- Nº 2061 (2013/05/30)

Relembrando

Opinião

A final da Taça de Portugal do passado domingo – que terminou com a justa vitória do Vitória de Guimarães – trouxe-me à memória uma outra final: o Benfica-Académica de 22 de Junho de 1969 – em que eu, e muitos milhares de benfiquistas, desejámos que o nosso Clube não ganhasse...

Foi o ano das poderosas lutas dos estudantes da Universidade de Coimbra, o ano da «crise académica».

A equipa de futebol da Académica era então formada exclusivamente por estudantes, os quais participavam, em muitos casos activamente, na luta. No jogo das meias-finais da Taça, com o Sporting, os estudantes tinham entrado em campo equipados de branco e com braçadeiras negras, em sinal de «luto académico» – e ganharam, passando à final. Com o Benfica. No Jamor.

Estádio cheio de povo e tribuna vazia de chefes máximos do regime, que não se atreveram a marcar presença: nem o Tomás, nem o Marcelo, nem o José Hermano Saraiva (então ministro da Educação). E a RTP não transmitiu a Final, ao contrário do que sempre fazia. O fascismo tinha medo...

Antes do jogo, nas imediações do estádio, tinham sido distribuídos milhares de panfletos explicando as razões e os objectivos da luta dos estudantes, e os jogadores da Académica foram vibrantemente aplaudidos quando entraram em campo.

A dada altura, foram desdobrados vários panos – clamando, em letras garrafais: «Melhor Ensino/Menos Polícias», «Universidade para o Povo», «Democratização do Ensino»… – panos dos quais tentaram, em vão, apossar-se os muitos pides espalhados pelas bancadas.

Quase no final do jogo, a Académica fez o 1-0, por Manuel António – golo entusiasticamente aplaudido pela generalidade dos presentes, benfiquistas incluídos; mas, mesmo-mesmo antes do final, o Benfica empatou, por Simões – que, diz-se, pediu desculpa aos jogadores da Académica… Seguiu-se o prolongamento, no decorrer do qual, para desgosto da maioria dos presentes, Eusébio marcaria o golo da vitória dos vermelhos (que, então, eram «encarnados», por decreto do fascismo).

De entre as muitas manifestações anti-fascistas ocorridas em campos de futebol, esta foi, certamente, a mais significativa. Por isso aqui se recorda, hoje.

José Casanova