«Chapelada» criminosa
O Partido Liberdade e Refundação (LIBRE) prossegue a contestação aos resultados das «eleições» de 24 de Novembro. Quinta-feira, 12, a organização liderada pelo ex-presidente Manuel Zelaya promoveu uma concentração popular frente ao Supremo Tribunal Eleitoral (STE) para exigir a recontagem dos votos e a consideração das denúncias de fraude no sufrágio presidencial, legislativo e municipal.
Segundo informações publicadas na página da Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), a direcção do LIBRE mantém-se em sessão permanente, isto depois de o STE ter declarado improcedentes os pedidos de impugnação apresentados, e ter confirmado como novo presidente o candidato do Partido Nacional, no poder, Orlando Hernández.
O LIBRE sustenta que a sua candidata, Xiomara Castro, venceu a consulta por uma margem de 1,8 pontos percentuais sobre Hernández, e acusa as autoridades políticas e judiciais de envolvimento na «chapelada eleitoral» para a designação do novo chefe de Estado, dos deputados ao parlamento e dos eleitos nas autarquias.
Provas do crime
No passado dia 6, o LIBRE formalizou a queixa junto do STE denunciando inúmeras evidências da «asquerosa e monstruosa» fraude cometida – como então a qualificou Xiomara Castro –, sublinhando o desvio de milhares de votos, discrepâncias entre as actas publicadas por aquela entidade e as cópias detidas pelo partido, ou a manipulação de milhares daqueles documentos em escrutínio especial. Antes do acto, a Organização dos Estados Americanos observou que «o escrutínio especial previsto não cumpria os requisitos».
Já o juiz Baltazar Garzón, da delegação internacional de observadores, afirmou que «unanimemente constatámos claros indícios de manipulação e fraude». No mesmo sentido, a Federação Internacional dos Direitos Humanos difundiu um relatório atestando várias irregularidades, tais como a limpeza de cidadãos dos cadernos eleitorais, a deslocação de mesas ou a compra de votos por parte de membros do Partido Nacional.
No dia 1 de Dezembro, milhares de hondurenhos manifestaram-se em todo o país. Na capital, Tegucigalpa, Xiomara Castro garantiu que a luta prossegue apesar da intimidação e da violência. Na noite anterior, um militante do LIBRE, José Ardón, foi assassinado por desconhecidos. Posteriormente, foram igualmente executados uma candidata local do partido, Graciela Lozano, e um jornalista vinculado à oposição progressista, Carlos Argeñal. Já este sábado, o filho de um dirigente sindical hondurenho foi encontrado num descampado a Sul de Tegucipalga, sedado e apresentando sinais de espancamento, informou a FNRP.
PCP solidário
«Queremos fazer chegar à direcção do partido LIBRE, aos seus militantes e a todos os seus simpatizantes e eleitores a voz de indignação e protesto dos comunistas portugueses perante as denúncias e factos publicamente apresentados que sustentam a existência de uma gravíssima manipulação dos resultados das eleições nacionais de 24 de Novembro, conducente à subversão da vontade popular expressa nas urnas, designadamente, na votação para o cargo de Presidente da República das Honduras», refere a Secção Internacional do PCP em carta enviada à direcção do LIBRE.
Na missiva realça-se que «as fundadas suspeitas de fraude nestas eleições constituem uma nova e deplorável tentativa de manutenção ilegítima da ordem antidemocrática e repressiva saída do golpe de Estado de 2009 que afastou o presidente constitucional das Honduras, Manuel Zelaya», o que, acrescenta-se, «não deixará, certamente, de continuar a deparar-se com o protesto, resistência e luta das massas populares e sectores democráticos hondurenhos – e a mais ampla solidariedade internacional, na América Latina e no mundo».
«Condenando veementemente a hipocrisia e ingerência nos assuntos internos das Honduras por parte dos EUA e da UE – que apressadamente reconheceram os resultados oficialmente divulgados –, manifestamos a solidariedade dos comunistas portugueses ao partido LIBRE e à sua dirigente e candidata presidencial, Xiomara Castro. Ao mesmo tempo, exigimos das autoridades hondurenhas o apuramento cabal e imparcial de todos os votos e o respeito pela vontade do povo hondurenho», conclui o texto.