Comentário

O espectro da UE

Maurício Miguel

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Anda pela Europa o espectro da União Europeia como inimiga dos povos. A consciência dos povos reconhece cada vez mais a evidência de ser a UE um processo antidemocrático e não reformável, contrário aos seus interesses e aspirações. Aqueles que apresentam a UE como o destino irreversível e irrepreensível dos povos, observam aterrorizados o cemitério onde jazem as formações económicas, sociais e políticas derrotadas pela emergência do novo. Para os que lutaram e lutam contra ela, nenhuma batalha foi em vão, os seus frutos amadurecem, vai despertando a necessidade de superar o projecto de domínio do grande capital na Europa, abrindo portas a uma outra Europa de estados soberanos e iguais em direitos, uma Europa dos trabalhadores e dos povos, de paz, progresso e justiça social. São os povos as vítimas da UE, serão eles os seus coveiros. Qualquer processo contrário aos seus interesses e aspirações, qualquer processo construído nas suas costas está condenado à derrota. Só a luta poderá cavar o buraco para onde empurraremos inapelavelmente a UE.

Um pouco por todo o lado crescem as lutas sociais e de massas – de que a luta do povo português contra o pacto de agressão é um generoso exemplo –, grandes e pequenas lutas que são tanto mais consequentes quanto mais enraizadas nos problemas concretos, nas necessidades e especificidades da situação de cada país e nas justas reivindicações de progresso, justiça social e paz que delas emergem. Lutas grandes e pequenas que percorrem a generalidade dos países da União Europeia, pontos de encontro de diferentes camadas sociais antimonopolistas. Lutas às quais as classes dominantes respondem com despudoradas campanhas ideológicas a partir de mistificações da realidade, do falseamento da História, do anticomunismo, do branqueamento do fascismo, da promoção de forças de extrema-direita e neofascistas. Uma confrontação que demonstra o carácter de classe da UE, quando em resposta à luta, a direita e a social-democracia procuram chantagear-nos, afunilando as alternativas entre o actual rumo ou o nacionalismo fascista. Nenhuma campanha de propaganda, por mais despudorada que seja, por mais odiosa que se nos apresente, poderá no entanto travar a consciência e a superação histórica do que parece eterno. Na história dos povos nada está escrito na pedra, a superação da União Europeia é uma necessidade e uma possibilidade real. Forjar rupturas políticas soberanas, patrióticas e democráticas é uma necessidade, fazer ir pelos ares as amarras económicas, políticas e ideológicas da UE é condição fundamental para colocar as forças produtivas ao serviço dos trabalhadores e dos povos, dos seus direitos sociais e laborais e ao serviço do exercício pleno da sua soberania. A alternativa patriótica e de esquerda e a formação de um governo que a concretize, como o PCP propõe, não é um acto de isolacionismo – de classe ou nacional – mas uma etapa de luta que integra a ruptura com a política de direita e a ruptura com o processo de integração capitalista da UE. Esta é a alternativa válida para a construção sustentada de processos de cooperação onde prevaleça sempre o supremo interesse dos trabalhadores e dos povos e as suas aspirações de progresso. Partindo do exercício da sua soberania, da igualdade entre países e povos, abriremos caminho a um processo efectivamente democrático onde as sobreposições dos interesses do capital e das grandes potências não terão mais lugar.

Um país e um povo que conquistaram tanto, que apesar de tudo têm ao seu dispor os meios científicos e tecnológicos mais avançados de sempre, importantes recursos naturais e outros, tendo, sobretudo, vontade de serem eles mesmos a conduzir os seus destinos, podem construir um futuro próspero. Recusemo-nos a aceitar o retrocesso imposto pelo capitalismo parasitário e incapaz de oferecer outra alternativa que não a concorrência dos trabalhadores pela sua própria exploração, o retrocesso a uma velha ordem social onde os trabalhadores voltem a ser escravos para a acumulação de fortunas fabulosas e escandalosamente obscenas. Recusemos a condenação de fazer contas à miséria, subtraindo fome ao paupérrimo salário ou pensão, subtraindo dinheiro ao salário que não temos, subtraindo à vida as horas que não nos sobram do trabalho, subtraindo os direitos que temos pelos que, com a política de direita e a UE, nunca viremos a ter. Recusemos ser coveiros do nosso próprio futuro, permitamo-nos construí-lo com o nosso próprio sangue.




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