Comício dá força à luta

João Chasqueira

O comício de domingo foi um momento sublime, politicamente marcante e diferenciador. Quase se poderia dizer que nele esteve a síntese do ambiente vivido nos três dias da Festa pelos muitos e muitos milhares que a visitaram e que de múltiplas maneiras aproveitaram a riquíssima programação que tinha para oferecer.

Falamos, sobretudo, da imensa e contagiante alegria que o marcou do princípio ao fim, bem como do ambiente de fraternal camaradagem e de forte solidariedade internacionalista, mas também do espírito combativo nele prevalecente, indissociável da perenidade dos ideais e valores ali veiculados, que inspiram e animam a luta que emancipa e transforma e são fonte de confiança.

Foram todos estes traços distintivos que estiveram presentes ao longo do comício e que foram intensamente partilhados por aquela imensidão de gente, de todas as idades e condições, numa expressão maior de energia e vitalidade do colectivo partidário, do incomensurável poder de atracção e prestígio da Festa do Avante!.

Dimensão de massas que faz deste comício um evento político sem qualquer paralelo no País. Semelhanças? Só se for com qualquer um dos realizados em edições anteriores da Festa. E o que há de mais próximo, só mesmo o acto onde o Secretário-geral do PCP oficializa a abertura da Festa com a habitual saudação aos visitantes. O que significa que é na Festa do Avante!, e logo no mesmo fim-de-semana, que têm lugar os dois maiores comícios que anualmente se realizam em Portugal. Realidade insofismável que, por incomodar tanto os poderosos, explicará muito sobre as motivações dos que apostam na ocultação informativa da Festa ou em campanhas sujas de detracção.

Evento inigualável

Mas a individualizar esse ponto alto que foi o comício, tornando-o único, como única é a Festa enquanto construção colectiva erguida pelas mãos dos militantes comunistas - «homens e mulheres que a constroem de alma e coração», nas palavras de Jorge Palma, proferidas entre dois temas poucas horas depois no grande concerto com que encerrou o Palco 25 de Abril -, não esteve apenas o seu carácter de massas ou a sua atmosfera simultaneamente festiva e combativa.

Distintivo, ainda, foi o modo como aquela gigantesca massa humana - que transbordou do grande círculo tangente ao Palco 25 de Abril e ocupou literalmente toda a área envolvente, incluindo as vias adjacentes que nela desaguam - acompanhou todos os momentos do comício, numa interacção permanente que ganhava particular visibilidade ora no silêncio atento com que foram

seguidos os três oradores (intervenções que publicamos na íntegra) ora no entusiástico aplauso ou nas ritmadas palavras de ordem com que foram sublinhadas passagens dos discursos.

Assim aconteceu, por exemplo, na intervenção do jovem comunista Francisco Araújo, quando eclodiu o grito de «Paz sim, guerra não», em resposta à sua referência à agressão imperialista contra os povos.

Não menos forte soou «Assim se vê a força do PCP» no exacto momento em que Manuel Rodrigues, director do Avante!, falando da Festa, a definiu como uma «exaltante expressão do ideal e projecto comunista», ou, em diferentes momentos da intervenção do Secretário-geral do PCP, entre outros, quando sublinhou que «precisamos de um Partido preparado para continuar a cumprir o seu papel. Precisamos de um PCP mais forte», ou quando no final afirmou «sim, a luta continua!»

Entusiasmo e confiança

E foi assim desde que Ana Gusmão, aberto que foi o comício, chamou ao palco as delegações internacionais. Sempre sob fortes palmas e um mar ondulado de bandeiras vermelhas, seguiu-se a entrada dos membros da direcção da Festa e da JCP, do Comité Central do PCP, da Comissão Central de Controlo e do Secretariado e Comissão Política do Comité Central e, por fim, em tom ainda mais vibrante, do seu Secretário-geral, Jerónimo de Sousa.

Ambiente entusiástico e de expectativa que era observável bem antes do início do comício, designadamente entre os participantes dos desfiles que, partindo de diferentes pontos do recinto, rumaram em direcção ao coração da Festa, fazendo ouvir a sua voz em palavras de ordem ou em panos onde sinalizavam razões que justificam as lutas de todos os dias.

Lutas contra o que está mal e errado, pelo que é justo e necessário, que eram igualmente identificadas em largas faixas entre os postes que delimitam o perímetro da área adjacente ao Palco, como aquela em que se chamava a atenção para a importância de «valorizar o trabalho e os trabalhadores», ou para a que lembrava que a «saúde é um direito, não é negócio», tal como a habitação o é, e, por isso, nela se exigia a «revogação da lei dos despejos».

Ou, ainda, para a que relevava a necessidade de dar «mais força ao PCP», porque essa é também uma condição imprescindível para concretizar a «política patriótica e de esquerda» de que o País tanto precisa.

Porque só essa política alternativa, como sublinhou Jerónimo de Sousa no seu discurso em que analisou com detalhe a realidade política nacional e internacional, permite responder aos problemas estruturais do País, acumulados por décadas de política de direita, assegurar o nosso desenvolvimento soberano, garantir a «defesa do regime democrático com o aprofundamento dos direitos, liberdades e garantias, combatendo a corrupção e concretizando uma justiça independente e acessível a todos».

Ao cair do pano, ouvidos os hinos, a alegria de que falámos atrás adquiriu uma expressão ainda maior e quase telúrica: aos seus primeiros acordes, o som poderoso e mágico da Carvalhesa fez libertar os corpos numa arrebatadora dança colectiva, que não deixou ninguém indiferente.




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