveis à escala global, acentuou-se depois do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas ter endurecido ainda mais as sanções contra Pyongyang.

A votação unânime, ocorrida no dia 7 de Março, assumiu o pressuposto de que a Coreia do Norte realizou, a 12 de Fevereiro, um teste nuclear, contrariando, desse modo, anteriores tomadas de posição nas Nações Unidas contra o desenvolvimento de um programa nuclear militar por parte daquele país asiático.

Tal objectivo não foi desmentido pelas autoridades norte-coreanas, antes pelo contrário, que justificam a opção com a necessidade de rechaçarem o prenúncio de extinção enquanto nação soberana, repetida continuamente, aliás, pela Coreia do Sul (o ministro da Defesa sul-coreano prometeu recentemente varrer a RPDC do mapa) com o apoio dos EUA.

Ainda esta segunda-feira, o líder norte-coreano reiterou que só possuindo armamento atómico a RPDC poderia contrabalançar o que considera serem as permanentes ameaças norte-americanas, e, ao mesmo tempo, equilibrar tanto quanto possível as forças num processo de desnuclearização mundial paritário, o qual, numa aparente contradição, Kim Jong-un disse defender.

Apesar de subsistirem dúvidas sobre o referido teste nuclear de meados de Fevereiro– de tal modo que Seul e Washington admitiram ter sido incapazes de detectar vestígios radioactivos do ensaio, facto que o Washington Post, citando fontes oficiais dos EUA e da Coreia do Sul, explica com a teoria de que a Coreia do Norte terá sido capaz de os ocultar com uma eficácia nunca antes vista –, a verdade é que desde então sucedem-se palavras e actos empapados em crescente crispação mútua.

Potências militares como a Rússia e a China vêm a terreiro exigir bom senso, mas, à cautela, ordenaram manobras navais de grande envergadura nos respectivos limites territoriais, sinalizando não apenas a incerteza sobre os factos, mas também sobre os objectivos e elementos motivadores da aspereza de posições que se observa. Não é de hoje que Moscovo e Pequim acompanham com preocupação o redireccionamento militar norte-americano para a Ásia.


 


Tensão crescente

 

As autoridades de Pyongyang consideram que a resolução pacífica do conflito suspenso há meio século, e o propósito da reunificação do povo coreano, exigem o fim da chantagem nuclear norte-americana à escala planetária, a abjuração da presença militar dos EUA na Península (cerca de 30 mil homens), e certezas tangíveis de não-agressão. A verdade é que ao regime afectado por um isolamento internacional quase só quebrado pela China, essas garantias não só têm sido negadas, como, ao invés, são acrescentados amiúde elementos desencadeadores de tensão.

Nos últimos três anos, de acordo com dados oficiais do Pentágono, os EUA enviaram para a Península mais de 300 veículos militares armados com dispositivos de última geração, aumentaram em pelo menos 24 os caças-bombardeiros operacionais e duplicaram o número de helicópteros de combate, acrescentaram uma divisão inteira ao total de homens em armas ali estacionados. Acresce que, por estes dias, aproveitando o azedume de Pyongyang para com a resolução condenatória da ONU, o Pentágono incluiu nas manobras militares conjuntas com a Coreia do Sul, bombardeiros e submarinos com capacidade nuclear; deixou o seu arsenal atómico à disposição de Seul e promoveu a assinatura de uma revisão dos acordos de cooperação e assistência militar, os quais permitem agora intervir caso a Coreia do Sul detecte sequer uma escaramuça na fronteira. Decidiu levar por diante, já este mês de Abril, novos «jogos de guerra» usando a logística e o armamento mais pesado, incluindo nuclear.

Os EUA também concretizaram o envio para o território sul-coreano de caças-bombardeiros furtivos com capacidade de transportarem ogivas. Tudo isto, sublinhe-se, justamente quando a desconfiança recíproca constata o perigo de um cenário de destruição na região, bem como quanto ao seu alastramento.

O corte da linha telefónica militar de emergência e expressões como «ataque nuclear preventivo», «ataque sem piedade às bases norte-americanas» ou «estado de guerra total», foram palavras de guerra atiradas por Pyongyang. Palavras, até ver, contrastando com as acções militares precisas de norte-americanos e sul-coreanos. Pelo menos é essa a opinião do alto comando das forças armadas da Coreia do Sul, que desmentindo a agência noticiosa oficial do seu país, veio notar, sábado, que o «estado de guerra total» proclamado pela RPDC ainda não se havia traduzido em «nenhum movimento de tropas excepcional».

O mesmo disse, segunda-feira, a Casa Branca, que acusou a Coreia do Norte de se ficar pela «retórica dura» e de não «mobilizar em grande escala ou reposicionar forças».



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