A (con)fusão

João Frazão

As palavras compungidas e indignadas do secretário de Estado (relâmpago) do Tesouro, no momento em que se viu obrigado a demitir-se, face à monumental trapalhada de mentiras, meias verdades e desmentidos em que se enrolou, deixaram-me com vontade de lhe dizer duas palavrinhas.

É que dizer que não tem «grande tolerância para a baixeza» com que foi tratado é, no mínimo, pôr-se em bicos de pés, ainda por cima, tentando limpar-se com a afirmação de que «é este lado podre da política, de que os portugueses tantas vezes se queixam, que expulsa aqueles que querem colocar o seu saber e a sua experiência ao serviço do País».

Em primeiro lugar porque, deste episódio, estou seguro, pouco mais ficará para a história do que a imagem pitoresca de o ver engasgado, vermelho que nem um tomate, entabulando desculpas, nas conversas em família com que Maduro e Lomba, as novas estrelas do Governo, tentam enrolar o povo português.

Mas também porque este notável desconhecido apenas é mais um dos que fazem parte dessa (con)fusão entre o poder político e o poder económico que colocam o seu saber e a sua experiência ao serviço dos grupos económicos e financeiros, ora agora no governo, ora depois num conselho de administração, ora mais tarde numa direcção geral, ora logo numa qualquer consultadoria.

E os famosos SWAP's, não são mais que uma nova forma de conto do vigário, com que os grupos económicos canalizam a riqueza nacional para os seus imaculados bolsos, com a particularidade de que os enganados, os que pagam verdadeiramente a factura, estarem devidamente afastados dessas negociatas.

Joaquim Pais Jorge (é este o nome do ex-secretário de Estado) já se chamou Franquelim Alves, mas também se chama Daniel Bessa, António Borges, Jorge Coelho, Mira Amaral, Pina Moura e tantos outros. É do PSD, mas podia ser do PS ou do CDS. Filhos, todos, dessa promiscuidade própria do capitalismo, dessa voragem insaciável por mais e mais lucros, que não olha a meios e que precisa dos seus homens nos sítios certos para tomar as decisões que interessem ao capital ou para delas tirar o maior benefício. Ventosas dos tentáculos desse polvo gigantesco, cuja cabeça cresce a cada dia que passa, a que a luta há-de, não só arrancar umas partes, mas esventrar definitivamente.




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