América Latina
América Latina jamais voltará a ser o «pátio das traseiras» dos EUA
Entre a América Latina e a Europa o contraste é evidente. Enquanto no nosso velho continente se desenvolve uma violenta ofensiva de regressão social e o fascismo e o militarismo crescem perigosamente com o reforço da NATO e com a Alemanha a dar novos passos na sua afirmação de grande potência, na América Latina as tendências democráticas e progressistas predominam.
Cuba socialista, com as suas realizações e a sua firmeza revolucionária, continua a irradiar o seu exemplo mobilizador. A revolução sandinista na Nicarágua, depois de quase duas décadas de dramática interrupção, retoma o seu curso libertador. A Venezuela bolivariana e os processos de transformação na Bolívia e no Equador obtêm grandes sucessos no combate à pobreza e na utilização soberana dos seus recursos em benefício, não do capital, mas do progresso social e cultural dos respectivos povos. Outros processos de mudança anti neoliberal estão em curso e mesmo no Chile surge finalmente a possibilidade de desmantelar o muito que ainda resta do sinistro regime de Pinochet. Com a histórica derrota da ALCA e a criação de estruturas de cooperação como a ALBA, a UNASUR ou a CELAC afirma-se uma integração latino-americana fundamentalmente solidária. A tendência predominante é de ruptura com o neoliberalismo e o imperialismo, é de corajosas afirmações de soberania frente aos ditames do FMI e das multinacionais, é para uma real melhoria das condições de vida das grandes massas historicamente sujeitas à mais feroz exploração e opressão colonial e neocolonial, como no caso das comunidades indígenas.
Claro que seria errada qualquer idealização. Há, como em todos os processos de transformação, contradições e ilusões que não podem ser ignoradas e não deve ser substimada a contra-ofensiva do imperialismo para tentar reverter uma evolução que lhe é profundamente desfavorável e recuperar o seu domínio. É certo que foram derrotadas sofisticadas tentativas recentes de carácter fascista para derrubar os governos de Evo Morales, de Rafael Correa e Nicolás Maduro, como anos antes em relação ao governo de Hugo Chaves e que, tal como aconteceu em Portugal com as tentativas golpistas do 28 de Setembro e do 11 de Março, após cada tentativa contra-revolucionária derrotada com a decisiva intervenção das massas populares, os processos de mudança em vez de retrocederem, fortaleceram-se e aprofundaram-se. Mas o imperialismo conta com poderosos meios económicos, políticos, ideológicos e militares para desestabilizar, subverter e derrubar governos que não se lhe submetem, como já aconteceu nas Honduras e no Paraguai, e como a experiência mostra é capaz dos piores crimes para atingir os seus objectivos.
O PCP sempre esteve e estará solidário com a luta libertadora dos trabalhadores e dos povos latino-americanos e caribenhos, valoriza o significado das mudanças progressistas e anti-imperialistas em curso e condena as tentativas do imperialismo ianque para ressuscitar a doutrina Monroe de tão triste memória. A participação do PCP no XX Encontro do Fórum de São Paulo, realizado em La Paz entre 26 e 29 de Agosto, reforçou a convicção de que, aconteça o que acontecer na aguda confrontação de classes que percorre todo o continente latino-americano, seja qual for o resultado no curto prazo de inevitáveis avanços e recuos dos processos progressistas e revolucionários em curso, a América Latina jamais voltará a ser o «pátio das traseiras» dos EUA.