Os meigos, dóceis e suaves

João Frazão

Numa das suas intermitentes aparições, o secretário-geral do PS veio queixar-se de que o Governo cada vez que fala é para «arrear no PS», porque esperaria que o PS fosse «mais meigo, mais dócil, mais suave».

PS e PSD estão envolvidos num autêntico jogo de sombras, um empenhado em esconder as suas responsabilidades na negociação de um pacto de agressão que encaminha o País para o desastre e as profundas semelhanças nas opções de fundo quanto à política de direita, e outro fingindo indignação e despeito. Isto, enquanto o parceiro de coligação não se cansa de namorar o PS, sempre a pensar num lugarzito num futuro governo, para continuar a concretizar a política de direita.

É que mais suave do que ter deixado cair a fugaz referência que, por uns dias apenas, colocou no discurso, de exigência da demissão do Governo, era difícil.

Mais dócil para o capital, os mandantes de facto e a quem serve esta política, do que a sua posição na reforma do IRC, não era fácil.

Mais meigo para o Governo do que colocar-se ao seu lado na proposta do nosso Partido de renegociação da dívida ou nas propostas do PCP de aumento do salário mínimo nacional, ou das reformas e pensões também seria pedir demais!

Atitude meiga, dócil e suave que não é um problema da maior ou menor habilidade de Seguro. Ela funda raízes nos compromissos deste PS, e dos PS anteriores, com a política de direita.

Compromisso no voto contra as propostas do PCP que: visavam impedir a aplicação de Portagens nas ex-SCUT (Set 2011), ou contra o combate aos recibos verdes, ou contra a paralisação dos processos de privatizações, da CP, dos CTT, contra a tributação de dividendos (Dez 2010); defendiam o Hospital do Seixal (Junho 2009); revogavam a lei dos despejos (Fev 2013); alteravam o financiamento do Ensino Superior, para acabar com as propinas ((Março 2013); quando se abstém na criação de um subsídio de desemprego extraordinário (Julho 2013); ou ainda quando acusaram o PCP de absoluta irresponsabilidade por propormos a reposição do abono de família roubado (Fev 2012), isto apenas para referir alguns exemplos.

Sombras a encobrir semelhanças e a amplificar diferenças, mas que não são suficientes para envolver tanta meiguice!




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