Quem não tem cão…

Jorge Cordeiro

É usual dizer que o hábito faz o monge. Uma outra forma de demonstrar que, mesmo mudando de roupagem, o que cada um é vem sempre ao de cima. Asserção que sendo comum para caracterizar os indivíduos também pode ter aplicação no que a grupos ou partidos diga respeito.

A expressão ganha vida observando os expedientes a que o Bloco de Esquerda recorre neste afã de multiplicação de perguntas na AR dirigidas contra autarquias geridas pela CDU. Dir-se-á que à falta de intervenção nas autarquias, digna dessa classificação, se recorre ao que está à mão. Quem não tem cão caça com gato. É disso exemplo o questionamento dirigido ao Governo sobre as instalações do canil municipal do Seixal.

Seria natural que entre gente adulta e responsável, ciente das suas prerrogativas institucionais e no seu pleno direito de conhecer o assunto se solicitasse uma visita ao espaço. Ou porque o estilo não seja suficientemente fracturante ou por razões de irrequietude pueril, foi outra a opção: o questionamento do Governo sobre o canil sem procurar obter junto da autarquia qualquer informação. Não se questiona o direito de o poder fazer. Mas anota-se que talvez fosse mais natural, mesmo não desejando formalizar o pedido de visita, conhecer junto do vereador que o BE tem no município a informação que os teria poupado a figuras tristes. Os questionamentos que na sequência o BE dirigiu aos serviços da administração central tiveram a resposta esperada. A Direcção Geral de Veterinária informou da adequação das instalações, valorizou os investimentos do município e o adequado tratamento aos animais ali acolhidos. Anote-se o facto do BE assumir que o lugar que detém na vereação não aquece nem arrefece, o que sempre fica como aviso para que não se desperdice votos que fazem falta a uma gestão séria e responsável. Bem se pode afirmar perante o insólito episódio, com recurso a uma estilística concordante com o assunto narrado, que a isto se chama entrar de gatas e sair de rabo alçado.

 



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