O motim

Margarida Botelho

Para comemorar o Dia Mundial da Criança, a Câmara Municipal de Portalegre programou diversas iniciativas envolvendo os meninos das escolas. Uma delas assumiu contornos de escândalo nas redes sociais: às crianças do pré-escolar coube simular um motim. Metade dos meninos eram polícias com escudos e capacetes, os outros eram manifestantes, a atirar «pedras» de papel aos polícias. A «iniciativa» teve o apoio oficial da PSP e, de acordo com as notícias publicadas, não é a primeira vez que organizam tal coisa.

Ao que parece, o objectivo da «iniciativa» era mostrar que a polícia protege e ajuda. Como é que se passa daí para a encenação de um motim com crianças de 5 anos, é que não se compreende. É difícil pensar num caso mais óbvio de manipulação ideológica de crianças: quem se manifesta é mau, nas manifestações atira-se pedras, a polícia bate, nós batemos no polícia.

As imagens são chocantes: meninos e meninas, com 6 anos no máximo, mascarados de polícia de intervenção, a bater noutros meninos de bibe. E depois vice-versa: batem os meninos de bibe nos mascarados de polícia.

A presidente da Câmara fez um esforço para passar a ideia de que isto é tudo normal. Mas não é. O papel da escola não é ensinar às crianças que quem participa num protesto é criminoso. E também não é ensinar a atirar «pedras», mesmo de papel, à polícia.

O que este caso revela é uma concepção da vida e do mundo em tudo oposta à Constituição da República e que há quem não hesite em passá-las às novas gerações, envolvendo até uma força policial.

Numa altura em que se discute a municipalização da educação, quase apetece dar este exemplo para provar por A + B que esse é um caminho errado, que abre portas à proliferação de disparates destes.

As crianças devem poder crescer a confiar que o polícia é alguém que os pode ajudar se tiverem um problema. Mas também têm o direito de crescer num país que estimula o direito à participação, que promove a democracia, que protege os mais frágeis.




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