A ver se fogem

Henrique Custódio

Ao afirmar a semana passada que «são as empresas que criam empregos; não são os partidos, não são os governos e não são os cartazes», Paulo Portas evidenciou que ignora a generalidade da teoria económica e tem, da organização económica de um Estado capitalista, um conceito vagamente aparentado à «Teoria da Mão Invisível» retirada de Adam Smith, autor que talvez conheça de ouvido. Ao proferir a alarvidade de que «não são governos que criam emprego», ao menos podia lembrar-se dos EUA pós-Crash-1929, onde Roosevelt se viu compelido a lançar o seu famoso New Deal «para salvar o capitalismo» (palavras suas), interferindo em directo na economia onde, nomeadamente, agiu sobre os bancos, pôs em andamento obras públicas em grande escala para evitar a rebelião revolucionária do operariado e promover milhões de empregos que as tais «empresas» haviam destruído com os jogos de Bolsa que, por sua vez, desembocaram no «crash» de 1929. Isto apesar de, em 1937, Roosevelt se ver de novo a braços com a crise, de que «foi salvo» pela II Guerra Mundial, prestes a começar.

E é sempre assim, no capitalismo: quando rebentam crises «próprias do sistema» (como Marx analisou tão certeiramente, e não há economista que o desminta), é ao Estado a que os governos de serviço recorrem, pois claro, para tentar resolver os problemas.

Como o aclamado «democrata Obama» fez nos EUA na recente crise de 2007, injectando de imediato, nos bancos responsáveis pela falência eminente, qualquer coisa como 700 mil milhões de dólares (tornando o Estado federado dos EUA credor das dívidas da banca privada), transferindo assim para o povo norte-americano (e para os outros povos, como se viu na decorrência) o pagamento da dívida monstruosa criada pelo capitalismo financeiro e especulador.

É também para isto que serve o Estado, no capitalismo, através de governos que estão sempre ao serviço dos interesses da burguesia dominante – como Portas, aqui, deve saber bem.

O que, entretanto, Portas e Passos parecem agora buscar é como escapulir dos debates televisivos em directo com os dirigentes opositores durante a campanha eleitoral, nomeadamente com o Secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.

Já haviam imposto legislação na Assembleia da República determinando novas regras para os debates eleitorais televisivos, onde nomeadamente impedem que coligações tenham mais do que uma voz.

Agora, querem subverter a legislação que aprovaram para impor Paulo Portas sem aceitar Os Verdes e, perante a recusa de todos, Pedro e Paulo aproveitam para fugir aos debates com os outros partidos.

Portas acha que os governos não criam empregos. E a cobardia do governo a que pertence apenas cria problemas – a ver se foge ao confronto eleitoral, pois claro.




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