Viva a greve geral!

Carlos Gonçalves (Membro da Comissão Política do PCP)

Amanhã é dia de greve geral. É dia de afirmação e luta, de luta essencial, indeclinável e impreterível de todos os trabalhadores – operários, trabalhadores de serviços, administrativos, quadros técnicos e intelectuais, desempregados, reformados, pensionistas, com vínculo efectivo, precários ou a recibo verde, do sector público, privado e social, das micro, pequenas, médias e grandes empresas e locais de trabalho.

Dia de luta essencial, indeclinável e impreterível

É dia de todos e cada um, trabalhadores, democratas, comunistas, confrontarmos esta ofensiva brutal do grande capital, de exploração e ajuste de contas. É dia de defender e assumir os interesses e direitos fundamentais dos trabalhadores e do povo, direito ao salário digno e ao emprego com direitos, direitos laborais, sociais e humanos, à saúde, educação, cultura, segurança social, aos serviços públicos e funções sociais do Estado.

É dia de afirmar os interesses e desígnios de classe mais essenciais e decisivos – pôr fim a esta política e a este Governo, à política de direita e ao pacto de agressão, à exploração e empobrecimento, à destruição da economia, à abdicação e afundamento nacional.

É dia de lutar pelo povo e pela pátria, de afirmar a honra e consciência dos trabalhadores, dos explorados, espoliados e oprimidos, de deixar impresso na epopeia da emancipação da humanidade que, também em Portugal, é possível e urgente outro presente e um novo futuro, alicerçado nos valores de Abril, ferramenta de liberdade, democracia e progresso social, de independência e soberania, numa Europa e num mundo de paz e cooperação, de povos e nações livres e iguais.

 Ocultar e mistificar

 

Quando se percorre os media dominantes e os «fazedores de opinião» – a hidra de muitas cabeças do «pensamento único» dos grandes senhores do dinheiro –, constata-se que «a greve geral não existe», não passa do rodapé das notícias, ou então, como conclui o inevitável professor Sousa, «vai ser grande, mas está banalizada».

Visam, todos eles, escamotear a verdade e a informação (compare-se com a promoção mediática de certas acções «inorgânicas»), visam ocultar a greve, menorizar a luta, reduzir a participação dos trabalhadores e o impacto dos seus efeitos.

Tentam criar o preconceito do «fracasso» e «inutilidade», procuram deslegitimar a luta e avançar para a sua criminalização – como na greve dos professores, que era «um direito» desde que não criasse dificuldades ao Governo – e como demonstram as ameaças, provocações e tentativas repressivas.

Visam fazer-nos acreditar que o futuro passa pelos números de circo de P. Portas, ou outros, pela arrogância de P. Coelho, pela conivência de Cavaco, pela «austeridade inteligente» e a «oposição» indigente de A. J. Seguro, ou pelo diktat da troika estrangeira.

Não! Daí não virá mais do que o regresso ao passado – índices de desenvolvimento humano e equidade social em regressão brutal, destruição da democracia económica, com a recuperação do poder e a ditadura do capital monopolista, destruição acelerada (em curso) da democracia social e cultural, ataque sem peias aos elementos mais avançados da democracia política, deriva antidemocrática, subversão da CRP e alienação da soberania.

Uma grande greve geral

A história comprovou a luta popular de massas como «único caminho para o derrube da ditadura fascista». Entre muitas outras, as grandes greves operárias dos meses anteriores ao 25 de Abril foram momentos formidáveis de mobilização, esclarecimento e luta, que abriram caminho à revolução antifascista.

Em democracia, a história (re)comprova as grandes lutas de massas como elemento determinante no combate por uma democracia avançada e na resistência contra a exploração e a política de direita. As greves gerais impediram ou retardaram aspectos da contra-ofensiva do capital financeiro, devastaram o apoio social e político dos seus governos e conduziram à sua demissão e derrota.

Este Governo vai enfrentar a quinta greve geral em dois anos e já ninguém duvida de que estas e outras grandes lutas populares de massas estão na origem do isolamento e da contestação que enfrenta, das suas dificuldades, contradições e desorientação e da sua derrota próxima.

Esta é uma grande greve geral dos trabalhadores portugueses, uma poderosa forma superior de luta, tão impreterível como a demissão do Governo, tão indeclinável como a urgência de uma política patriótica e de esquerda para Portugal.

 



Mais artigos de: Opinião

Alcobaça

Três notícias enchiam as primeiras páginas do fim-de-semana. Uma, sobre o ex-secretário de Estado, Paulo Braga Lino, que foi afastado pelo Governo no passado mês de Abril por ter subscrito swaps tóxicos enquanto director financeiro do Metro do Porto e foi readmitido no...

O que está em jogo?

As manifestações populares no Brasil expuseram de forma vigorosa a luta de classes, as contradições e a complexidade da situação neste grande país. As manifestações contra o aumento do preço dos transportes e exigindo transportes públicos de...

No fundo, estão com medo!

À medida que nos aproximamos da greve geral que a CGTP-IN justamente convocou para 27 de Junho cresce o tom da ameaça e da provocação sobre a actividade sindical. Sinal de força? Antes pelo contrário. As declarações, comentários e iniciativas tomadas pelos...

Farinha do mesmo saco…

O actual Governo não tem doze ministros, tem treze. O 13.º ministro encontra-se no Palácio de Belém, ocupando o cargo de Presidente da República. Temos o direito e a obrigação de exigir que Cavaco Silva cumpra as funções para que foi eleito, cumprindo o...

A ferramenta

A responsabilidade pela criação de emprego é dos empresários, repete o Governo à exaustão. Há mesmo quem se interrogue se será para que os privados não se queixem de espaço de manobra que o Executivo se dedica de forma tão empenhada a...