Filantropia ou negócio?

Margarida Botelho

Realizou-se em Madrid a 6 e 7 de Maio a feira Surrofair, que juntou 24 expositores de agências de todo o mundo especializadas no negócio das barrigas de aluguer. A feira oferecia atendimento reservado aos potenciais interessados, além de debates com oradores de cada uma das empresas com temas como «selecção e relação com a gestante», «aspectos legais a ter em conta na hora de escolher um destino», «como reduzir gastos e aumentar as taxas de êxito» ou gestação de substituição na Ucrânia, no Canadá ou nos EUA.

No sítio da revista organizadora pode ler-se artigos sobre as razões para as diferenças de preço entre os diversos países (entre os 35 e os 150 mil euros), os motivos para a Índia ser dos «destinos mais económicos», ou manuais sobre como discutir orçamentos – estão ou não as ecografias obstétricas incluídas no preço, os advogados para tratarem da saída do bebé do país são ou não de confiança, etc. Preocupações – chamemos-lhe assim – que revelam o grau de mercantilização de todo o processo.

A retórica de apresentação desta feira é em tudo semelhante ao tipo de argumentos que foram usados em Portugal a propósito da aprovação da maternidade de substituição: do altruísmo de quem apoia o direito de todos a constituir família à modernidade das técnicas inovadoras.

Em Portugal, os defensores deste método, cuja aprovação foi apresentada por alguns como o fim do último reduto da discriminação sexual, juraram que nunca o deixariam transformar-se num negócio. Em Espanha, foram movimentos LGBT e feministas que convocaram manifestações para a porta da feira, sob o lema «não compres bebés, não explores mulheres».

Do outro lado do negócio super profissional de aluguer de úteros estão mulheres reais e pobres, que assinam contratos a renunciar a qualquer contacto com o bebé que geraram, a troco de dinheiro. Não há outra maneira de dizer: esta é uma das mais abjectas formas de exploração do corpo humano.




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