Mal menor e mal maior

Filipe Diniz

Interroguem-se dados comparativos do Eurostat sobre “qualidade de vida” na UE (http://ec.europa.eu/eurostat/cache/infographs/qol/index_en.html). O rendimento bruto médio anual dos portugueses é cerca de metade da média da UE. A Roménia está ainda pior, e no outro extremo estão a Dinamarca e a Suécia. A satisfação dos portugueses com a habitação é inferior à média UE. A dos búlgaros ainda é maior, e no outro extremo estão a Dinamarca e a Finlândia. A satisfação dos portugueses com o emprego é inferior à média UE, mas a dos búlgaros ainda é maior, ao contrário dos dinamarqueses e finlandeses. A taxa de emprego em Portugal é ainda inferior à média UE (onde só o desemprego de longa duração atingia mais de 12 milhões em 2015, segundo a Comissão Europeia), mas na Grécia ainda é pior. As 39,4 horas de trabalho dos portugueses ficam abaixo da média UE. E, se as 42,2 horas dos gregos ainda são piores, ficam longe das 30,1 horas dos holandeses. O nível de educação atingido pelos portugueses é cerca de 2/3 da média UE, mas o dos romenos ainda é pior. Se a confiança no sistema judicial está de rastos na UE (4,6/10), em Portugal ainda é mais baixa (2,9/10). Mas os eslovenos ainda confiam menos do que os portugueses. A participação dos portugueses nas eleições para o PE (33,7%) é inferior à média UE (42,5%). E, se é superior à da Eslováquia (13,1%) não precisa de sentir incomodada pelos 89,6 por cento da Bélgica. É que o voto na Bélgica é obrigatório.

Para que servem estes dados, que relativizam e misturam elementos objectivos com apreciações subjectivas? Para alguns podem servir de cenoura: há quem esteja pior e, se os portugueses se portarem bem, podem ter emprego como os suecos, rendimento como os luxemburgueses, ambiente como os finlandeses, horário de trabalho como os holandeses, educação como os irlandeses. Há décadas que essa miragem é acenada enquanto o País retrocede e diverge, enquanto a UE impõe subordinação, exploração, dependência e atraso. Não pode retirar-se satisfação de haver outros que passem por ainda maiores dificuldades. O progresso de cada povo não é separável do dos outros povos.

E derrotar a UE dos monopólios é uma tarefa nacional e internacionalista.




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