- Nº 2128 (2014/09/11)
Espaço Internacional

Ninguém é estrangeiro

Festa do Avante!

Image 16620

Chegados ao Espaço Internacional uma pergunta exige resposta: Que força é esta capaz de erguer com tamanha qualidade e beleza e manter em funcionamento harmonioso um Espaço onde a Festa se faz com gosto? A questão começa a ser descerrada recordando que o projecto concretizou-se fazendo convergir saber, energia e firmeza de princípios na edificação de restaurantes e pavilhões políticos. As paredes agarradas à malha de ferro e superiormente decoradas, quer do ponto de vista estético quer do conteúdo, exprimem, portanto, algo de comum e substantivo.

As insuficiências destapadas pelas chuvadas que caíram sexta-feira e sábado não colocaram dificuldades inultrapassáveis. A execução das infra-estruturas e a limpeza diligente do Espaço após cada intempérie, reconhecida pelos camaradas dos partidos irmãos que asseguravam os repectivos stands e pelos visitantes, impediram sobressaltos. Mas a competência e organização colectivas são somente parte da explicação. «É isto, mas não é só isto», como dizia uma camarada.

Fraternidade materializada

Pois não, não é. A fraternidade materializada na construção transmitiu-se, afinal, para a vida do Espaço Internacional durante três dias. E por isso os visitantes demoraram-se mais tempo, aproveitando a oportunidade para provar a extraordinária paleta gastronómica ou apreciar a excepcional oferta de artesanato trazida do Peru, Chile, Palestina, China, Angola, Moçambique ou das ex-repúblicas soviéticas no pavilhão da Associação Iúri Gagarine.

Quando a fraternidade se materializa influenciando o comportamento das massas, é sã a convivência, como a que ocorreu até altas horas nos vibrantes espectáculos no Palco Solidariedade ou nos pavilhões dos partidos comunistas de Espanha, Brasil e Colômbia, do MPLA, Frelimo, e PAICV, do CPPC ou do Sinn Féin. As conversas sucedem-se como cerejas vermelhas carnudas e é fluída a disponibilidade para conhecer as lutas, experiências, propostas e projectos dos partidos e organizações que persistem alcançando só por isso vitórias. Partidos e organizações que este ano aprimoraram o conteúdo político trazido à Festa.

Foi com a fraternidade como linguagem e prática universais que, na tarde de domingo, membros das delegações dos partidos comunistas e forças progressistas e revolucionárias se juntaram aos milhares de militantes do PCP e visitantes da Festa em desfile até ao comício. É que entre as nossas paredes e unidos no combate comum pela paz, pela democracia e o socialismo, ninguém é estrangeiro.

Talvez seja isto, não é camarada?


«Pela paz, avante com a luta anti-imperialista» 

A frase que se impunha na entrada principal do Espaço Internacional, mais que um lema é um mote para o combate de classe que nos cabe travar. Mote que se encontrava espalhado por todo o Espaço, quer numa versão stencilizada mais resumida quer em cartazes, e ao qual os quase 20 murais patentes acrescentavam exemplos e razões.

Defesa da paz que se encontra associada à luta pela democracia e o socialismo, lia-se numa das obras pintadas e cujas letras foram preenchidas com recortes do Avante! – órgão central do PCP. Defesa da Paz e estímulo à luta anti-imperialista que também se sintetizava magistralmente nas paredes, está intimamente ligada aos valores de Abril, à dissolução da NATO e à rejeição das bases militares estrangeiras e do sistema antimíssil dos EUA e da Aliança Atlântica; à exigência de uma Europa dos trabalhadores e dos povos, e que coloca como necessidade a cooperação dos partidos comunistas e de todas as forças anti-imperialistas e um vivo movimento comunista e revolucionário internacional.

«Pela paz, avante com a luta anti-imperialista» tanto mais urgente quanto o retrocesso social, a xenofobia e o neofascismo, a ofensiva contra a soberania e o progresso social ameaçam fazer regressar à Europa o espectro das guerras e crimes imperialistas.

Para que nunca mais aconteça

A este propósito, dois murais assinalavam a passagem do centenário do início da I Grande Guerra e os 75 anos do desencadeamento do segundo conflito bélico global. A exposição central foi igualmente dedicada às lições que importa não esquecer sobre as guerras imperialistas e o século XX: a possibilidade de os trabalhadores e os povos as travarem e tomarem o poder, de derrotarem as expressões mais brutais e violentas do capitalismo e os seus crimes fazendo a Humanidade avançar para etapas superiores de progresso e emancipação social e nacional; de resistirem à ofensiva imperialista e, alargando a frente de luta pela paz e aliando-a ao movimento de solidariedade com os povos e a luta dos trabalhadores, obrigarem ao recuo da agenda de exploração, terrorismo e guerra que o grande capital procura impor no contexto do aprofundamento da crise do capitalismo.


Hugo Janeiro