Dia 2 de novo nos ENVC
À porta do primeiro-ministro, os trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo asseguraram que a luta é para continuar todos os dias. Arménio Carlos marcou encontro para dia 2, à entrada para o trabalho.
Em Janeiro vai manter-se o trabalho e prosseguir o combate
«Queremos o estaleiro, não queremos dinheiro», «Estamos a lutar, queremos trabalhar», «Construção naval faz falta a Portugal», «Está na hora de o Governo ir embora», «A luta continua, na empresa e na rua», «Viana quer progresso, não quer retrocesso» e «A subconcessão é destruição» foram as palavras de ordem que, na tarde de quarta-feira, dia 18, cinco centenas de trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo fizeram ecoar nas ruas de Lisboa.
Os autocarros terminaram junto ao Terreiro do Paço, pouco antes das 15 horas, uma viagem de 500 quilómetros. Os trabalhadores no activo e muitos reformados, acompanhados de familiares e amigos, começaram ali um percurso que tinha por destino a residência oficial do primeiro-ministro. Transportaram faixas, cartazes, bandeiras – e uma delas da Venezuela, logo à frente, a par da portuguesa, de outra dos ENVC e de uma bandeira negra a gritar «Morte, não!». Pelo caminho, na Praça da Figueira, no Camões, foram saudados por dirigentes e activistas da União dos Sindicatos de Lisboa, que se integraram no desfile em delegação. Ao fundo da Calçada do Combro, trocaram abraços e apertos de mão com Jerónimo de Sousa. Muitas pessoas foram juntar-se-lhes na Calçada da Estrela.
Um exagerado aparato policial exibiu-se nas proximidades de São Bento, a cortar o trânsito e a colocar grades na Rua Borges Carneiro, movimentando coletes, capacetes e viaturas, durante quase uma hora, antes de os manifestantes chegarem. Já sem sol à vista e com o frio a aumentar, mas ainda com toda a força nas vozes, estes concentraram-se frente ao palco móvel da USL/CGTP-IN, ocupando a metade superior da rua.
O predominante sotaque do Alto Minho passou a dominar também no microfone. Um jovem da Comissão de Trabalhadores chamou os outros seis camaradas que integram a estrutura, saudou os mais velhos que quiseram estar nesta jornada, e foi passando a palavra a Branco Viana, coordenador da União dos Sindicatos de Viana do Castelo; Rogério Silva, coordenador da Fiequimetal/CGTP-IN; representantes de organizações sindicais da CGT francesa e das Comisiones Obreras de Espanha, com intervenção na indústria naval.
As palavras dos oradores foram frequentemente interrompidas por aplausos e palavras de ordem, como «A luta continua», mas sonoras assobiadelas e apupos marcaram cada referência ao primeiro-ministro, ao ministro da Defesa ou ao Presidente da República.
Pressa, mentiras
e negócios
António Costa, da CT (apresentado como «a nossa cara»), assinalou que Pedro Aguiar-Branco «já não diz mentiras sobre os 181 milhões», desde que se sabe que, afinal, ainda não há decisão da Comissão Europeia sobre os apoios públicos aos ENVC. Mas o dirigente operário salientou ainda que, mesmo que a CE diga que é preciso devolver essas verbas, «os Estaleiros terão que devolver ao Estado português, que é o dono dos ENVC, não é para devolver à UE». Realçou que «nós não recebemos apoios da União Europeia, e deveríamos ter recebido». Mas não houve incentivos à modernização «de propósito», acusou António Costa.
Questionou a pressa do ministro e do Governo em concretizar a subconcessão em Janeiro, e contrapôs que «a nossa única pressa é a Venezuela», simbolizada na bandeira «que ainda ontem mandámos fazer», e execução dos navios asfalteiros encomendados em 2010 pela PDVSA. O dirigente da CT desafiou o primeiro-ministro a ir a Viana, em Janeiro, anunciar que a entrega dos ENVC à Martifer vai parar, para os Estaleiros começarem uma nova fase.
Arménio Carlos insistiu no desmentido dos principais argumentos do Governo para «um negócio que é uma fraude gigantesca». Lembrou que a UE vai obrigar os navios da marinha mercante a equiparem-se com duplo casco, nos próximos anos, o que representa um potencial de trabalho para os ENVC. Mas quem domina a UE não quer os Estaleiros de Viana a funcionar, para que esse trabalho seja entregue a empresas da Alemanha, da Europa central e da Polónia, e o Governo português está subordinado a estes interesses, acusou o Secretário-geral da CGTP-IN.
Defendeu a continuação da luta – pelos Estaleiros e pela demissão do Governo –, em formas a definir pelos trabalhadores dos ENVC. Colocou particular ênfase na dinamização da recolha nacional de assinaturas para a petição que visa levar este caso ao plenário parlamentar.
Arménio Carlos sublinhou que a luta dos trabalhadores «foi determinante para pôr em causa a estratégia do Governo e do grupo económico que se prepara para abocanhar os Estaleiros». Enaltecendo a recusa das indemnizações e a opção pelos postos de trabalho, o dirigente da Intersindical realçou que «a vossa luta emperrou o processo». Com todos, Arménio Carlos assumiu um compromisso: «estaremos convosco à porta dos Estaleiros no dia 2, para voltar ao trabalho».
Mais empregos?
Passos Coelho, vendo contestada a ideia de uma UE com acentuado pendor belicista e militarista, a gastar no «negócio da morte» dinheiro que diz não ter para despesas sociais, argumentou na Concertação Social, dia 18, que as verbas destinadas à indústria de defesa e segurança iriam criar emprego.
Na concentração, Arménio Carlos relatou o que fora defendido horas antes pelos representantes da CGTP-IN: o Governo e a UE devem investir não no emprego incerto que há-de vir, mas na manutenção do emprego qualificado que já existe, devem parar a destruição dos Estaleiros de Viana, do Arsenal do Alfeite, dos estabelecimentos fabris das Forças Armadas.