Festival de Teatro de Almada é património a defender
CULTURA Apesar dos avultados cortes que sofreu ao nível dos apoios públicos, o 35.º Festival de Teatro de Almada terá uma programação de qualidade, com muitas companhias estrangeiras.
Em 10 anos a CTA viu reduzidos os apoios estatais em 45 por cento
«A programação do 35.º Festival de Almada foi inevitavelmente afectada pelo resultado do recente concurso público de apoio às artes, que determinou um corte de 25 por cento no financiamento da nossa actividade, por parte da Direcção-Geral das Artes, em relação ao quadriénio anterior.» É com esta frase que o director do festival, Rodrigo Francisco, inicia o texto de apresentação da programação deste ano, revelando ainda que a subvenção atribuída pelo Ministério da Cultura àquele que é o maior festival de teatro do País e um dos melhores da Europa «é já inferior àquela que existia em 1997».
Apesar disso, garantiu o director na apresentação da programação aos jornalistas, no dia 16 ao final da manhã, está salvaguardada a qualidade da programação da 35.ª edição do Festival, que como habitualmente decorre entre 4 e 18 de Julho. Como? Renovando colaborações com alguns dos principais teatros lisboetas, como o São Luís e o Trindade, e dando espaço a uma «nova geração de encenadores que são já uma referência para quem segue de perto o teatro europeu».
É também de valorizar grande diversidade de linguagens artísticas e correntes estéticas presentes e a participação de grupos e companhias de proveniências tão diversas quanto a Alemanha, Bélgica, Burquina Faso, Croácia, Eslovénia, Espanha, França, Itália e México. A escassa presença de grupos nacionais, comparativamente com edições anteriores (nove, num total de 24 espectáculos) deve-se aos efeitos devastadores do recente concurso de apoio às artes, que provocou uma drástica diminuição das criações estreadas nos primeiros meses do ano.
Arte atenta ao mundo
Muitas das peças reflectem importantes questões do nosso tempo, como as migrações, a guerra e a paz e o terrorismo. Uma propõe uma interpretação da biografia do poeta andaluz, Federico García Lorca, assassinado em 1936 pelas forças fascistas do general Franco. O espectáculo de honra, escolhido pelo público no final da edição de 2017, vem de França, mais especificamente de Brest: «Apre – melodrama burlesco», de Pierre Guillois, pela Compagnie le Fils du Grand Réseau.
O cartaz é da autoria do pintor Paulo Brighenti e a personalidade homenageada é a tradutora, poetisa e professora Yvette K. Centeno. Na esplanada actuam, entre outros, Manel Cruz, Rita Redshoes e Fernando Tordo, e haverá ainda colóquios e exposições. O programa completo pode ser consultado no sítio da Internet da Companhia de Teatro de Almada, em ctalmada.pt/wp-content/uploads/2018/06/Programa-35.%C2%BA-Festival-de-Almada.pdf.
Em 2018, para além de se realizar a 35.ª edição do Festival de Teatro de Almada, assinala-se igualmente os 40 anos da ida para margem Sul do Tejo do então Grupo de Teatro de Campolide, dirigido por Joaquim Benite, que anos depois mudaria a sua designação para Companhia de Teatro de Almada. Esta efeméride dá o mote à exposição de José Manuel Castanheira «CTA: 40 anos em Almada», cuja terceira parte, A Festa, será inaugurada durante o Festival.
PCP quer nova política cultural
Na apresentação pública do programa do 35.º Festival de Teatro de Almada, realizada no dia 16 à noite na Casa da Cerca, o PCP distribuiu às centenas de pessoas presentes um comunicado no qual apela à defesa do Festival e da Companhia de Teatro de Almada (CTA). Denunciando a redução, numa década, do orçamento da CTA de 635 para 290 mil euros, o Partido lembra que estes cortes iniciaram-se com o PS, prosseguiram com PSD/CDS e aprofundaram-se ainda mais com o actual Governo.
A Companhia, lembra o PCP, «desempenhou e desempenha um incontornável papel na construção da democracia cultural em Almada. Em paralelo com o desinvestimento dos governos de direita nas artes e na cultura, sob a gestão da CDU o município assumiu um crescente apoio ao projecto, ampliando o financiamento e erguendo um equipamento à medida da sua inquestionável qualidade». O Teatro Municipal Joaquim Benite, também conhecido por «Teatro Azul», é um dos muitos equipamentos culturais erguidos no concelho durante mais de 40 anos de gestão CDU.
No comunicado, o PCP lembra também as propostas apresentadas pelo seu Grupo Parlamentar, nomeadamente o incremento para 25 milhões de euros do apoio público às artes, a elaboração, pelo Governo, de um Plano Nacional de Desenvolvimento das Artes e da Cultura e a atribuição de um por cento do Orçamento do Estado para a Cultura, e a apresentação, ainda em Julho do ano passado, as linhas de força que, na sua opinião, deveriam nortear um novo modelo de apoio às artes. Os comunistas defendem a existência de um «serviço público de cultura, que assegure a liberdade e a diversidade da criação artística, a defesa e recuperação do património, a coesão e a diversificação territorial, os direitos dos trabalhadores da cultura».