Momentos de Solidariedade

Num palco ou numa mesa, sempre nos espaços de organizações regionais do PCP (OR), os Momentos de Solidariedade destacam-se na programação política da Festa do Avante!. Os testemunhos, necessariamente sintéticos, permitem ficar a conhecer o essencial do contexto e objectivos da luta de um povo ou de um país. O diálogo entre os oradores e o público, também ele convidado a tomar a palavra e a questionar, é fluído e esclarecedor. Acresce o facto de que, sendo iniciativas realizadas fora do Espaço Internacional, a expressão da solidariedade internacionalista não fica confinada àquele. Em suma, é um modelo virtuoso cujo sucesso pode ser atestado pela presença de uma boa moldura humana, a qual adere valorizando o conteúdo informativo e formativo patente.

De entre os cinco Momentos de Solidariedade que acontecerem na Festa do Avante!, começamos por sublinhar aquele realizado na OR de Setúbal, ao final da tarde de sábado, 3, «Pela Democracia e e o Progresso Social no Brasil». Tema de viva actualidade, tanto mais que a destituição da presidente Dilma Rousseff havia ocorrido três dias antes, e os protestos populares no país não param de crescer desde então.

Entre os presentes, um grupo de brasileiros a residir em Portugal desfraldou faixas contra o golpe de Estado, acompanhando, aliás, as palavras ditas do palco. O primeiro a falar foi Miguel Maurício, da Secção Internacional do PCP, que frisou que o afastamento de Dilma Rousseff insere-se na tentativa do imperialismo «fazer andar para trás a marcha da história na América Latina». Porém, «o povo brasileiro tem dado provas de que não está distraído», e, por isso, reforça-se a convicção de que «será capaz de derrotar o projecto reaccionário».

Sobre a necessidade de não deixar que a situação no Brasil seja silenciada, incluindo a repressão das manifestações pela democracia, bem como sobre os objectivos do golpe, designadamente fazer reverter amplas conquistas sociais, voltar a colocar o Brasil sob a tutela dos EUA e afastá-lo dos processos de cooperação multilateral com outras nações (tudo concretizações devidas aos governo liderados por Lula da Silva e Dilma Rousseff), falaram uma dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra e o dirigente do PT Roménio Pereira.

A terminar, José Reinaldo Carvalho, do Partido Comunista do Brasil, insistiu que Dilma Rousseff não foi destituída por qualquer acto de corrupção, mas por «ter prosseguido a política social e económica iniciada por Lula da Silva». Ou seja, «não foi pelos erros, mas pelos acertos» que «as classes dominantes e o seu regime» tudo fizeram para afastar Dilma Rousseff.

Paz e liberdade

«Em Defesa da Paz na Colômbia» foi o mote para o Momento de Solidariedade ocorrido ao início da tarde de domingo na OR do Alentejo. Luís Carapinha abriu a iniciativa recordando que, na Festa de 2015, com o diálogo entre as FARC-EP e o governo a decorrer em Havana, falou-se da paz como «a grande aspiração do povo colombiano». A confiança que demonstravam os camaradas do Partido Comunista da Colômbia na possibilidade de assinatura de um acordo para uma paz justa, acabou por concretizar-se. Porém, «o poder das classes dominantes não se evapora», acrescentou o membro da Secção Internacional do PCP, antes de Desy Aparício, do Comité Central da Juventude Comunista Colombiana, focar aspectos essenciais do acordo alcançado e do processo de pacificação da vida política nacional, de que aquele é apenas uma etapa.

Desy Aparício salientou, ainda, que no referendo convocado para sufragar o acordo de paz, este enfrenta a oposição da direita que representa o poder dos monopólios nacionais e do imperialismo, pelo que, quer para assegurar a vitória da paz quer depois para a aplicação integral do texto pactuado, vai contar a mobilização popular, sobretudo dos jovens.

Quase em simultâneo, na OR de Lisboa, por volta das 15h00 de domingo, iniciava-se o Momento de Solidariedade «Palestina Livre e Independente». A solidariedade do PCP para com a luta do povo palestiniano tem estado sempre presente na Festa do Avante!, considerou Carlos Almeida, colaborador da Secção Internacional do PCP, que a propósito lembrou que a solidariedade para com uma luta tão prolongada, além de estimular a resistência, permite denunciar e até colocar obstáculos à política criminosa de Israel, caso da intervenção institucional do PCP que recentemente obrigou o Governo a retirar Portugal de um programa de treino de técnicas de interrogatório com Israel.

Na mesa do Momento de Solidariedade estavam representantes de três das quatro organizações palestinianas com delegações na Festa – Fatah, Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), e Frente Democrática de Libertação da Palestina –, tendo cabido ao delegado desta última, Husam Dawoud, falar em nome da Organização da Libertação da Palestina (de que todas fazem parte) para defender a aplicação das resoluções da ONU que reconhecem o direito dos palestinianos a construírem um país livre e independente numa parte do seu território histórico (80 por cento do qual está hoje ocupado) com capital em Jerusalém, o regresso dos cerca de sete milhões de refugiados; o fim da colonização, do cerco e expulsão das comunidades palestinas, a libertação dos presos políticos e o fim da política sionista de apartheid social.

Intensa actividade

No sábado, às 11h00 e às 15h30, ocorreram outros dois momentos de solidariedade, respectivamente na OR do Porto tendo como tema «Cuba – 57 anos depois, os desafios da Revolução», e na OR de Braga, sob o lema «Saara Ocidental – A terra de um povo». No primeiro, Cristina Cardoso, da Secção Internacional do PCP, Marta Pereira, da Associação Porto com Cuba, Augusto Fidalgo, da Associação de Amizade Portugal-Cuba, salientaram a importância da solidariedade activa para com Cuba socialista e o seu povo, e valorizaram as conquistas revolucionárias. Juan Figueroa, representante do Partido Comunista de Cuba, também destacou os avanços alcançados em quase seis décadas considerando o contexto de ingerência e bloqueio, o qual, notou, continua implacável apesar do restabelecimento das relações diplomáticas com os EUA e do consequente desanuviamento entre os dois países.

Já no momento de solidariedade da tarde de sábado, Filipe Ferreira, da Secção Internacional do Partido, um representante da União dos Jovens Saarauís e um activista da Associação dos Presos Políticos e Desaparecidos nos Territórios Ocupados, lembraram o tempo decorrido na luta por uma solução pacífica do conflito no Saara Ocidental, bem como as respectivas consequências, entre as quais os refugiados e os graves problemas dos presos políticos e das condições de encarceramento. A intensa actividade de solidariedade, particularmente da parte do PCP, também não foi esquecida, tendo sido dados como exemplos as visitas de dirigentes e deputados comunistas aos acampamentos na Argélia no quadro das relações com a Frente Polisário, ou a intervenção institucional, assumindo relevância, neste âmbito, a denúncia no Parlamento Europeu da ocupação e repressão marroquina, e dos acordos estabelecidos entre a UE e Marrocos, que ainda recentemente rompeu o cessar-fogo estabelecido sob os auspícios das Nações Unidas.

HJ



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