- Nº 2053 (2013/04/4)

Papagueando

Opinião

Num país que já teve um picareta falante como primeiro-ministro e que hoje tem como titular da pasta das Finanças alguém que – estamos em crer – não alcançaria os mínimos que o seu colega Nuno Crato impôs às crianças do quarto e do sexto ano de escolaridade a nível de leitura, a saber, ler 55 palavras com fluência em menos de um minuto e ler articuladamente um texto de 150 palavras no mesmo espaço de tempo, respectivamente, num tal país, dizia, não devia espantar que um outro ministro, desta feita da Economia, se assemelhasse cada vez mais a um papagaio. Mas espanta.

Como se sabe, alguns papagaios – também chamados louros, mesmo quando são verdes – são capazes de imitar sons e inclusive a fala humana, que repetem afincadamente a propósito e a despropósito. É o caso do Álvaro, que não sendo louro papagueia. Foi o que aconteceu anteontem, ao reagir aos indicadores divulgados pelo Eurostat, que mostram que a taxa de desemprego em Portugal «estabilizou» em Fevereiro, mantendo-se em 17,5% da população activa. «Faremos tudo, não só para estabilizar, mas também para diminuir a taxa de desemprego», logo disse o ministro, como um louro bem treinado. O melhor estaria no entanto para vir quando foi confrontado com o facto de, apesar da dita «estabilização», a taxa de desemprego em Portugal ser a terceira mais alta da Europa a 27. «É importante tudo fazer para reforçar as políticas activas de emprego, dinamizar a economia , impulsionar o investimento e criar emprego», papagueou, sem no entanto ser capaz de apontar uma medida que fosse para dar substância à coisa.

Consta que as «políticas activas» de emprego estão a ser cozinhadas com os parceiros sociais, o que sendo normal está longe de permitir vislumbrar seja o que for de «activo»: a reunião aprazada para ontem foi adiada para 16 de Abril, não obstante já no início de Março o nosso papagaio, perdão, ministro reconhecer a necessidade de melhorar a eficácia das políticas activas de emprego. «Temos que rever, simplificar as nossas medidas, que nem sempre são bem percepcionadas pelas empresas e pelos empregadores», Álvaro dixit. Palavras não eram ditas e eis que logo se soube que o ministro decidiu «propor» aos parceiros a revogação de nada mais nada menos do que três dezenas de diplomas que haviam sido aprovados supostamente para combater o desemprego. Afinal não, estão desajustados, não são exequíveis e etc. e tal, há que mudar de manual. De proposta a coisa tem pouco, pois estão definidas as medidas que deverão continuar em vigor, embora não se perceba se é por estarem a dar resultados, ainda que invisíveis, se por outras desconhecidas razões, como é o caso do apoio à contratação mediante o reembolso da taxa social única, o programa de microcrédito, o passaporte emprego, estágio na Administração Pública, estágios profissionais e os contratos emprego-inserção.

E assim anda o ministro de revisão em revisão da matéria dada nas aulas do mestre Gaspar, sem conseguir aprender a simples lição – dificuldades de quem muito papagueia – que todos os dias os trabalhadores deste país lhe ministram à porta: está na hora do Governo se ir embora.

 

Anabela Fino