A prioridade das prioridades

Albano Nunes (Membro da Comissão Política do PCP)

Apontando a necessidade de ampliar a iniciativa e de combinar a luta em todas as frentes, o Comité Central, na sua reunião de 13 de Dezembro, indicou ao Partido como tarefa política prioritária dar à campanha do camarada Edgar Silva à Presidência da República a força, a dinâmica e a dimensão de massas que exige a única candidatura vinculada com os interesses dos trabalhadores e solidamente comprometida com os valores de Abril e a defesa e cumprimento da Constituição.

Há que acumular forças para a mudança profunda que se impõe

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Esta tarefa é tanto mais importante quanto a reacção derrotada – que sem ponta de pudor está a tentar impor como inevitável a vitória do seu candidato em 24 de Janeiro – procura recuperar nas eleições presidenciais o que perdeu nas legislativas e retomar a ofensiva destruidora da coligação PSD/CDS. Impaciente e revanchista, a ambição da classe dominante não conhece limites. Pelo que dizem e fazem os seus representantes pode facilmente concluir-se que se não foi mais longe no abuso de poder, no afrontamento da Constituição e na submissão ao imperialismo, levando o inacabado processo contra-revolucionário até ao fim, é porque a luta dos trabalhadores e do povo não lho permitiu.

O perigo não está porém afastado. As forças mais hostis à Revolução, que nunca foram completamente desalojadas ou que recuperaram importantes posições no Estado e na economia, estão a deixar cair o verniz «democrático» e – encorajadas e alimentadas do exterior pelos mecanismos de ingerência externa (a começar pela União Europeia e a NATO) e pelo avanço da extrema-direita, de que os resultados das recentes eleições regionais francesas são inquietante expressão – a assumir posições abertamente anticomunistas com contornos fascistas bem visíveis em rancorosas tiradas de Paulo Portas.

Assim se explica que o respeito da Constituição seja abertamente trocado pela subserviência aos tratados internacionais e que a vontade soberana do povo português seja substituída pela descarada submissão às exigências dos «mercados», ao mesmo tempo que se assiste a uma diversificada campanha que, tendo como principal alvo a força que desempenhou o papel decisivo na sua derrota, o PCP, se constitui simultaneamente em elemento de chantagem sobre o PS acusado de estar «refém» dos comunistas.

Passo na direcção certa

A direita saudosista e trauliteira está a pôr as unhas de fora. Não porque se esteja já perante a viragem que se impõe na vida nacional, mas porque, apesar do seu carácter parcial e limitado, a «posição conjunta do PS e do PCP sobre solução política» assinala a possibilidade de uma inversão de marcha que o PCP se empenha em concretizar, e porque, sem ignorar problemas e dificuldades inevitáveis devido à grande distância entre trajectórias e programas, se trata de um passo na direcção certa, ou seja, na direcção da ruptura necessária com os interesses do grande capital monopolista e do imperialismo.

Procurando torpedear este caminho, PSD, CDS, Cavaco Silva e toda uma chusma de arautos do sistema papagueiam argumentos tão ridículos («golpe de Estado» e outros) e de um reaccionarismo tão primário que não conseguem esconder o nervosismo e a insegurança de quem vê escapar uma oportunidade soberana para, finalmente, afastar o obstáculo constitucional e reconfigurar o Estado à estrita medida dos seus interesses de classe. Trata-se, não de um sinal de força, mas de fraqueza. Entretanto, é preciso não subestimar tal gente porque ela tem a força do dinheiro, do poder económico, da parte de leão da comunicação social, das posições com que invadiram o aparelho de Estado.

Acumular forças

As expectativas e as esperanças criadas pelo novo quadro político são muito grandes. O PCP fará o que de si depender para levar o mais longe possível a resposta aos justos anseios dos trabalhadores e do povo tão brutalmente castigados pela coligação agora derrotada. Mas é também necessário alertar para ilusões e perigos de atentismo e não esquecer que foi a força da iniciativa popular e da luta de massas que levou à derrota do PSD/CDS e às perspectivas positivas que se abriram diante de nós.

Aquilo que para já mudou na realidade portuguesa foram as circunstâncias, não as grandes forças sociais e políticas em presença, a sua natureza de classe e ideologia. Isto é inteiramente verdade no que respeita ao PCP, tão verdade que, como indicou o Comité Central, vamos prosseguir e intensificar a luta para continuar a mudar as circunstâncias, ou seja, para acumular forças para a mudança profunda que se impõe: a ruptura com quase 40 anos de política de direita e a concretização da alternativa patriótica e de esquerda.

Neste quadro, em que é necessário não baixar a guarda em relação aos perigosos objectivos da reacção, as eleições para a Presidência da República assumem uma redobrada importância. Assegurar à campanha do camarada Edgar Silva o mais amplo carácter unitário e dimensão de massas, é a prioridade das prioridades da intervenção de todos os comunistas.

 



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