A escolha

Anabela Fino

O resultado da primeira volta das eleições gerais no Brasil é um caso de estudo e um sério aviso às democracias ditas representativas. A votação no candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro, sendo o aspecto com maior repercussão mediática, remeteu para segundo plano uma realidade que está longe de ser irrelevante: o descalabro eleitoral do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

Os 46% dos votos alcançados por Bolsonaro a 7 de Outubro causaram perplexidade e interrogações. Como é possível que um candidato com posições declaradamente fascistas, homofóbicas, racistas, xenófobas e machistas, e que graças a um muito estranho atentado disputou as eleições sem um único confronto directo com os seus adversários, tenha congregado tanto apoio para si e para o seu partido, o Partido Social Liberal (PSL), que nestas eleições se tornou no segundo maior em número de eleitos na Câmara dos Deputados, logo atrás do PT?

A resposta a esta questão, não sendo linear, não pode ser dissociada da história do Brasil desde o fim da ditadura militar e dos partidos que governaram o país desde então: o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, o PMDB de Michel Temer e o PT de Lula da Silva. Não por acaso, os inúmeros casos de corrupção que atingiram aqueles partidos e a profunda crise económica em que o Brasil está mergulhado foram apresentados como tendo um único responsável, o PT. E no entanto, nestas eleições, assistiu-se a uma clara transferência de votos do PSDB e do PMDB para o PSL.

É sintomático que Gerald Alckmin (candidato do PSDB) tenha recolhido apenas cerca de 5% dos votos, enquanto o candidato do PMDB, Henrique Meirelles, pouco foi além de 1%.

Não menos sintomático é o facto de o PMDB, embora mantendo a maior bancada no Senado, ter perdido 40% da sua representação, passando de 18 para 12 senadores, e ter reduzido para metade (de 66 para 33) a sua representação na Câmara dos Deputados. Já o PSDB perdeu quatro senadores e passou de 54 para 29 deputados.

Enquanto isso, Jair Bolsonaro colhe o apoio da «bancada BBB» que domina o Congresso: armamentistas (da bala), agrários (do boi) e evangélicos (da bíblia), as forças mais reaccionárias e conservadoras do Brasil. A mesma «bancada», lembre-se, que com a prestimosa ajuda de Eduardo Cunha teve um papel determinante no processo de destituição da presidente Dilma Rousseff.

O Brasil está dividido, sim, mas entre os que querem recuperar e expandir os seus privilégios – o programa de Bolsonaro, aplaudido pelo capital, assenta em privatizações e destruição das conquistas sociais – e os que com os governos do PT foram pela primeira vez tratados como cidadãos de pleno direito. Na segunda volta das presidenciais, dia 28, muitas máscaras vão cair na escolha entre fascismo e democracia.




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