Assalto iminente
Donetsk e Lugansk ainda resistem às forças da junta fascista ucraniana apoiada pelo imperialismo, que insistem na violência contra os que se lhe opõem e nas provocações à Rússia.
«Teme-se um banho de sangue em Donetsk e Lugansk»
O estabelecimento de um cessar-fogo e do diálogo com o objectivo de alcançar uma solução negociada para o conflito entre o poder golpista ucraniano e as forças antifascistas do Leste do país, parece cada vez mais distante. Na segunda-feira, 14, a AFP noticiava que as tropas fieis à junta fascista de Kiev tinham tomado importantes posições em torno de Lugansk e no seu aeroporto, encerrado e alvo de uma acesa disputa armada há várias semanas. Nos arredores da cidade industrial de 425 mil habitantes desenrolam-se intensos combates, informou o serviço de imprensa da autoproclamada República Popular de Lugansk, confirmando, assim, que prossegue a operação punitiva lançada pelo presidente ucraniano Petro Poroshenko.
Nos arredores da cidade de Donetsk, o cenário é semelhante. As chamadas autodefesas tentam travar o avanço das unidades militares pró-kiev, apoiadas por um forte contingente de blindados e por bombardeamentos aéreos e de artilharia, que tal como em Lugansk são incessantes e indiscriminados. Os centros urbanos e os civis não são poupados nos ataques.
Dados do Ministério ucraniano da Saúde indicam que, desde meados de Abril, a ofensiva militar contra o Leste da Ucrânia provocou a morte a 478 civis, entre os quais 30 mulheres e sete crianças. Os cálculos oficiais admitem ainda quase 1400 feridos, dos quais 14 são crianças e 104 mulheres.
Acresce o êxodo de milhares de pessoas para a Rússia: mais de 21 mil, acolhidas em 321 centros instalados para o efeito, de acordo com fonte dos serviços de emergência de Moscovo citada pela Prensa Latina.
Banho de sangue
Neste quadro, espera-se o assalto final aos bastiões da resistência antigolpista que (apesar de acossada e crescentemente remetida à defensiva em Donetsk e Lugansk) desmente o triunfalismo com que Kiev reporta as manobras no terreno. Em ambas as cidades, comandos especiais e paramilitares da Guarda Nacional e de outros grupos nazifascistas conseguiram penetrar as linhas de defesa, mas foram capturados, relataram os insurrectos.
As autoridades antigolpistas negam, igualmente, que nos últimos dias os militares de Kiev lhes tenham infligido baixas massivas. O comandante das autodefesas do Donbass, Igor Strelkov, estima mesmo que, em três meses, tenham sido mortos cerca de 150 dos seus homens, o que considerou um êxito tendo em conta que defrontam um exército regular munido de meios sem comparação. No mesmo sentido, os antifascistas sublinham que em muitas localidades as tropas de Kiev foram obrigadas a retroceder, caso do sucedido em Karlovka, a 30 quilómetros de Donetsk.
Na sexta-feira, 11, na sequência da morte de 30 militares ucranianos na região de Lugansk, o presidente Petro Poroshenko garantiu que será executado um grande número de milicianos por cada soldado ucraniano caído em combate, declaração que, para além de expressar de forma clara a natureza e o carácter do poder em Kiev, confirma que a sanha de esmagar o levantamento popular está longe de ser um passeio. Teme-se um banho de sangue em Donetsk e Lugansk.
Fronteira da provocação
Paralelamente ao cerco e fustigação de Lugansk e Donetsk, Kiev continua as provocações à Rússia. Na tarde de domingo, 13, um avião da força aérea da Ucrânia violou o espaço aéreo da Federação em Rostov, isto depois de um míssil ter matado um homem na mesma região e de patrulhas fronteiriças russas terem sido alvo de bombardeamentos e ataques de brigadas ucranianas, denunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moscovo.
A linha delimitadora dos dois países é cenário de um confronto sobre o qual Kiev rejeita responsabilidades, mas que levou o Kremlin a protestar assegurando que reserva «o direito de tomar todas as medidas previstas pelo direito russo para a defesa do seu território e para garantir a segurança dos [seus] cidadãos», bem como a acusar grupos armados ucranianos de penetrarem no país para, daí, dispararem projécteis em direcção à Ucrânia.
Na segunda-feira, 14, a tutela das relações exteriores russa manifestou-se favorável ao envio de observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa para dois postos de fronteira palco de violência, mas o «gesto de boa vontade», como o qualificou a Rússia, de acordo com a agência Intar-Tass, ainda não mereceu reacção concreta de Kiev, facto que sublinha o bloqueamento das conversações sobre a crise ucraniana.
Na fronteira da provocação, destacam-se, por outro lado, os EUA. Na quinta-feira, 10, o presidente Barack Obama designou como embaixador norte-americano em Moscovo John Francis Tefft. A indicação tem ainda de ser confirmada pelo Senado, mas o envio de um diplomata com carreira e obre feita na Ucrânia, entre 2009 e 2013, na Geórgia, entre 2005 e 2009, e na Rússia entre 1996 e 1999, mostra o interesse do imperialismo em avolumar a tensão nas relações com o Kremlin.
Ilegalização do PCU
PCP condena
Reagindo ao anúncio do Ministério da Justiça ucraniano sobre o início de um processo judicial com vista à ilegalização do Partido Comunista da Ucrânia (PCU), o PCP condena a decisão e denuncia «o aprofundamento da campanha repressiva e persecutória contra o PCU».
Em comunicado divulgado pelo Gabinete de Imprensa, sexta-feira, 11, o Partido considera que «esta acção vem, mais uma vez, confirmar o carácter antidemocrático do poder instalado em Kiev em resultado do golpe de Estado de Fevereiro, apoiado e promovido pelos EUA, UE e a NATO», reafirma «a solidariedade com os comunistas ucranianos e todas as forças antifascistas da Ucrânia», e «insiste na necessidade da absoluta rejeição do clima de intimidação e perseguição política contra todos os que se opõem ao poder ilegítimo e reaccionário e à aplicação do gravoso pacote de submissão e austeridade imposto pela UE e o FMI. Situação que se tem traduzido, nomeadamente, por repetidos atentados contra a actividade do PCU e a afrontosa exigência pública da sua proibição por parte dos responsáveis golpistas, a que agora vergonhosamente se pretende dar cobertura e legitimidade jurídicas».
«Do mesmo modo, o PCP expressa a mais viva indignação e preocupação face ao agravamento da situação humanitária na Ucrânia que resulta da criminosa operação armada conduzida no Leste do país, em que têm sido ostensivamente visados “alvos” civis. Não deixa de ser sintomático que o poder que pretende proibir a existência do PCU e todo o pensamento discordante na Ucrânia seja o mesmo que conduz uma criminosa campanha punitiva contra as populações e cidades do Leste do país», acrescenta-se no texto.
«Condenando categoricamente o emprego da força militar pelo Governo em exercício – com a utilização de artilharia pesada e aviação – contra as populações do Donbass, o PCP alerta para as sérias consequências para o povo ucraniano, assim como para a paz e segurança internacionais, que resultam da actual operação armada – que conta com a determinante participação de milícias e forças de cariz xenófobo e neofascista –, exigindo o fim imediato da campanha de agressão militar por parte do poder de facto em Kiev», lê-se na nota.
O PCP reitera, ainda, «a solidariedade com os trabalhadores e o povo ucranianos e todas as forças que se levantam contra a ameaça neofascista e o poder dos oligarcas e do grande capital, em prol de uma Ucrânia livre, soberana, democrática e de progresso social», e «volta a apontar as responsabilidades das grandes potências na crise ucraniana, particularmente, dos EUA e da UE.»