- Nº 2358 (2019/02/7)

Mérito Cultural para Manuel Gusmão

Nacional

MEDALHA O Governo português entregou, anteontem, a Medalha de Mérito Cultural a Manuel Gusmão, militante do PCP, poeta, ensaísta e professor universitário.

Politicamente activo desde os tempos de estudante, Manuel Gusmão foi membro do Comité Central do Partido, entre 1979 e 2016, e eleito deputado à Assembleia Constituinte, em 1975, e à Assembleia da República, em 1976. Dirige, desde o primeiro número, a revista Caderno Vermelho, da Organização Regional de Lisboa do PCP.

Na sessão estiveram presentes, entre muitos outros dirigentes e membros do Partido, Jerónimo de Sousa, Secretário-geral.

Na biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, a cerimónia abriu com a leitura do poema «Poesia e Resistência», do livro «A Foz em Delta», de Manuel Gusmão, pela actriz Fernanda Lapa. Ana Gusmão, filha do galardoado, leu um inédito do pai: «Por uma Teoria da História».

Militância cultural e política

O homenageado salientou que aquela distinção é um «reconhecimento» da sua «militância cultural» que se funde, aliás, com a sua «militância política».

Perante uma plateia numerosa, fez questão de salientar que, em 2011, foi um dos primeiros signatários do Manifesto em Defesa da Cultura. «O objectivo ai enunciado de atribuir 1% do Orçamento do Estado à Cultura, que devia transformar-se em 1% do PIB (Produto Interno Bruto) no fim de uma legislatura, nunca o tomei como uma manobra táctica, nem como um mero slogan. Exprimia um protesto e procurava provocar um sobressalto colectivo com a situação de desastre para que se encaminhava a cultura e respondia a um apelo da UNESCO», recordou.

Graça Fonseca, ministra da Cultura, encerrou a sessão. Reconheceu a «extraordinária mistura» entre «a militância e o escrever» de Manuel Gusmão, que o distinguem.

Depois de Eugénio de Andrade (2004) e de António Ramos Rosa (2006), Manuel Gusmão torna-se o terceiro poeta a receber a Medalha de Mérito Cultural.

 

Então o quê?

Alguém está diante de uma porta

Fechada. Estendo as mãos e não sei

se os ruídos que oiço do outro lado

dessa porta são sinais de guerra ou de paz

 

Duas mil e quinhentas crianças hispânicas

retiradas às famílias e armazenadas

na fronteira dos States, uma maneira

de consolidar os direitos humanos?

 

Onde vão ser entregues os refugiados do

Afeganistão, da Líbia e da Síria?

 

Quantas crianças adubam hoje os campos

de Gaza, no processo de se tornarem fantasmas?

 

Excerto do poema «Uma Teoria da História»