Que fácil é seguir o caminho difícil
Vou contar esta história sem lhe colocar os nomes, fique-vos a certeza de que é verdadeira. E se sem nomes a conto, é por recato, e protecção face a alguma pequena inexactidão, pois isto de acompanhar organizações leva-nos a conhecer muito dos quadros mas há sempre um espaço de reserva, uma linha para além da qual se pode intuir mas não se pode conhecer.
Começo. Quando foi despedida, parecia que o mundo vinha abaixo. E de certa forma vinha, e de certa forma veio. Não foi propriamente uma surpresa, pois a empresa tinha essa prática de despedir no final do terceiro contrato, apesar de ser pública e das leis publicadas o proibirem. Mas no fundo é sempre uma surpresa, há sempre a secreta esperança de que desta vez vai ser diferente, desta vez vão reconhecer o esforço, desta vez vão reconhecer a razão.
Quando o mundo veio abaixo havia uma saída objectiva, e rápida. O companheiro estava na Comissão de Trabalhadores. Bastava ele pedir a excepção em vez de se bater contra a regra. Até era prática na empresa, onde a amarelagem sindical chafurdava na pocilga iludida que o patrão a convidara para camarotes. Ela não lhe pediu, e ele não lhe disse que não. Mas continuou a dizer não ao patrão.
De tempos a tempos era preciso ir a Tribunal ser testemunha de colegas que tinham sido despedidos pela mesma razão. E processo a processo foram derrotando o patrão. Processos metidos pelos próprios trabalhadores, pois os sindicatos, amarelos ou amarelados, não o quiseram fazer. Por isso, e por pior, muitos saíram do Sindicato. Outros ficaram, pois a opção dos comunistas é sempre o combate, nunca a desistência.
Já se passaram uns anos. Na Empresa, com o Partido, os trabalhadores levantaram-se e reconquistaram o seu sindicato. No dia 27, juntaram-se à greve geral na sua maior greve de sempre.
E dias depois saía a sentença do Tribunal. De certa forma esperada, pois essa era a justiça, mas sempre temida, pois cada vez é mais injusta esta nossa Justiça crescentemente submetida à classe dominante.
O Tribunal deu-lhe razão. Mas a verdadeira vitória estava já no caminho escolhido.